domingo, 11 de maio de 2014

MITOLOGIAS DO CÉU - VÊNUS (1)




Vênus, com exceção do Sol, da Lua e de alguns cometas, é o mais luminoso dos corpos celestes. Dista na Terra cerca de 42 milhões de Km. Na sua fase “cheia”, quando recebe mais luz do Sol, dista dele cerca de 260 milhões de km. É um planeta muito semelhante à Terra, tendo ambos aproximadamente o mesmo tamanho, volume, massa, densidade e gravidade. Do ponto de vista terrestre, Vênus gira para trás, isto é, do oriente para o ocidente, significando isto que em Vênus o Sol nasce no ocidente e se põe no oriente. Tal se deve ao fato de Vênus ter os pólos invertidos.  Enquanto os demais planetas do sistema solar têm uma órbita elíptica, a de Vênus é praticamente circular, sendo sua excentricidade inferior a 1% .

Da Terra, Vênus pode ser visto um pouco antes da alvorada ou depois do poente. No primeiro caso, é chamado de a Estrela da Manhã, Estrela do Pastor ou Estrela d´Alva; no segundo, de Estrela Vespertina. Desde tempos pré-históricos, Vênus foi confundido com uma estrela. Do ponto de vista terrestre, além da Lua, Vênus é o único astro que pode ser visto tanto de dia como de noite. É o planeta que mais se aproxima da Terra, sendo sua magnitude superior à da estrela Sirius, doze vezes mais. Devido à sua atmosfera, a observação de Vênus é muito difícil. O que se sabe é que sua temperatura superficial fica próxima dos 260º. Permanentemente coberto por nuvens,  sofre em sua superfície grande retenção de calor. 


QUERUBINS   (MESOPOTÂMIA)
  
Como Estrela Matutina, era chamado de Lúcifer (etimologicamente, o portador da luz). Os judeus, no entanto, como está no Livro de Ezequiel, deram esse nome a um anjo caído, da ordem dos querubins, anjos que tinham o semblante de crianças, ocupando um lugar proeminente na hierarquia celeste. Entre os cristãos, Lúcifer era o mais belo e forte dos querubins. Orgulhoso, pelo poder que lhe foi conferido por Deus, dentre todos os seus demais auxiliares, rebelou-se. 


ARCANJO GABRIEL (GUIDO RENI)

Quem comandou as hostes divinas contra Lúcifer e seus seguidores foi o arcanjo Gabriel, expulsando-os do céu. Inconformados, eles, desde essa expulsão, vêm tentando corromper os humanos, travando-se batalhas diárias entre as forças divinas pela posse do ser humano. Lúcifer passou desde então a ser chamado de Diabo (etimologicamente, caluniador, acusador ou o que leva à dispersão, o que desune e divide) ou Satã (etimologicamente, adversário). Como Diabo, Lúcifer tem o poder de tomar todas as formas que quiser. De um modo geral, lembre-se, a Igreja Católica, ao dar forma ao Diabo, foi buscar seus modelos nas antigas religiões vencidas quando o cristianismo se impôs como religião oficial do império romano. As grandes representações do Inferno se fixam mais a partir do séc. IX. Já no período gótico, que sucedeu ao românico, numerosas igrejas ostentavam cenas do Último Julgamento, realçando o Inferno como um lugar onde corpos humanos eram submetidos a terríveis torturas por demônios. 


DIABOS (GUSTAVE DORÉ)

O Diabo, no cristianismo, assumiu o controle do Inferno, reino do mal, concebido como um lugar em que as almas pecadoras se encontram depois da morte, submetidas a penas eternas. Foi durante a Idade Média que o Diabo, no cristianismo, ganhou um visual mais terrível: asas de morcego, pés de bode, olhos de fogo, chifres enormes na cabeça, olhar assustador, carregando um tridente nas mãos. Desde então, Lúcifer, também chamado de Diabo, assumiu de modo indiscutível a tutela do reino do mal. Com esses nomes, ele passou a representar tudo que é superlativamente maléfico.

Até um determinado ponto na história das religiões, no cristianismo especialmente, o demônio, antes de  adquirir  o  visual  descrito, era
uma espécie de gênio interior do ser humano, daimon, em grego. Este gênio se envolvia com a alma do homem, agindo como um intermediário entre a vontade divina e a sua consciência. É neste sentido que Sócrates fala de seu daimon (fig.ao lado), quando lhe pede conselhos. O daimon funcionava assim como um spiritus rector, representando a presença de Deus no homem. Esta ideologia demoníaca ganhou expressão mais acabada  no cristianismo e no islamismo. 

