quarta-feira, 2 de julho de 2014

HÉRCULES - DÉCIMO PRIMEIRO TRABALHO



A LIMPEZA DOS ESTÁBULOS DE AUGIAS - Augias, rei da Élida, no Peloponeso, era filho do deus Hélio, o Sol, e participara da expedição dos argonautas. Herdara um imenso rebanho do pai, milhares e milhares de bovinos, que viviam em enormes estábulos. Tais estábulos não eram limpos desde que Augias recebera a herança, cerca de trinta anos atrás. A incumbência de Hércules era justamente a de limpá-los, conforme determinação de Euristeu. O lugar era famoso por ser pestilento,  malcheiroso e insalubre ao extremo. Como nenhuma vegetação crescia à sua volta, a alimentação dos animais tinha que vir de longe. Tomando conhecimento da chegada de Hércules, Augias o chamou à sua presença. Nosso herói lhe revelou o objetivo de sua visita. Augias não acreditou que ele pudesse remover aquelas montanhas de estrume e de sujeira num único dia, conforme exigência de Euristeu. 

Augias  e  Hércules  entraram  num  acordo,   depois  de  debater   a
ANIMAIS DE AUGIAS
questão. Hércules não só se comprometeu a fazer o serviço da maneira exigida, como também a espalhar todo o esterco pelas terras vizinhas de modo a prepará-las para novas semeaduras a fim de que outros, futuramente, auferissem benefícios, já que os terrenos se tornariam muito férteis. Como pagamento por esse serviço extra, Hércules pediu um "por fora", a décima parte de todo o rebanho. Na expectativa de grandes lucros, Augias concordou. Este episódio se tornou muito comentado porque foi introduzida pelo mito, arquetipicamente, a instituição da propina, a gratificação extra por serviço normal prestado a alguém, misturando-se doravante, por isso, ideais e dinheiro. Para testemunhar o acordo que fez com Augias, Hércules chamou o jovem príncipe Fileu. É de se lembrar que o pagamento de propinas era muito comum no mundo greco-romano. A etimologia de propina indica que a palavra vem do substantivo taverna, lugar onde se servem bebidas alcoólicas. Assim a propina era uma importância extra que se dava a alguém por um certo serviço para que bebesse (é o que os franceses chamam até hoje de pourboire). Com o tempo, a propina transformou-se numa quantia oferecida ou dada a alguém para levá-lo a praticar atos ilícitos, suborno.


LIMPEZA DOS ESTÁBULOS
A segurança com que Hércules assumiu a realização do trabalho e, além disso, propôs algo que ia além do que lhe fora determinado, devia-se ao fato de ter o nosso herói  percebido que nas vizinhanças dos estábulos havia dois rios de natureza torrencial que poderiam ser usados, embora separados por uma montanha (Erimanto). Um dos rios chamava-se Alfeu e o outro Pneu. Pondo-
HÉRCULES   DESVIANDO   OS   RIOS
se em ação, ao raiar do dia acertado, Hércules abriu fendas nos muros que cercavam os estábulos e, com inaudita sofreguidão, escavou furiosamente novos leitos para os rios, desviando-os dos seus cursos, de modo a fazer com que as águas, atingissem os estábulos, limpando-os. Lá pelo meio da tarde do mesmo dia, a segunda parte da tarefa começou a ser executada. As montanhas de estrume foram espalhadas devidamente, tudo feito com espantoso vigor. Quando, no dia seguinte, o Sol raiou, tudo estava terminado.





