quinta-feira, 26 de outubro de 2017

LIBRA (5)



 TISBE   E   PÍRAMO   ( MOSAICO   ROMANO )

Uma das mais belas histórias que devemos associar ao mundo libriano é a de Píramo e Tisbe. A sua origem pode se rastreada na antiga Babilônia e a versão que prevaleceu foi a que Ovídio nos deixou nas Metamorfoses. Contra a vontade das respectivas famílias, os jovens se amavam ardentemente. Conseguiam manter contacto através de uma fenda no muro que separava as propriedades em que viviam. Com muita dificuldade, certa feita, marcaram um encontro noturno, fora da cidade, junto do túmulo de Nino, o fundador mítico de Nínive e do império babilônico, no local onde havia uma amoreira. 

Tisbe foi a primeira a chegar. Assustou-se quando viu um leão se aproximar de uma fonte próxima do local. Na fuga, deixou cair a sua écharpe. O animal, com os beiços ainda ensanguentados (acabara de devorar uma corça), estraçalhou o lenço da jovem, deixando nele muitas marcas de sangue. Pouco depois, o animal visto já ao longe, Píramo chegou; diante dos restos da écharpe, concluiu que a sua amada havia sido devorada. Totalmente
AMOREIRA
descontrolado, sacou um punhal e se matou. Tisbe, porém, resolveu voltar ao local e se deparando com o corpo do amante, matou-se também com o punhal dele. Os frutos da amoreira, de brancos que eram, tingiram-se, desde então, de vermelho diante de tanto sangue derramado. Vêm dessa história inúmeras restrições que acompanham a amoreira. Uma delas: para não conhecer um destino tão trágico como o dos dois jovens da Babilônia, encontros amorosos nunca deverão se dar sob ou na proximidade de amoreiras. 

ZEUS  E  HERMES  NA  CASA  DE  BAUCIS  E  FILEMON
(  PHILIP  GYSELAER , 1620 - 1650 )

Uma outra ilustração libriana pode ser encontrada na história de Baucis e Filemon. Ela era uma frigia, casada com um camponês muito pobre. Um dia, em visita à terra, Zeus e Hermes, disfarçados como mendigos, passando pela vila em que morava o casal, foram escorraçados pelos seus habitantes. Apenas Baucis e Filemon, apesar de sua grande pobreza, os acolheram. Os deuses, tocados por tão grande gentileza, revelando-se então, sugeriram que eles fizessem um pedido, com a promessa de atendê-lo. Pediram para morrer juntos, pois um não suportaria a morte do outro. Passaram-se os anos e quando morreram, juntos como o prometido, eles foram transformados numa árvore de um só tronco. Esta história era contada em antigos círculos astrológicos para se falar do signo de Libra, destacando-se através dela que o amor feliz e duradouro é feito de humildade, de paciência, de tolerância mútua e de ternura, de exigências medidas e de aceitação tranquila dos limites e das provas trazidas pela vida, tudo evidentemente fora do mundo passional que, aliás, não é de Libra. 


PIGMALEÃO   E   GALATEIA
JEAN - LÉON  GÉRÔME , 1824 - 1904 )
Uma outra história sempre associada ao signo de Libra é a de Pigmaleão e Galateia. Além de rei de Chipre, Pigmaleão era incomparável escultor. Jamais conseguindo se ligar a mulher alguma, achando-as todas desinteressantes, feias, indignas de seu amor, resolveu esculpir uma, que seria a mais bela de todas as criaturas. Assim fez, dando-lhe o nome de Galateia (branca, transparente, em grego). Era ela perfeita, faltando-lhe apenas a palavra e a visão. Amou-a perdidamente. Suplicou a Afrodite que lhe desse vida, pois queria acariciá-la, amá-la, torná-la humana, desejosa e desejável. Ou seja, astrologicamente, passar da abstração de Libra como signo de ar à dimensão terrestre, carnal, da alma. Talvez sem o saber, Pigmaleão estava tentando superar aquilo que talvez seja a danação de Libra, a sua recusa ou dificuldade para se encarnar, sempre uma grande dificuldade para viver devido à grande dependência do “outro”. Libra é realmente o signo que antes de tudo mais sonha o amor do que o vive, pedindo sempre sentimentos sublimes, adjetivo que, como sabemos, é ligado ao elemento ar.

