quinta-feira, 2 de março de 2017

TOURO (4)



AS   PLÊIADES

As Plêiades, para os povos que vivem na região equatorial da Terra, têm grande visibilidade, razão pela qual sempre foram notadas de modo especial pelos índios do norte do Brasil. A sua importância crescia para eles porque esse grupo de estrelas costumava aparecer no período em que os primeiros sinais da descida das águas se faziam sentir. Coincidia também o seu aparecimento nos céus com a época de muda dos pássaros e com o renascimento periódico da vegetação. Isto queria dizer que o aparecimento matutino das Plêiades em junho, antes do nascer do Sol, anunciava a chegada da primavera. Segundo uma lenda tapuia, tudo então começava a se renovar. As Plêiades marcavam para os índios o começo do ano e o início do ciclo das estações. Foi, sem dúvida, o mais importante objeto celeste para eles.

MÁRIO  DE  ANDRADE
( LASAR  SEGALL )
Mário de Andrade colocou em Macunaíma duas histórias ligadas às Plêiades, colhidas na obra de estudiosos da cultura indígena. As Plêiades, com Aldebarã e uma parte de Orion formam para os nossos índios do norte a figura do perneta Jilicavaí, índio da tribo dos Taulipangue que, depois de ter a perna amputada, se despede da Terra e vai para o céu, onde se transforma nas Plêiades. Outra versão sobre a origem do grupo de estrelas de Touro se refere a uma lenda caxinauá. Macunaíma era uma entidade divina para muitas tribos ameríndias,

criador dos animais, das plantas e dos humanos. Uma figura zombeteira, cheia de astúcia e maldade, generosa e boa, e, por outro lado, alegre, inventiva, também uma espécie de herói e, ao mesmo tempo, divindade, só que inteiramente despida dos atributos de seriedade e transcendência. Na história, a bela Iriqui é desprezada por Macunaíma; ela pede então a seis araras-canindé que a conduzam para o céu. Lá chegando, ela e as araras serão transformadas nas Plêiades ou Setestrelo. 

Outra lenda indígena sobre as Plêiades dá a elas o nome de Ceiuci, uma fada indígena que vivia devorada por uma fome sem fim.
JURUPARI
Virgem, mas com um filho (Jurupari), ela foi conduzida por ele aos céus, transformando-se nas Plêiades. Jurupari foi concebido pela virgem quando o sumo de uma planta (curura-do-mato) escorreu pelo seu ventre. Esse foi um meio que Coaraci, o Sol, encontrou para fazê-la gerar um herói, com traços muito semelhantes aos que encontramos em muitos deuses, avatares, heróis civilizadores e profetas salvadores ligados ao patriarcado, como Mitra, Buda, Dioniso, Hércules, Krishna e Cristo, um herói que deveria corrigir todos os defeitos e males do mundo. Deveria ele também rebaixar o poder das índias (fim do matriarcado ?), o que de fato fazia parte da sua ação no mundo,  e estabelecer uma série de cultos e ritos sagrados dos quais só os homens puderiam participar. Um simples ruído desses cultos e ritos, que alguma mulher ouvisse, bastaria para matá-la. Foi o que aconteceu com Ceiuci. Embora soubesse do perigo, tentou participar de um desses cultos. Morreu inapelavelmente. Não podendo lhe restituir a vida, Jurupari a levou para os céus, onde ela se transformou no grupo de estrelas que os índios chamam de Ceiuci. 