Augias, contudo, negou-se a cumprir o acordo. Hércules abandonou a Élida, muito contrariado, prometendo um acerto de contas futuramente. Tempos depois, com efeito, reuniu nosso herói um exército de voluntários e marchou em direção do reino de Augias. Duas investidas foram feitas. Na segunda, Hércules derrotou e matou Augias, entregando o poder a Fileu, que inclusive
PÍNDARO
testemunhara contra o pai quando discutida a questão nos meios judiciais competentes. Foi após essa campanha vitoriosa contra a Élida que Hércules instituiu os Jogos Olímpicos, conforme narra o poeta Píndaro. Estes Jogos (jogo é agon, luta, no plural, jogos, agones, adquirindo depois a palavra o sentido de reunião, assembleia) são, como Hércules os instituiu, modalidades de culto do impulso heroico (veja neste blog matéria sobre Hércules e os Jogos Olímpicos).

Alfeu (branco) e Pneu (sopro) eram rios do Peloponeso. Desde o
DAFNE  E  APOLO
tempo em que Hércules andou por lá, executou a limpeza dos estábulos e preparou a terra, a região banhada pelos rios se transformou numa área produtora de cereais e de vinho. Pneu é famoso por suas margens sombrias e frescas, onde havia muitos loureiros. Nos tempos míticos, era o rio procurado por deuses, ninfas e sátiros. Foi aí que Dafne se transformou num loureiro, consagrado ao deus Apolo, como símbolo de seu amor frustrado pela ninfa. Desde então a região vem sendo muito visitada por artistas, especialmente poetas, que gostam de pôr em versos a história da desditosa jovem.


Com o décimo primeiro trabalho, chegamos à constelação zodiacal de Aquário, cujo símbolo lembra os dois rios acima descritos. O signo é muitas vezes representado por um velho sábio que leva nas
mãos uma ou duas ânforas que, inclinada(s), vertem um fluxo líquido. A peculiaridade deste fluxo é que ele é aéreo, etéreo, de caráter expansivo. Imagens como estas trazem ideias de ondas. Aquário é um signo de ar, fixo, com grandes ressonâncias aquáticas, um oceano aéreo onde nos banhamos. O ar como substância nutritiva destinada mais à alma que ao corpo. Em Gêmeos, temos a comunicação mental; em Libra, temos o diálogo, a percepção do outro; em Aquário, temos as afinidades por ideais.

O “líquido” que hoje circula nos meios aquarianos nada tem a ver com aquele a que o mito se refere. O “verdadeiro” líquido aquariano significava então aproximação, contacto, união, presença, que não anulava as individualidades, mas que levava a uma participação comunitária. A energia aquariana, no seu mais alto grau de eficiência, circula hoje, como sabemos, na Internet, uma rede mundial de computadores interconectados (WWW-World Web Wilde), que parece unir os que a usam, todos “linkados”, mas que, no fundo, os separa cada vez mais (outra contradição aquariana), vivendo todos numa “realidade” fragmentada de informações, sem nenhuma possibilidade de controle do todo.  

 
ANJO  ( GUSTAVE  DORÉ )


Saturno, lembremos, apesar de Urano ter assumido a posição de primeiro regente do signo, continua "mandando" nele, ao nos lembrar que a elevação aquariana passa antes pela libertação da vida instintiva e pela "desmaterialização". Do contrário, não há a transcendência uraniana, simbolizada pelo Anjo, outra imagem do signo, não teremos as suas qualidades, a expansão, a leveza, a volatilidade, o seu caráter angelical, mozartiano, que traduzimos concretamente como altruísmo, devotamento social, trabalho desinteressado, o melhor lado de Aquário. Nem haverá, se nos voltarmos para o lado técnico do signo, a sempre perigosa e genial atitude prometeica, traduzida por propostas de vanguarda, emancipação, inovação, de paixão indiscriminada pelo novo. 


CONSTELAÇÃO   DE   LEÃO

Desde Leão, como se pode notar, observa-se uma proposta evolutiva de conscientização, ainda que não muito claramente entendida pelo nosso herói.  Em Aquário, signo oposto ao de Leão, a proposta é a de que o rei (o ego) deve servir, tornando-se um prestador de serviços. Hércules começa aqui a compreender melhor, ainda que de modo muito nebuloso, aquilo que havia apenas mal vislumbrado no trabalho anterior (a ação impessoal); ao ver as almas sofredoras no Hades, sentiu pena delas. Agora, a percepção dos outros tomava um sentido mais abrangente; nosso herói começava a entender que o centro da sua personalidade não deveria se fixar no ego, mas na alma, na faísca da energia universal que está contida não só em todos os seres humanos como em tudo o que toma forma no universo. 


