sábado, 20 de maio de 2017

ISAAC & KRONOS

                                                                                                         Geralmente, dá-se o nome de complexo a um lugar de condensação na nossa interioridade onde represamos sentimentos e representações parcial ou totalmente inconscientes, com enorme carga afetiva. São núcleos, agregados, ajuntamentos de conteúdos psíquicos que não chegando ao nosso consciente navegam de modo autônomo na nossa interioridade. Muitos desses núcleos não têm a devida consistência para se fazerem sentidos. Podem, contudo, ganhar corpo, formando uma espécie de segundo eu, dividindo-nos. Um outro eu que pode tomar diversas formas. Adquirem, nesse caso, vida própria, tornando-se bastante ativos, impondo-se muitas vezes à nossa vontade, podendo mesmo destruir nossa noção de identidade.

SANTUÁRIO   DE   EPIDAURO  ,  GRÉCIA

Os gregos antigos, através dos seus mitos, já haviam notado a importância desse fenômeno. Perto de Atenas, no santuário médico de Epidauro, do deus Asclépio, o deus-toupeira, os sacerdotes que lá viviam, dentre outros procedimentos terapêuticos que adotavam
ASCLÉPIO
para dissolver ou descarregar a energia assim represada no psiquismo dos pacientes que os procuravam, praticavam a chamada nooterapia, com o auxílio da oniromancia (interpretação dos sonhos), dentre outras técnicas. Estas terapias tinham não só a finalidade de curar as mentes doentes como de reformar o homem por inteiro, psíquica e fisicamente, através de várias atividades e controles (canto, dança, teatro, esportes, cuidados alimentares etc.). O objetivo último era o de provocar nos que lá se internavam a metanoia, a transformação dos sentimentos represados, que como agentes mórbidos eram não só os causadores de muitas doenças do corpo físico como de muitos distúrbios na vida psíquica. Cura? Só com a destruição ou transformação dos sentimentos. 

A partir de fins  do século XIX, com a retomada das terapias do psiquismo, afastados, ainda que com muita dificuldade, os preconceitos religiosos e da ciência oficial, aos complexos foram sendo nomes de vários personagens do mito, da religião e da literatura. Através desses nomes definiram-se comportamentos, padrões de conduta, formando-se uma espécie de demonologia, que, em grande parte, passou dos confessionários para os consultórios médicos . Os exemplares desse universo estão nos mitos de diversas culturas. Muitos os chamam de arquétipos, modelos de comportamento, há muito forjados, que se impunham. Arche, em grego, é palavra que lembra superioridade, comando, anterioridade, poder, precedência; typos é marca impressa num corpo, em alguma coisa. Arquétipo, numa tradução livre, é o poder do antigo, do que foi forjado há muito tempo.

Os exemplares desse universo estão nos mitos, nas lendas, nos contos, em histórias antiquíssimas, fazendo parte de tradições às vezes esquecidas ou perdidas, encontrados em todas as culturas. Sua origem é muito discutível. Partiram de um tronco único? Ou cada sociedade os fabricou? O que parece mais aceitável é que esses padrões de comportamento aparecem como símbolos a partir de um modelo original. Conforme o contexto social em que aparecem, são atualizados  simbolicamente em cada momento histórico, como se disse, pela arte, pela literatura, pelo teatro, pelo cinema.

O revestimento básico desses padrões de comportamento, na cultura ocidental, é dado, na sua maior parte, pela mitologia grega, não se excluindo deste predomínio o fato de outras tradições e culturas terem colaborado para dar vida a outros modelos. Os complexos constituem um entrave na vida de qualquer pessoa, criando sempre muitos obstáculos para o pleno desenvolvimento de sua personalidade. Sociedades muito rígidas, de características acentuadamente puritanas, por exemplo, favorecem muito o aparecimento de complexos. 

ABRAÃO E SARA
Este é o caso do chamado complexo de Isaac, que aqui abordamos. O nome do filho de Abraão e de Sara, Isaac, deriva do verbo rir. Os pais o tiveram já velhos, daí o riso quando anunciado o seu futuro nascimento. Deus testou a fidelidade de Abraão (10 testes). Um dos testes foi o de que ele deveria oferecer o filho tão aguardado ao sacrifício.