Todo o regime das chuvas da América Tropical, que situamos aqui mais ou menos entre as latitudes 12º N e 25º S, tem relação com as Plêiades. A desaparição dessas estrelas em maio e o seu reaparecimento em junho, na Amazônia, por exemplo, dá origem, embora o período seja muito curto, a muitos mitos e histórias, cada tribo fazendo a sua leitura do céu, uma leitura que envolve principalmente as Plêiades, as Híades e as constelações de Orion e de Touro. Dentro desse universo, ainda a ser explorado
CLAUDE-LÉVI  STRAUSS
astrologicamente (astronomicamente ele vem sendo), apesar de alguns avanços na etnoastronomia, podemos adotar, assim entendo, as seguintes etapas indicadas por Claude-Lévi Strauss na sua magnífica obra: 1) armadura – conjunto de propriedades que se mantêm invariáveis em dois ou mais mitos; 2) código – o sistema das funções determinadas por cada mito a estas propriedades; 3) mensagem – o conteúdo de um mito particular (lembremos que cada tribo tem o seu).

 HISTOIRE DE LA MISSION
As mais antigas informações que temos sobre o céu dos nossos índios, ao que parece, estão num livro editado em 1614, na França, com o nome de Histoire de la Mission des Pères Capucins en l'Isle de Maragnon et terres circonvoisines où est traicté des singularitez admirables & des moeurs merveilleuses des Indiens habiants de ce pays. Seu autor foi o padre Claude d'Abbeville, que veio para o Brasil com a missão, a segunda, que procurava aqui estabelecer uma colônia francesa, a chamada France Equinoxiale.

No seu texto, o padre Claude d'Abbeville dá especial destaque às

Plêiades, às Híades e às constelações de Touro e Orion, muito conhecidas, evidentemente sob outros nomes pelos nossos indígenas. No início do ano 2.000 foi publicado na França um livro sobre a missão francesa acima mencionada: Les Singularités de la France Equinoxiale. Histoire de la mission des pères Capucins au Brésil (há tradução brasileira), de Andrea Daher.

FRANÇOIS CARYPYRA

Sabe-se pelo texto acima que o padre d'Abbeville retornou à França acompanhado de seis "embaixadores" tupinambás. A publicação do livro do padre capuchinho foi acompanhada da espetacularização da presença dos indígenas em Paris. Celebraram-se várias cerimônias, inclusive a recepção dos indígenas no Louvre pelo rei Luis XIII e pela rainha, durante a qual foram eles batizados, recebendo nomes franceses, tudo tendo em vista o incentivo para uma possível emigração de franceses para a França Equinocial. 

GERMANO   BRUNO   AFONSO

No Brasil, há um trabalho excepcional sobre o céu dos nossos índios, classificado como Arqueoastronomia, mas que compreende também a chamada etnoastronomia (cujos resultados, na prática, muito a aproximam da astrologia, no meu entender) conduzido, dentre outros, pelo professor e pesquisador Germano Bruno Afonso.  Por esse trabalho, podemos tomar conhecimento de como os nossos índios redesenharam o céu segundo a sua cultura para nele projetar as suas tradições e sabedoria, como aliás o fizeram todos os povos. Daí as espantosas semelhanças, apesar de tão distantes no tempo e no espaço, que encontramos entre as representações celestes de nossos índios e aquelas dos povos  da Ásia Menor e do Mediterrâneo. O realce  do ponto de vista dos nossos indígenas, na forma proposta pelo professor Germano, mais a recuperação de seus mitos, histórias e lendas, nos conforta e gratifica nestes brutos tempos.


CONSTELAÇÃO   DO   HOMEM   VELHO

Segundo os tupinambás, exemplificando, a sua  constelação do Homem Velho representa nos céus uma antiga e importante história da sua cultura: a de uma esposa que, interessando-se pelo cunhado, matou o marido já velho, cortando-lhe uma perna. Os deuses, com pena do marido morto, o colocaram nos céus. A constelação do Homem Velho é formada por parte das constelações ocidentais do Touro e de Orion, dela fazendo parte dela também os asterismos das Plêiades e das Híades. As Plêiades, chamadas de Vespeiro (Eixu), que ficam na cabeça do Homem Velho, quando visíveis nos céus, indicam a chegada da estação das chuvas para os índios do norte. Para os índios do sul,  o início do verão.