CONSTELAÇÃO   DE   AQUÁRIO

Entendida a "desmaterialização" em Capricórnio, havia que se buscar agora uma percepção mais clara do impulso anímico através do qual se torna possível entrar em contacto com planos maiores, transcendentes ao pessoal, até a dissolução no grande Todo, segundo as leis do eterno retorno. Antes, porém, necessário o aprendizado do que seja o serviço desinteressado, do que seja a convivência com o grupo e do que seja o sacrifício do eu pessoal pelo eu grupal. Em Aquário não podemos mais estar fixados no ego (Leão) nem na matéria.  A luz leonina conquistada deve ser canalizada para o Todo, isto é, para a humanidade, para os outros, não mais vistos agora como parceiros ou sócios (Libra), mas como irmãos. Ideais de fraternidade, de igualdade, de camaradagem, de comunidade são de Aquário.


PREPARANDO  O  TERRENO  PARA  O  FUTURO

Hércules, do alto da montanha, desceu agora neste trabalho à sujeira, ao deletério, a aspectos muito impuros da materialidade, uma lição de humildade a ser aprendida, uma clara indicação de que ideias de orgulho, de vitória, de conquistas materiais, representadas pelos picos das montanhas devem dar lugar a outras, de interesse coletivo, humanitário. O vencedor de Cérbero, grande monstro infernal, envolvia-se agora com a sujeira e a imundície. A lição tinha dois aspectos:  trabalhar não só no interesse próprio, mas trabalhar também em função dos outros, das gerações futuras, pessoas que nunca seriam encontradas, “preparar a terra para elas”. Deixar-lhes um mundo melhor. 

A grande alegoria da sujeira dos estábulos não exige grande esforço interpretativo: limpá-los é jogar fora toda a porcaria material e mental que acumulamos, por anos e anos, e que nos impede de ver o outro como nosso irmão, de que nos aproximemos dele amistosamente e não o considerando como um inimigo em potencial. Todos os ingredientes deste décimo primeiro trabalho são do signo de Aquário, inclusive o percentual que nosso herói pede. Seu idealismo, preparar o terreno para as gerações futuras é, sem dúvida, muito sublime, digamos. Mas, como seu lado “animal”, humano, vá lá, era muito poderoso, nenhum mal, no seu entender, em pedir os dez por cento para Augias. Quanto a este particular, lembre-se que na chamada astrologia mundial Aquário é o signo da política, tendo a ver com o poder legislativo (congressos, assembleias, câmaras e seus personagens.


A   LIBERDADE   GUIANDO   O   POVO,  1830   ( DELACROIX ) 

Trabalhar em grupo e para grupos é muito difícil. Falamos em ideais comuns, criamos formas associativas, levantamos a bandeira do altruísmo, da ação desinteressada, do devotamento social e o que vemos? A rondar sempre as fraternidades e as comunidades o ciúme, o orgulho, a vaidade, o desejo de brilhar, a ostentação, o exibicionismo, o apego ao poder, ou seja, o "velho" ego leonino, que julgávamos dominado, vivo e muito vivo, ganancioso, voraz como sempre.  Difícil esquecer o eu em benefício dos outros. De repente, lutas por posições, carreirismo, a vontade do poder escondida no discurso "democrático".