Segundo a tradição bíblica, Abraão era um respeitado patriarca e grande astrólogo em sua terra (Ur, Mesopotâmia). Quando tinha 75 anos foi visitado por Deus. Recebeu ordens para abandonar sua casa e seus pais e partir em direção de uma terra que Deus lhe mostraria. A expressão bíblica que traduz este acontecimento é Lech L´echa (Vai por ti mesmo). Seguindo em direção de Canaã, com sua esposa Sara, seu sobrinho Lot e companheiros convertidos à sua fé monoteísta, Deus lhe prometeu, dentre outras coisas, uma descendência numerosa, tão numerosa quanto as estrelas do céu, como está no texto bíblico.

Quando Abraão chegou aos 99 anos, Deus lhe apareceu novamente
ANÚNCIO DO NASCIMENTO  DE  ISAAC
para ratificar com ele e seu povo sua aliança eterna. Ordenou Deus que ele se circuncidasse, um símbolo da referida aliança, prática a ser mantida por todos os seus descendentes. Como a tradição revela, foi a partir desse acontecimento que Abraão se tornou perfeito, que o nome de sua mulher, também muito idosa, foi mudado de Sarai (minha princesa) para Sarah (princesa de todas as nações), e que se anunciou para breve o nascimento do filho tão desejado. Assim aconteceu, nascendo Isaac.

SACRIFÍCIO DE ISAAC
( REMBRANDT )
Homem cheio de devoção e benevolência, Abraão foi submetido então por Deus a vários testes para que, através deles, desse demonstração de sua fé. O seu último e mais difícil desafio, como a Torá revela, era o do sacrifício de Isaac. Conhecemos os detalhes da viagem do pai e do filho, então com 25 anos, para o local do sacrifício, o monte Moriá. No último momento, porém, quando Abraão estendeu a mão para cortar a garganta de seu amado e dócil filho, surgiu o arcanjo Gabriel e, detendo-o, salvou Isaac. Akedá é como os judeus chamam este teste de obediência, também designado por alguns pelo nome de teste da amarração. No lugar de Isaac foi colocado um cordeiro, animal sacrificial por excelência.
 
PESSACH  ( MARC  CHAGALL )

O carneiro, como se sabe, representa o princípio solar viril, luminoso, ligando-se o seu simbolismo ao ciclo das estações. Na tradição judaica, cristã e muçulmana o animal torna-se a vítima sacrificial do período do Pessach, da Páscoa e do Ramadã, inclusive entre os povos védicos. Adotado especialmente pelos cristãos, o animal representa o Messias, o Verbo divino. Sempre associado a ritos de fertilidade, ele aparece associado à primavera, à chamada festa equinocial da primavera, enquanto a festa do bode tem relação com a festa das colheitas. 


CHOFAR  
Lembremos que bem antes de Abraão, o primeiro patriarca judeu, o carneiro já aparecia como símbolo astrológico-religioso. O chofar, pequena trompa feita com chifre de carneiro, já era empregado em rituais religiosos e ainda é usado em sinagogas ao fim do Yom Kipur (dia do perdão), antes e durante o Rosh ha-Shana (ano novo). 

No cristianismo, o Pessach tomou o nome de Páscoa, comemorativa da ressurreição de Cristo. O concílio de Niceia (325) a fixou no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia seguinte ao equinócio da primavera. Esta festa sempre foi celebrada por
LES  PÂQUES  ( MARC  CHAGALL )
todas as tradições, não só judaicas ou católicas. Entre os saxões, por exemplo, foi Eastre, deusa da primavera e do renascimento da natureza, que deu origem à palavra easter, páscoa, em inglês. Esta deusa tinha o coelho por atributo. As fogueiras da Páscoa simbolizam a vitória da luz sobre as trevas (o retorno do Sol). Os antigos germânicos acendiam suas fogueiras em homenagem a Thor, que lhes trazia de volta a primavera. Extintas as fogueiras, as cinzas eram recolhidas e lançadas sobre os campos, a fim de se torná-los férteis. Esta ideia de fertilidade se associa também ao costume da distribuição de ovos na Páscoa, símbolo do renascimento periódico da natureza.