CONSTELAÇÃO   DO   TINGUAÇU
Outro exemplo: segundo o padre d'Abbeville, a constelação do Tinguaçu, mensageira das Plêiades, que anuncia o seu aparecimento nos céus, ocupa uma região entre Touro, Áries e Perseu. O corpo da ave fica na primeira constelação, o pescoço, a cabeça e o bico na segunda, os pés ficam
TINGUAÇU
em Perseu e a cauda nas Híades. O tinguaçu (nas línguas indígenas, nariz grande), é chamada de Alma de Gato Branca, também denominado Alma Perdida ou Alma de Caboclo; seu canto se assemelha ao gemido de um gato. É ave muito encontrada nas Américas (Brasil, Bolívia, Paraguai etc.) sendo os pântanos subtropicais o seu habitat natural.   



PINDORAMA
Considerando-se que aquilo que os historiados chamam de descoberta do Brasil não passou na realidade de uma invasão, os indígenas brasileiros, segundo essa perspectiva, vêm sendo caçados e exterminados desde que Portugal invadiu Pindorama (designação  que os indígenas brasileiros davam ao seu território) no século XVI, em nome de uma ocupação colonial predadora, que se completava com uma perversa catequese religiosa. Hoje, tidos como inimigos do progresso pela elite econômica, pelo agronegócio, pelas madeireiras e por um grande número de políticos safados, acelera-se entre nós a destruição das sobras desse mundo indígena. Suas tradições e costumes, um imenso e rico patrimônio desprezado inclusive pela maior parte de nossas universidades  e pela omissão dos governos que se sucedem. Salve, professor Germano!

A constelação de Touro estende-se de l7º Touro a 23ª Gêmeos. Ptolomeu atribui às estrelas próximas da cabeça (exceto Aldebarã) influências saturninas e parcialmente mercurianas; as que estão nas pontas dos chifres, influências marcianas; as demais, de Vênus e de
PLUTARCO
Saturno. O astrônomo e poeta Marcus Manilius (séc. I dC) apelidava a constelação de Dives Puellis (Rica em Donzelas), uma clara referência às Plêiades e às Híades, grupos de estrelas que dela fazem parte. Plutarco escreveu em seu De Facie Orbe Lunae que quando o planeta Saturno passava pela constelação de Touro a cada 30 anos mais ou menos ocorria uma migração em direção da Bithynia. 



A principal estrela de Touro é Aldebarã, alfa, hoje a 9º 05´Gêmeos. Era a Al DabaranA Seguinte, uma das quatro estrelas reais dos persas, desde 3.000 aC. Está no olho direito (sul) do Touro e tem características marcianas. Era chamada também de a Guardiã do Leste, marcando o equinócio vernal. Os árabes também a chamaram de Al Fanik, (Camelo Macho). Confundia-se Aldebarã com o deus Mitra ou Ahura Mazda (Sábio Senhor ou Adorador da Estrela), principal deus do
AHURA   MAZDA
Mazdeísmo. Tomando-o por fundamento, o profeta Zaratustra estabeleceu a sua reforma religiosa e política na antiga Pérsia. É o criador universal e guia dos homens em direção do Bem. Está sempre rodeado por seis entidades (
Amesha Spenta). Posteriormente, sob o nome de Ohrmazd, trava combate com seu irmão gêmeo Ahriman, príncipe do Mal.

Com Aldebarã em evidência num mapa astrológico, há propostas de sucesso, de vida íntegra, mas sempre com ameaças e desafios. O fracasso diante destes desafios, leva ao “fogo”, à perda de tudo. Dilemas morais, crises, decisões difíceis costumam se apresentar. Outra estrela taurina é El
TOURO
Nath, a 21º 53´Gêmeos, beta. Situada no chifre norte (Al Natih, em árabe, a da ponta ou a que fere ou que mata). É a ponta do chifre voltada para o ataque. É arma destrutiva de grande poder. O mapa de Henry Kissinger, o Secretário de Estado americano, por exemplo, na década de 1.960 e 1.970, pode ser usado para estudo das influências de El Nath. As influências de El Nath podem ser sentidas em circunstâncias onde se apresente o “tudo ou nada”, o uso da violência física, militar, verbal etc. Outro mapa interessante para o estudo de El Nath é o de Donald Trump, presidente dos USA. Ele tem o ascendente em Leão, com Marte conjunto; o Sol em Gêmeos, com Al Nath em conjunção, em oposição à Lua, em Sagitário. Vale ainda lembrar que Trump tem Algol, a chamada Caput Medusa, uma das estrelas mais perigosas e violentas do céu, da constelação de Perseus, em conjunção com o o seu meio-do-céu. 