Em Aquário, ultrapassamos a materialidade para ter que colaborar com a "limpeza" do mundo. Muralhas rompidas, não mais
CORAÇÃO  -  CIRCULAÇÃO
centralizar a vida no sucesso material, com a ajuda da espantosa tecnologia aquariana, mas, sim, centralizá-la no espiritual, no Todo. Ao invés de matéria e mente, vida e amor.  Viver o desapego, perdermo-nos em algo fora de nós, para que o individual se torne universal. É em Aquário que o homem separado se torna humanidade, sem perder a sua identidade. Não será mais, então, o ser autocentrado e isolado na busca desesperada por posições mundanas. Em Leão temos o tempo e os esforços a serviço do próprio ser e dos interesses pessoais. Em Aquário, temos a descentralização, a distribuição da energia pelo todo. É a dialética coração-circulação da qual nos falam as características do signo sob o ponto de vista físico, biológico.

Por anos e anos acumulamos muito "esterco" dentro de nós e levantamos barreiras protetoras à nossa volta, construindo uma personalidade totalmente inautêntica para receber a consideração dos outros. Uma máscara que nos justifique.  Em Aquário, temos que deixar de nos considerar exclusivos, pois, do contrário, não
haverá vida digna, a vida em comum. A proposta é a do rompimento das fronteiras, das barreiras. Uma internacionalização diferente da que temos hoje, de caráter consumista, fascista. Nada de patriotadas cegas, alimentadas pelo dinheiro e pela religião, sempre fontes de ódio. Ao contrário, cooperação, compreensão, inteligência, universalismo (ver, a propósito do que aqui se expõe, o filme A Grande Ilusão, de Jean Renoir).  


Tudo o que libera o homem, elevando-o do solo ou levando-o a
ÍCARO
percorrer  horizontalmente toda a superfície terrestre, rompendo fronteiras e limites,  se liga de algum modo a Aquário. Nestes casos, porém, há sempre o perigo do aquariano inflar demasiadamente o seu ego (leonino), sonhando alto demais, ou de não dominar adequadamente os meios técnicos que emprega para a sua ascensão (complexo de Ícaro). São estas configurações que costumam dar origem a duas grandes distorções em tipos do signo, gerando o aprendiz de feiticeiro e o delirante

O primeiro, como se sabe, costuma precipitar tragédias, como no
caso da criação do Golem, pela busca de metas “impossíveis” ou pela inabilidade ou desconhecimento quanto ao uso das técnicas disponíveis tendo em vista o fim colimado. Já o segundo tipifica o aquariano que sofre do chamado delírio sistematizado, sistema logicamente organizado de ideias delirantes, que se instala sem sinal claro de demência, no qual grande número de funções perceptivas e cognitivas pode permanecer intacto, mas ativado em níveis que parecem querer (ou querem mesmo?) ultrapassar os limites do humano. Por isso, Aquário é o signo das utopias. 

As manifestações deste segundo tipo podem ser detectadas em várias expressões aquarianas, mais ou menos logradas, expressões
que elegem símbolos de caráter ascensional, a águia, por exemplo. A união da águia com a proposta visionária aquariana, com o objetivo de antecipar de algum modo o futuro, traço aquariano notável, nós a encontramos na atividade dos áugures do mundo greco-latino que traduziam o voo e o canto da águia em profecias. O delírio poético que tem no chamado condoreirismo (uma distorção do Romantismo, movimento artístico tipicamente aquariano) uma de suas mais pomposas e banais elaborações é também um bom exemplo. 

Como traço de personalidade, o delírio aquariano tem um dos seus exemplos mais interessantes na tendência que muitos do signo apresentam no sentido de compensar a sua “fraqueza” solar (o Sol se exila em Aquário), uma fraqueza que os faz sentirem-se inferiorizados por alguma razão (sentimentos sempre geradores de
medo e ressentimentos reprimidos), por uma supercompensação, na linguagem psicanalítica. É isto que leva muitos aquarianos enquadrados neste exemplo para o outro polo. Vão de um disfarçado complexo de inferioridade (o de não serem “bons” em alguma coisa, uma limitação física, um problema de relacionamento, um mental não à altura de suas pretensões) para um complexo de superioridade. Procuram ser os melhores em alguma atividade (baterem recordes, se tornarem “únicos”, paradigmas, excêntricos etc.), superarem alguma marca, limite, no fundo sempre uma defesa contra o complexo oposto. É isto que aproxima tão perigosamente o sábio solitário (aquariano superior) do louco, igualmente solitário, perdido nos seus delírios paranoicos. 