JEAN   BURIDAN
Uma das histórias mais interessantes que podemos  também ligar ao signo de Libra nos vem da filosofia. É o famoso argumento do asno de Buridan. Jean Buridan, filósofo escolástico francês (1300-1358), ligou seu nome a uma história por ele criada: um asno que, sedento e faminto, encontrando-se a igual distância de um cocho com feno e de uma tina com água, não conseguia se decidir, escolher. Este argumento foi usado por Buridan nos seus cursos tanto contra os partidários do determinismo (para os quais o asno morreria de fome e de sede, o que pareceria viável) como contra os partidários das teses do livre-arbítrio (que consideravam o animal  dotado de uma liberdade que poderia levá-lo à indiferença). O asno, incapaz de decidir entre beber primeiro e comer depois, ou vice-versa, incapaz enfim de fazer uma escolha, permaneceu imóvel entre os dois estímulos. Esta história é, acredito, uma boa ilustração da conhecida incerteza inibitória libriana. Impulso e inibição, desejo e medo, ímpeto e recuo.

LAMED
Entre os judeus, o signo de Libra é o mês de Tishrei, tendo relação com a letra lamed, a mais “alta” das letras do alfabeto hebraico, cujo valor numérico é trinta. Além do mais, a forma dessa letra é parecida com a de uma balança. O signo que sobe neste mês indica que nele é chegado o tempo da avaliação das ações humanas. A tribo relacionada com o signo é a de Ephraim, o segundo filho de José e de Asenath (aquela que pertence à deusa Neith; segundo o Gênese, ela era a esposa egípcia de José), filha do sacerdote de On, que o patriarca Jacó adotou no momento de sua morte. A tribo de Ephraim possuía o centro da região montanhosa do país de Canaã. Depois da divisão do reino, Ephraim foi o inimigo mais poderoso de Judá (quarto filho de Jacó) e a principal tribo do reino do norte.

Na tradição judaica, o nome deste mês, Tishrei, indica que ele marca o início de um ano novo porque ele contém as mesmas letras que a palavra que designa o começo (bereshit, Gênese). O significado da palavra Tishrei em aramaico é reconciliação, reparação. Isto quer dizer reparação de ações do passado que irão permitir que uma pessoa vire as páginas do livro de sua vida. A letra lamed simboliza a sublime oportunidade que este mês oferece para que uma pessoa possa ir das profundezas do pecado à maior altura espiritual, pondo sua vida em ordem e reajustando o seu coração. Aliás, segundo algumas tradições, a letra lamed quer dizer lev (coração). Tishrei marca o fim da primeira metade do ano (que começa com Nissan (Áries). É considerado como o coração do ano assim como o coração recebe e distribui a energia espiritual pelo período anual em sua totalidade. 

A natureza essencial deste signo, o acasalamento, é a íntima relação entre marido e mulher, o que simboliza também que foi nesse período que ocorreu a unificação entre Deus e o povo judaico. Isto

é especialmente revelado pelo Yom Kipur, que cai no dia dez de Tishrei, quando as duas Tábuas, contendo os dez mandamentos foram dadas a Israel. O Yom Kipur, como se sabe, é celebrado como o “dia da expiação”, o mais sagrado do calendário judaico, marcando o fim dos dez dias de penitência. Na antiguidade era o único dia em que o sumo sacerdote entrava no “Santo dos Santos” (a área mais sagrada do tabernáculo e do templo) e um bode expiatório, carregando os pecados de Israel, era enviado a Azazel, no deserto, a um penhasco de onde o animal era lançado, carregando assim os pecados de Israel. Embora o nome Azazel se refira a um lugar, ele também designava entre os judeus um demônio ou anjo caído.