O asterismo (cluster) das Plêiades, situado nos “ombros” do animal, está hoje no final da constelação de Touro, podendo ser tomada a longitude de sua principal estrela (Alcyone) como referência para se situá-lo, 29º 18´ de Touro. Além de Alcyone, temos mais seis estrelas: Maia, Electra, Mérope, Taigete, Celeno e Estérope. Este grupo de estrelas, desde a pré-história, alimentou a criação de vários mitos nas mais diversas civilizações em todos os continentes. Na Babilônia, o seu nascimento heliacal marcava o começo do ano.

Foi por causa das Plêiades que o número quarenta começou a fazer parte de várias tradições. Esse número como sabemos era usado ritualmente no mundo judaico-cristão e islâmico para definir períodos de tempo significativos, especialmente períodos de preparação ou prova espiritual, purificação, penitência, espera, jejum ou segregação. A explicação estava no fato de os astrônomos babilônicos terem associado as catástrofes naturais, sobretudo tempestades e cheias,  a um período de quarenta dias durante a primavera, quando desaparecia o grupo das Plêiades no céu.  Evidentemente, o número desde então foi mais usado simbólica do que exatamente. Ajustava-se o número com a ideia de que os mortos levam quarenta dias para desaparecer completamente. Quarentena e purificação, desde então, caminharam juntos. O Dilúvio, assim, durou quarenta dias; Moisés ficou ouvindo Deus no Sinai durante quarenta dias e quarenta noites; David e Salomão governaram, cada um, quarenta anos; Cristo jejuou durante quarenta dias no deserto; o deus Osíris, no Egito,  desapareceu por quarenta dias...

KARTIKEYA ( SÉC.VI )
As Plêiades, com Alcyone (A Paz), a mais importante à frente, sempre foram vistas como uma espécie de Sol central da Via Láctea. Os babilônios as chamavam de “Pedra Fundamental”; os árabes, de “Centro”, os hindus, de “Mãe” (eram, no mito, as amas do deus Kartikeya, divindade da guerra, o planeta Marte). A sua importância vem obviamente de terem elas marcado desde o terceiro milênio (era de Touro) o equinócio da primavera. O nome da primeira mansão do Zodíaco lunar chinês é o das Plêiades (Mão). Em muitas culturas (Polinésia, Peru, Grécia etc.), elas são consideradas como tutelares da atividade agrícola. 

No mito grego, as Plêiades têm seu nome associado tanto ao substantivo pomba (peleia) como ao verbo navegar (plein). No primeiro caso, por terem sido transformadas em pombas para escapar da perseguição do gigante Orion. No segundo, porque eram estrelas que marcavam para os gregos os períodos mais favoráveis à navegação (março-novembro). Eram filhas do titã Atlas e de Plêione, uma oceânida. Todas as Plêiades, no mito, se uniram a deuses, com exceção de Mérope (nascida do solo), que se casou com um mortal, Sísifo, rei de Corinto, e de cuja união nasceu Glauco. É a estrela que brilha menos intensamente no grupo.