Aquário é signo humano, de ideais e de simpatias, de interação. Transcender Leão (culminação do ego), supressão de privilégios, mostrar competência e não títulos e insígnias, esquecer o ego. Se pensamos numa tendência, Aquário é independência por ideais corporativos; em funções, Aquário é pesquisa, inovação, técnica, reforma, ensino, experimentalismo; em objetivos, Aquário é sociedade, grupos, comunidades, política; em deveres, Aquário é ajuda, colaboração, orientação, aperfeiçoamento. No fundo, o tipo superior aquariano é sempre um inquieto pelo ser e não pelo ter. Como tal, é um cidadão do mundo para quem a hereditariedade e os privilégios de sangue (Lua e Júpiter, Câncer), os apegos materiais e emocionais (Vênus e Lua, Touro) e as fixações ciumentas e possessivas (Plutão e Marte, Escorpião) devem contar muito pouco. No mais, um ideal de servir lúcido, livremente assumido, sem a ideia de martírio (Peixes).

Em Capricórnio chegamos ao topo da montanha. Saturno, o planeta de Capricórnio, é o tempo. O planeta de Aquário é Urano, o espaço. Depois de haver dominado a si mesmo, longe de se salvar só, ou de encerrar-se na ideia de eternidade ou de paraíso, Aquário volta-se para o todo, para a humanidade, por mais inferior que seja a criatura.  Estes estados superiores de Aquário são simbolizados pelo anjo, seres espirituais, dotados de corpo etéreo, mensageiro, guardião, condutor, protetor (ver os filmes de Win Wenders).


O   CINEMA   DE   WIN   WENDERS

Mitologicamente, a constelação de Aquário é Ganimedes, o amado de Zeus, dos deuses, escanção divino, que nos céus tem ao lado a constelação da Águia (Zeus). Scandere, de onde sai escanção, é elevar, subir; escançar é partilhar, participação que faz subir. Ou seja, graça superior que permite a elevação que leva à participação de um conhecimento superior. Esta participação era feita em
reuniões comunitárias de amigos que compartilhavam os mesmos ideais e segredos através do vinho (exaltação de Urano em Escorpião). O Banquete, do aquariano Soren Kierkgaard (In Vino Veritas), traduz esta ideia. O grande lema aquariano é Ad augusta per angusta" (a resultados sublimes por caminhos estreitos). No Tarô, Aquário é a lâmina XIV, a Temperança, dissolução das formas, rompimento do que nos prende. Nela, o personagem andrógino alado derrama o fluido de um cântaro a outro. Ideia de equilíbrio dinâmico. 

Inúmeros perigos se apresentam a Aquário. O tema do desligamento da terra, o rompimento da gravidade (Urano é o primeiro planeta transaturnino) pode ser vivido como mania de verticalidade (torres,
arranha-céus, foguetes, satélites, voos espaciais, esportes radicais nas alturas). O melhor de Urano (o planeta do despertar) aparece quando há algo espiritual. O pior é o lado técnico, hoje nas mãos dos economistas de todos os matizes. Utopias políticas substituídas por utopias materiais. Muitos aquarianos tentaram construir paraísos na terra. No fundo, devido à grande ênfase no material (terra), tais paraísos acabaram se corrompendo, transformando-se em verdadeiros infernos. A história está repleta de exemplos.