A tradição narra que, como sacrifício alternativo, Abraão colocou no lugar de Isaac um carneiro, animal que aparece como suporte simbólico de numerosos mitos ao representar as forças indomáveis e criadoras da natureza, o instinto de procriação que assegura
SACRIFÍCIO  DE  ISAAC  ( CARAVAGGIO )
continuidade da vida. O que se sabe quanto a Isaac, é que após a traumática experiência da akedá, ele se retirou da vida mundana, mas ficou com sérios problemas nos olhos por ter olhado o céu e visto Deus enquanto estava amarrado no altar de sacrifício. Além disso, seus olhos foram também afetados pelas lágrimas de chorosos anjos, apiedados de sua sorte quando da cerimônia. 

SIGNO DE ÁRIES
Sob o ponto de vista astrológico, não há como se negar que a história de Isaac esta repleta de símbolos arianos. Áries é o signo do Carneiro, marcado pela entrada do Sol, a cada ano (hemisfério norte), a 21 de março, nessa constelação. Áries é o signo que marca o
despertar da natureza, a passagem do frio ao calor, da escuridão à luz. Lembremos, por outro lado, que o carneiro entre os muçulmanos está na relação dos dez animais admitidos por Maomé no paraíso. A divindade védica Kubera, guardiã dos tesouros e das riquezas da Terra, aparece cavalgando um carneiro divino, sua montaria (vahana).  


KUBERA

Só a partir dos 99 anos o patriarca dos judeus teve o seu nome mudado de Abram para Abraham, de ab, pai, e ram, elevado. Isto aconteceu no período de sua vida em que a fertilidade lhe foi prometida. A letra H, introduzida no seu nome significa abundância, enquanto o outro A traz uma ideia de reforço do aspecto criativo. Ambas as letras, sob o ponto de vista do estudo simbólico dos nomes próprios e de suas relações com números, têm o valor de 8 (colheita) e de 1, a unidade, o ponto de partida da criação, que acrescentada ao 8 perfazem o 9, número da procriação. 

Quanto a Isaac, lembre-se, segundo o mesmo estudo acima mencionado, que a letra A é sempre considerada como um ponto de partida da energia que vai ordenar o caos, a dispersão, sendo por isso considerada um atributo divino. Já o radical ish, que aparece em nomes como Ísis, Israel, Ismael, Isaías, Moisés e muitos outros, lembra homem, ish, em hebraico, o homem nas suas relações, tanto por semelhança como por intimidade com o divino. No latim bíblico, Isaac tem origem hebraica, do verbo itshak, ele ri. 


ABRAÃO  EXPULSA  AGAR  E  ISMAEL  ( 1657 ,  IL GUERCINO )

Isaac foi o primeiro judeu a ser circuncidado no tempo certo (oito dias depois do nascimento). Para desfazer boatos sobre seu nascimento, Isaac foi criado de modo a que se parecesse o máximo possível com seu pai. Por exigência de Sara, Ismael (Deus escuta, em hebraico), o filho que Abraão tivera com a escrava Agar, foi expulso da casa juntamente com a mãe. Depois de errarem pelo
BEDUÍNOS
deserto, Agar e Ismael receberam a visita de um anjo que os conduziu a um poço onde o Senhor anunciou a Agar que de seu filho nasceria uma grande nação. Seus descendentes seriam chamados de filhos do vento. Nômades e livres, eles tomaram o nome de beduínos (de badw, deserto) por se considerarem os únicos descendentes diretos de Ismael. Isaac se casou com Rebeca e se tornou pai dos gêmeos Esaú e Jacob, dando-se continuidade à história judaica. Morreu Isaac em Hebron aos 180 anos. Foi sepultado na gruta de Machpelá. Na tradição cabalística, Isaac representa o aspecto do julgamento severo de Deus (lado esquerdo). 