GUERRA  ( MARC  CHAGALL , 1887 - 1985 )

O bode, lembremos, em todas as tradições sempre foi considerado como um símbolo do fogo genésico, do fogo sacrificial, de onde nasce a vida. Esta carga simbólica tem evidente relação com o signo de Áries e com o planeta Marte. Não é por outra razão que o bode, na mitologia hindu, é montaria do deus Agni. Em várias culturas, na greco-romana principalmente, era da figura do bode que saía a base teriomórfica de sátiros, silenos, faunos, egipãs e de outros seres que ficavam entre o humano e o animal, divindades campestres, companheiras do deus Pã, todos amantes de ninfas e de jovens mortais de ambos os sexos. Eram representados por pequenos seres humanos barbudos, muito fortes, peludos, com pequenos chifres, orelhas pontiagudas, cauda, e um membro viril descomunal. 


MOISÉS   E   DEZ   MANDAMENTOS
 ( REMBRANDT , 1606 - 1669)

A concessão do Decálogo é considerada como um “presente de núpcias”, da união do povo de Israel com Deus, um presente semelhante ao que o marido dá à mulher quando de sua união. Esta aceitação do Decálogo transformou Israel numa nação religiosa, abençoada, alçando-a à condição de “cabeça” dentre todas as demais, isto é, a que deve guiar todos os povos na direção do divino.    

As pessoas nascidas no mês de Tishrei costumam apresentar uma disposição natural para viver harmoniosamente com os outros.
ROSH  HA - SHANÁ
( MARC  CHAGALL , 1887 - 1985 )
Refinamento e abertura espiritual são comuns nos do signo já que é no primeiro e segundo dias de Tishrei que se comemora a festa do ano novo judaico (Rosh ha - Shaná, “cabeça do ano”). Segundo a tradição, foi nessa data que Deus criou Adão, o primeiro homem. Rosh ha - Shaná é também conhecido como o Dia do Julgamento, pois dá início a um período de julgamento para a humanidade, que termina em Hoshaná Rabá, quando Deus senta em seu trono e determina o destino de cada indivíduo no ano que se inicia. Três livros são abertos no céu, um para os verdadeiramente justos, um para os verdadeiramente iníquos e outro para os que não se enquadram nas duas categorias mencionadas. Os judeus acreditam que com orações e arrependimento sincero, nos dez primeiro dias do mês, seus nomes venham a ser inscritos, para o ano seguinte, no livro dos justos. É por isso que eles costumam se cumprimentar com as seguintes palavras: Que teu nome seja inscrito no livro dos justos para que possas gozar de um bom ano. Sopra-se o shofar a fim de se despertar os pecadores para o arrependimento. Nesta cerimônia são consumidos alimentos em razão de seu simbolismo positivo, alimentos que trarão influências benéficas, como a cabeça de animais, inclusive de peixes, para que a pessoa durante o ano vindouro possa viver como “cabeça” e não como “cauda”, ou seja, que viva como um vencedor e não como um perdedor. 

RABI COM TORÁ (MARC  CHAGALL)
As pessoas nascidas sob a influência de Tishrei costumam enfrentar muitas dificuldades quando da tomada de decisões. Se se voltarem, porém, para os ensinamentos da Torá, poderão superar tais dificuldades, encontrando o foco naquilo que é mais importante para elas. Esta tendência à vacilação que as pessoas nascidas em Tishrei se deve ao elemento ar, elemento que os do signo compartilham com os nascidos em Sivan (Gêmeos) e Shevat (Aquário). No 22º dia do mês de Tishrei é celebrado Simchat Torah, o dia do recebimento da Torá. Lembram os astrólogos que o elemento ar deste signo é composto por um balanceamento entre o fogo e a água, elementos que são naturalmente opostos. As relações de complementaridade entre José e Judá são indicadas pela aproximação entre Nissan (Áries), da tribo deste último, e de Tishrei (Libra), que é de Ephraim, filho de José, como já se viu.    