ROCK

 A saída pela ciência e pela técnica passou a ser a outra grande tentação do aquariano malogrado. Daí, os ambientes eletrizantes (Urano governa a eletricidade), os grandes abusos do sistema nervoso, nada de freios, excitação diante da possibilidade de ocupar todo o espaço e consequentemente a falta de tempo constante, crônica. Com a predominância desse enfoque tecnicista, chegamos logo aos fenômenos de massa, ao turismo corrompido em escapismo e evasão, à promiscuidade, à vulgaridade, ao coast  to coast, à planetarização fascista criada pelos meios de comunicação, aos "bandejões" de cinco a nenhuma estrela, aos espetáculos que institucionalizam a baixaria, à excentricidade, à lei do frenesi, à troca da individualidade pelo individualismo agressivo e boçal, cujo melhor exemplo está nas nossas TVs, à rebeldia sem causa, aos contrastes fabricados pelo consumismo, às ambições prometeicas idiotas (mania de recordes), à desordem, ao desrespeito, à anarquia.

Enquanto Leão é coração, Aquário é circulação. No corpo físico, problemas, pois, de insuficiência circulatória (Sol em exílio), sobrecarga de resíduos, oxigenação insuficiente, hiperacidez. Escleroses, flebites, varizes, úlceras, parestesias; enfermidades bruscas e violentas, oscilações. Movimentos físicos involuntários, desde fibrilações e câimbras a disritmias e epilepsias; espasmos, tremores (grande parte da coreografia do rock moderno se inscreve aqui). Os transtornos circulatórios e cardiovasculares, menos frequentes antes nas mulheres, hoje vão se tornando muito comuns, na medida em que a vida feminina se aproxima da masculina. Como causas, preocupações financeiras, fumo, álcool, drogas, anticoncepcionais, sexualidade sem amor. Ateromasias (athera, papa, massa, e oma, tumor), depósito lipídico no interior das paredes das artérias, diminuindo o diâmetro do vaso; ulcerando-se, a placa favorece a formação de coágulos. Artéria coronária (Sol-Urano), artéria cerebral (Marte-Urano), artérias das pernas (Urano-
Júpiter), artéria abdominal (Urano-Lua). Problemas nas pernas do joelho para baixo, até os tornozelos, estes muito vulneráveis. Lembrar que Áries e Aquário são os signos mais propensos a acidentes. Problemas na coluna por Leão (ação reflexa). A hipófise ou a pituitária é do signo; é a glândula mestra que controla todas as mensagens hormonais do corpo. A glândula pituitária equivale ao cérebro entre as glândulas, governando simbolicamente o nosso ajuste ou não a planos superiores de existência. 

Urano é o astro responsável pelo sistema cibernético do corpo, dividindo-o com Mercúrio. A radicalização no sentir, a grande agitação (fixar-se num querer e mudar, incompreensivelmente), a falta de realismo são inimigos no signo. Aceitação difícil de tratamentos, constantes mudanças de terapias, sedução pelas inovações e modismos terapêuticos até que o tédio baixe ou uma novidade apareça. Difícil a observância de rotinas. Aquário governa a neuromentalidade (as neuroses, as ansiedades paroxísticas ou depressivas, a psicose maníaco-depressiva são de Urano e de Saturno, basicamente) devendo o sistema nervoso, como um todo, merecer grande atenção.


MOZART

A galeria dos aquarianos pelo Sol ou pelo Ascendente: Robespierre, Karl Marx, Virginia Woolf, James Dean, Mozart, James Joyce, a Beat Generation como um todo, George Gordon Byron, Stendhal, Bela Bartok, Tom Jobim, Manet, H.G.Wells, J.J.Rousseau, Rossini, Simone Weil, W.B. Yeats, Schubert, C.G.Jung, André Maurois, Federico Fellini, Roosevelt, Thomas Edison, Beaumarchais, Lewis Carroll, Auguste Comte, Montesquieu, Mendelssonn, Charles Lindberg, Almeida Garrett, Chopin, Darwin, Voltaire, Bertold Brecht, Lincoln, Júlio Verne, Copérnico...