Diante do exposto e das preciosas informações que retiramos da "insólita Bíblia" (tradução francesa e comentários de André Chouraqui, 1917-2007),   o tema do complexo pode ser explicitado. Isaac é o arquétipo dos filhos aos quais os pais transferem os seus problemas para que estes os assumam ou paguem por eles; o filho que passivamente se coloca à mercê do pai, que procura lhe impor uma profissão ou fazê-lo seu herdeiro profissional; caso do descendente que deve assumir deveres ou responsabilidades paternas sem se revoltar. O patriarca hebreu, Abraão, é, nesta perspectiva, um ser cruel, orgulhoso, dominador, um ser da separação que rejeita o amor à posteridade, apesar de tudo o que os textos da ortodoxia judaica defendem contrariamente. 

Alguns textos rabínicos nos informam que Isaac tinha 37 anos quando se submeteu ao pai, deixando-se amarrar no altar do sacrifício. A história da akedá é lida na liturgia como lembrança de
ABRAÃO , 1786
( A. VERONESE )
uma forma de devoção dos patriarcas a Deus e da compaixão divina com relação a Isaac. Em Rosh ha-Shaná (festa de ano novo), além das referências à akedá, sopra-se um chofar como lembrança do carneiro que foi usado por Abraão como sacrifício alternativo. Na Idade Média, Isaac tornou-se o símbolo do martírio judaico. A morte de crianças judias pelos pais por causa da perseguição cristã ou pelo batismo forçado foi inspirada pela akedá de Isaac, acompanhada sempre da esperança da ressurreição. 

Ao longo da história cultural da humanidade, a história de Abraão e de Isaac foi interpretada e usada de diversos modos. Hegel, antes de Freud, viu no Deus dos judeus a imagem da própria natureza de Abraão, um patriarca cruel, egoísta e orgulhoso. Dominador,
TOMAS MANN
Abraão é um ser da separação; seu desprezo pela humanidade leva-o a rejeitar um dos sentimentos mais profundos do ser humano, o amor à posteridade. De um modo geral, inclusive na visão de escritores modernos que se valeram do tema, como Kierkgaard, Marcel Proust, Alfred Döblin e Thomas Mann, Isaac é o exemplo da vítima consentida, escravo do Pai, ser do silêncio e da submissão. 

O complexo de Isaac apresenta variadas nuances. Podemos encontrá-lo no mundo da realeza, nos casos de Luís XV e Luís XVI. No mundo empresarial, temos muitos exemplos de filhos que não têm a mínima vocação para herdar a situação paterna, mas que acabam por aceitá-la (estão diariamente na TV e nos jornais do mundo todo). Na política, os casos abundam e costumam ser
FAMÍLIA   MOZART
lamentáveis, quando não patéticos. Entre os profissionais liberais de sucesso são notáveis os exemplos do complexo de Isaac, isto é, de filhos que herdaram escritórios e clínicas famosos. Um exemplo histórico de como não funcionou o complexo foi o de Mozart, ainda que Leopoldo, o pai tentasse impô-lo ao jovem Wolfgang. O pai pretendeu fazer com que ele, desde a infância, “entrasse” no complexo. Só que Mozart era imensamente maior do que o papel que o pai queria lhe impor. 


EDUARDO  E  MRS.SIMPSON
Há casos, porém, em que o filho parece não aceitar passivamente a imposição do pai, do sistema que ele representa. Um dos maiores exemplos de alguém que parece ter se recusado a “entrar” no complexo foi Eduardo VIII, rei da Inglaterra e da Irlanda. Abandonou o papel, abdicando, para poder se casar (escândalo!) com uma norte-americana divorciada, Mrs. Simpson. A literatura poderá ser também uma boa fonte para o estudo dos casos deste complexo, Eça de Queirós, Balzac, Turgueniev e muitos outros mais.