AS   PLÊIADES  ( 1885 , ELIHU  VEDDER )

Poseidon uniu-se a Celeno, gerando três filhos, que não deixaram rastros no mito. Maia (mãezinha, avó, parteira) uniu-se a Zeus e foi mãe do deus Hermes e ama de Arcas após a morte de Calisto. Taigete uniu-se a Zeus e foi mãe de Lacedemon. Depois, foi transformada por Ártemis em corça, para escapar de Zeus. Voltando, depois, à forma humana, agradecida, ofereceu à deusa uma corça com chifres de ouro e patas de bronze, a mesma que Hércules teve que capturar no seu quarto trabalho. Alcyone, unindo-se a Poseidon, gerou Hirieu, o pai mortal do gigante Orion. Estérope se uniu ao deus Ares, tornando-se mãe de Enomao, rei de Pisa (Elida). Electra, fecundada por Zeus, gerou Dárdano, que passa por ter sido o fundador da dinastia real de Troia.

PTOLOMEU
Ptolomeu atribui a Alcyone influências semelhantes às da Lua e de Marte. Há possibilidade de uma certa turbulência, descontrole no comportamento, uma certa dificuldade para uma atitude mais firme já que todos os astrólogos que estudaram as Plêiades, através de Alcyone, registraram sempre a possibilidade de problemas com a visão, inclusive de cegueira, em determinados casos. Esta interpretação se deve ao fato de que na Astrologia os grupos estelares como asterismos (clusters) e, principalmente, nebulosas costumam causar problemas de visão, desde desorientação nos deslocamentos à cegueira propriamente dita, como, por exemplo, também se verá no final de Sagitário com as suas nebulosas. Alcyone tem conexões também com a chamada visão mística ou introvisão, destacando-se em mapas de pessoas que possam tentar “descer” ao seu mundo
FREUD
interior, a visão do chamado “terceiro olho”. Dependendo do planeta ao qual se ligue, do signo, da casa e dos aspectos que forme, Alcyone pode proporcionar a visão que apontei. Negativamente, porém, pode trazer uma espécie de “cegueira” interior ou incapacidade para o entendimento do que está sendo sugerido por pressa, precipitação, total falta de sensibilidade para o que diga respeito à vida subconsciente. Um tema interessante para o estudo de Alcyone é, por exemplo, o de Sigmund Freud.

Os árabes chamavam Alcyone de Al Jauz (A Noz) ou Al Wasat (A Central). Maia disputou, contudo, com Alcyone a proeminência com relação ao grupo. No mito, era a primogênita e a mais bela; para muitos astrólogos antigos, era a mais luminosa (lucida). Seu nome aparecia às vezes grafado como Mea ou Maja (feminino de
BYRON
majus). Os romanos a identificaram com várias “Mães”: Reia-Cibele, Fauna, Fatua, Ops, Maia Maiestas, Bona Dea, dela saindo o nome do mês de maio. Ovídio dava-lhe o nome de Pleias Uda (A Plêiade Úmida). Grande parte da nebulosidade que costuma envolver as Plêiades se concentra mais na região em que está Maia. O poeta Byron, num de seus poemas, fala da “invisibilidade” dessa estrela. 

Alguns astrônomos, com boa informação mitológica, atribuíram o título de “A Plêiade Perdida” a Electra por ter sua luz diminuído bastante, sumido dos céus praticamente, devido à sua tristeza diante da destruição de Ilium (Troia) pelos aqueus, cidade fundada por seu
OVÍDIO
filho Dárdano. Ovídio a chamou de Atlantis, fazendo-a personificar toda a “família”. Como se disse, Mérope, por ter se casado com Sísifo, um mortal, disputa, às vezes, para alguns astrônomos, o título de “A Plêiade Perdida”, envergonhada diante das outras irmãs, que fizeram casamentos divinos. Daí, “mortal” ser outra etimologia admitida para Mérope. Atlas, o pai das Plêiades, era um titã, filho de Jápeto e de Clímene (oceânida); sobrinho de Cronos, portanto, e irmão de Prometeu, de Epimeteu e de Menécio. Atlas era muitas vezes chamado de Pater Atlas e sua mulher, de Mater Pleione.  