O corpo celeste que rege Tishrei é o planeta Vênus, que tem a ver tanto com o amor quanto com as paixões, conforme esclarece o
TALMUD
Talmud. Estes sentimentos são expressos no calendário judaico no festival de Sukot, que começa no dia quinze do mês, na Lua cheia. O festival tem a duração de oito dias. No último dia, Deus e o povo de Israel se unem como marido e mulher, matrimonialmente. O festival de Sukot (tabernáculos, em hebraico) é uma das três grandes celebrações relacionadas com a peregrinação ou festas da colheita. 

Sukot começa no dia 15 de Tishrei, após a colheita anual, sendo considerada a mais feliz das festividades bíblicas. Comemora-se a generosidade de Deus, simbolizada pelas frágeis cabanas que os judeus habitavam no deserto. Durante o Sukot, os judeus moram e comem nessas cabanas (tabernáculos). São usados quatro vegetais nesse festival: a palmeira, uma fruta cítrica, o salgueiro e a murta (Levítico, 40.23). Eles são brandidos para celebrar a generosidade divina ao fim da estação da colheita, simbolizando os diferentes tipos que constituem uma comunidade judaica. A palmeira dá fruto, mas não tem odor agradável; é usada para representar o judeu que estuda a Torá, mas que não cumpre os seus mandamentos; a murta tem cheiro agradável, mas não dá frutos; o salgueiro não dá frutos nem cheira; a fruta cítrica, isto é, o etrog, dá frutos e tem odor.  Os judeus dão o nome de etrog a uma fruta cítrica, da família do limão, da lima e da toronja, usado exclusivamente para fins religiosos, representando também o coração humano; seu forte aroma afasta insetos e seus caroços neutralizam venenos e dão um hálito agradável.

A constelação de Libra estende-se de 7º a 28º de Escorpião. Ptolomeu considerou as estrelas desta constelação através das Pinças de Escorpião, vendo nelas influências semelhantes às de

Júpiter e Mercúrio; já as estrelas situadas no meio das Pinças atuariam como Saturno e, menos, como Marte. No Tarot, lembremos, o signo de Libra aparece associado ao arcano 8, a Justiça. Com ele tem início o segundo septenário do Tarot, significando isto a predominância do reino do equilíbrio, da ação que deve ser empreendida independentemente dos compromissos pessoais. Nas mãos da Justiça, temos a espada e a balança. O simbolismo da Justiça põe em relevo a união harmoniosa das forças opostas, união que deve ser buscada sobretudo interiormente. 





A estrela mais brilhante (alfa) de Libra é Zuben Elgenubi (prato sul), seguindo-se, em grau de importância,  Zuben Eschamali (prato norte), beta, e Zuben Hakrabi, também chamada de Graffias, não considerada astrologicamente. O nome da primeira é uma tradução para o árabe da designação grega ptolomaica (Chele Notos, Pinça do Sul); está situada a 14º 23´ de Scorpio. O nome da segunda é também uma tradução para o árabe da designação ptolomaica (Chele Boreios, Pinça do Norte); está situada a 18ª 40´ de Scorpio.

Ambas as estrelas têm a ver, ao que parece, segundo a tradição astrológica mais consequente, muito mais com questões sociais, com reformas e propostas de justiça do que com problemas pessoais nesta área. A diferença entre elas está, porém, no fato de Eschamali unir, gerar envolvimentos sociais e vantagens, ganhos ou promoção pessoal, enquanto com relação a Elgenubi estas últimas
JOHN   LENON , 1940 - 1980
tendências não costumam se verificar. A orientação de ambas está, como se disse, voltada para o social, para a atuação através de grupos, indo (dependendo de posição e aspectos) desde formas mais intensas de ativismo e engajamento a formas mais suaves (clubes, hobbies etc.). Mapas como os de Martin Luther King, John Lenon, de Karl Marx e Jean-Paul Sartre poderão ser estudados para se conhecer melhor a influência das referidas estrelas.