KAFKA ( WANDY  WARHOL )
Uma das mais interessantes possibilidades de estudo de complexos centrados na figura paterna (de Kronos, do sucessor ou do herdeiro), além do de Isaac, está em Kafka. Aos 36 anos, ele escreveu ao pai, o comerciante judeu Hermann Kafka, uma longa carta (cerca de cem páginas manuscritas, depois transformada em um pequeno livro), jamais enviada. Nela, nosso escritor descreve todo o seu ressentimento com relação à autoridade paterna. Um texto fascinante, no qual o pai é chamado ora de tirano, de regente, de rei e mesmo de Deus (se quiser, veja neste blog o artigo Kafka e a Barata).

O complexo de Isaac, sucintamente descrito, é aquele que  tem como figura central o pai, que nele aparece como símbolo do poder fecundante, da posse (direito de vida e morte) sobre sua descendência e do domínio absoluto sobre o destino dela. Neste sentido, lembra sempre a instância ordenadora dos valores do filho, funcionando como seu censor e juiz. 

SATURNO   DEVORANDO  SEUS  FILHOS
( FRANCISCO  DE  GOYA  Y  LUCIENTES )

A maioria dos poetas, especialmente Hesíodo, sempre considerou a Idade do Ouro, que coincidiu com a reinado de Kronos, como algo muito favorável para os humanos. Na realidade, porém, Kronos foi um soberano incapaz de admitir qualquer modificação nas estruturas e na ordem concebidas por ele. Neste sentido, ele sempre lembrou um conservadorismo cego, obstinado, uma perfeição

estagnante se quisermos, decorrente de suas atitudes com relação à sua necessidade de concentração de poder, da sua rigidez e de eliminar qualquer forma de sucessão. Este é, para mim, o caso de Kafka, que, a seu modo, conseguiu superar o massacre a que o Pai o submeteu. 
Outro caso exemplar, do filho que supera a enorme pressão paterna, é o de Gavino Ledda, cuja história foi transformada pelos irmãos Taviani numa obra-prima cinematográfica: Pai Patrão (ver neste blog artigo sobre este filme).

Resumidamente, o complexo de Kronos pode assim ser descrito: nenhuma possibilidade de independência para o filho. Por outro lado, acomodado às regras do Pai, o filho nunca sabe viver de outro modo. Recusa-se mesmo a perder aquilo que o Pai instituiu. Neste sentido, é que Kronos se torna o poder da tradição, o poder dos mais velhos, da autoridade consagrada pelo tempo. Tudo isto, no mito, atropelou os que viviam na Idade de Ouro, fixando-os num tipo de comportamento que levava a um progressivo apagamento do eu, acorrentados que ficavam a um destino de frieza e de isolamento.

Ao complexo de Kronos damos também o nome de complexo do sucessor ou do herdeiro. A sua outra face. Nos tipos mais comuns, temos os casos dos que jamais se sentem à altura do Pai. Daí a sua defensividade, o seu temor, a dúvida e, o pior, o seu eterno autoquestionamento. É por isto que Saturno, na Astrologia, é representado muitas vezes pela imagem de um velho que carrega uma foice numa das mãos. É por essa razão também que Saturno é conhecido como o planeta da melancolia, um estado mórbido caracterizado por um grande abatimento moral e físico, hoje considerada nos meios técnicos como uma das fases da psicose maníaco-depressiva ou distúrbio bipolar.


SATURNO

O complexo de Kronos, sobretudo com a contribuição astrológica, sugere ideias de frieza, secura, desenxabimento, que sempre aparecerem associadas às figuras do velho (senex negativo), do ancestral, do pai, do órfão e a posturas, atitudes ou características que lembram limitação mortificante, memória incomum, retiro, buscas mentais profundas, erudição, solidão, uma noção permanente de pesos e medidas (pondus et mensura), esterilidade. Com o complexo de Kronos sempre presente também a ideia de canibalização. Isto é, o eu é devorado. Uma das mais perfeitas ilustrações do que aqui se coloca é a tela de Goya, Saturno devorando os seus filhos. Simbolicamente, associa-se o complexo de Cronos a tudo aquilo que lembra apagamento, aniquilação, autocrítica negativa, frustrações afetivas.