Lembro finalmente que a palavra plêiade passou do mundo greco-alexandrino para o francês medieval e deste para o nosso léxico com o sentido de uma reunião de pessoas ilustres. Na literatura, foi nome dado a grupos de sete poetas considerados como uma constelação poética. Esta designação foi aplicada pela primeira vez a sete poetas alexandrinos da época de Ptolomeu Philadelpho (Séc.III aC). No ano de 1.323, o nome foi aplicado a sete poetas e sete poetisas da região de Toulouse, França. No séc. XVI, o nome voltou a ser usado, tendo por centro os poetas Pierre de Ronsard, Joachim du Bellay e outros. 


JOACHIM   DU   BELLAY
PIERRE   DE   RONSARD












As Híades formam um pequeno grupo de estrelas situado na testa do Touro, onde está Aldebarã, cuja longitude é usada para determiná-las. Astrologicamente, nunca tiveram, por isso, importância maior. Entretanto, seu aspecto nebuloso sempre teve destaque na mitologia, principalmente na grega. Homero já as mencionava. Desde a antiguidade sempre apareceram ligadas à chuva, ao elemento líquido, a tempestades, o que se devia ao fato
MARDUK
de o seu nascimento heliacal, naqueles tempos, ocorrer entre o final de novembro e o início de dezembro, o que as ligava, portanto, ao inverno. Os babilônicos chamavam as Híades de A Mandíbula do Touro porque elas representavam o osso mandibular do animal, usado como um bumerangue por Marduk (divindade agrária mesopotâmica, colocado no topo do panteão como deus criador, vencedor do Caos (Tiamat). 

Para os babilônicos, as Plêiades e as Híades eram armas celestes. As primeiras “funcionavam” como redes que, atiradas sobre os monstros, os imobilizavam. As outras funcionavam como uma espécie de porrete ósseo para abatê-los. A arma de Marduk aparece, pelo transplante do tema da Mesopotâmia para Israel, nas mãos de Sansão, que usa uma mandíbula de touro como arma para matar os filisteus (etimologicamente “povos do mar”, muito semelhantes aos aqueus gregos, instalados no litoral da Palestina), inimigos dos judeus. 

NINFAS   E   DIONISO
( FRANÇOIS  BOUCHER )
Entre os gregos, a palavra Híade admite duas etimologias: a) do verbo hyein, chover; b) do substantivo hys, porca, pois a principal estrela do grupo, Aldebarã, vive cercada de estrelas menores e de brilho menos intenso, o que dava ideia de uma porca amamentando os seus filhotes. Aliás, um dos nomes desse grupo em latim era Suculae, isto é, porcas novas. São sete: Ambrósia, Eudora, Ésilem Fésile, Coronis, Dione, Pólixo e Feio. Antes de sua subida ao céu, foram amas do deus Dioniso, razão pela qual também eram chamadas de Ninfas do Monte Nysa. Temendo a ira da deusa Hera, confiaram o menino-deus a Ino, também chamada Leucoteia (deusa branca), irmã de Sêmele, mãe do deus.

As Híades são estrelas de nona magnitude, distando da Terra cerca de 150 anos-luz. Já as Plêiades estão a 50 anos-luz do nosso planeta. A estrela alfa de Touro, Aldebarã, é gigantesca, alaranjada, cerca de 40 vezes maior que o nosso Sol. Perto da estrela zeta de Touro, na ponta do chifre direito, está uma notável nebulosa
NEBULOSA   DO   CARANGUEJO
chamada Caranguejo. Esta nebulosa resultou de um dos mais espetaculares acontecimentos astronômicos já registrados, a explosão de uma supernova (estrela cuja massa é muito maior que a do nosso Sol, que tendo usado toda a sua energia termonuclear começa a se contrair; como a pressão interna é incapaz de suportar as suas várias camadas, a estrela entra em colapso, produzindo-se uma tremenda quantidade de calor, projetada no espaço celeste). A explosão desta supernova foi tão intensa que chegou a ser vista da Terra em pleno dia por cerca de três semanas no ano de 105 dC.