Aos poucos, a figura do daimon interior  foi se aproximando da do anjo, figura originária das crenças astrais dos assiro-babilônicos, que passou a fazer parte das ideias religiosas de todos os povos semíticos. Destes, a figura passou aos hebreus, para intermediar as relações entre a divindade e os humanos. Acabaram sendo depois hierarquizados em diferentes grupos no cristianismo.

Ao identificar o daimon interior com o anjo, os cristãos acabaram por lhe atribuir o papel de representante da força interior que Deus não governava no homem, uma força demoníaca, diabólica,identificando-a como o intelecto. Esta perda de status, diante das hostes angélicas, uma perda que os transformou em auxiliares de Satã, fez com que muitos deles se revoltassem. É o caso de Lúcifer. Quem, nos tempos modernos, tenha talvez melhor retomado estas ideias no campo da arte tenha sido Ingmar Bergman com o seu cinema (vide o documentário) .  

       “Mestre do  dois”,  isto  é,  da  divisão , da  separação,  Lúcifer 
foi muitas vezes considerado como guia da humanidade, o pai da consciência humana que, para existir, tem, por sua própria natureza, a necessidade de criar uma fenda,  um fosso, entre ela e as coisas que lhe aparecem. É neste sentido que a frase de Hegel pode ser citada: Toda consciência é uma consciência infeliz. Neste sentido, ela não poderia existir sem a interferência do Diabo (o que divide, o que separa), “obrigando” ele a  mente humana trabalhar por separação. Ou seja, tomar consciência é separar-se.

Várias seitas gnósticas de Alexandria já associavam, nos primeiros séculos do cristianismo, Lúcifer a esta separação, sempre de caráter
LÚCIFER
diabólico; a mente humana tentando orgulhosamente explicar tudo, sobrepujar inclusive aquilo que vinha do divino. Foi sobretudo do século XVIII para o século XIX, com o Romantismo e depois com o Simbolismo, que a revolta do homem contra o seu destino voltou a ser simbolizada por Lúcifer, o que transporta a luz, o intelecto revoltado.


A função do Diabo, de Lúcifer, pois, será a de privar o ser humano da graça divina para submetê-lo ao seu poder e dominação. Assim, é este anjo caído que vai simbolizar as forças de desintegração da personalidade do homem, representando  o número dois, número feminino por excelência, a ambivalência, o conflito, um antagonismo que de latente se tornou claramente manifesto no mundo moderno. Uma rivalidade que pode se transformar em ódio em muitos casos. O dois, nesse sentido, é o número de todos os desdobramentos, o número através do qual o homem cai na multiplicidade, na dispersão. Símbolo da polaridade, da oposição, da divisão, é tanto criação como destruição.


LÚCIFER   ( WILLIAM   BLAKE )

Para os teólogos em geral, os demônios são todos anjos caídos. Seu chefe é Lúcifer, o Brilhante. É ele, além do mais, o representante das forças inconscientes recalcadas que influenciam a consciência, provocando a sua desintegração. É o inimigo natural da espiritualidade e da elevação psíquica. Ao aparecer antes do Sol, Lúcifer, orgulhosamente, tenta ofuscá-lo, como aspecto visível da manifestação da divindade, astro símbolo do poder criador. Lúcifer tenta sempre, com a sua luz, substituir a irradiante luz solar, inteligência cósmica, o conhecimento procurado por todo o candidato à iniciação.      
   
 A luz, como se sabe, é um símbolo universal da divindade ou da espiritualidade. Foi ela que permitiu ao universo sair do caos, revelando-o, afastando a escuridão para os seus últimos limites. A luz solar sempre foi identificada com o espírito, o movimento animador do cosmos, uma radiação que partindo de um centro se propaga em todos os sentidos através do espaço. Lúcifer era a rebelião contra tudo isto. 


LILITH  ( CATEDRAL DE NOTRE DAME DE PARIS )

Na tradição hebraica, os demônios se dividiram em dez categorias hierarquizadas, provenientes dos dez sefirots, as dez estruturas
SAMAEL
divinas que fizeram surgir o mundo da emanação, constituindo os diferentes níveis da realidade. Um demônio para cada etapa da emanação, personificando cada um deles uma paixão, um vício. O chefe supremo destes demônios é Samael, seu príncipe, e marido de Lilith, aquela que se rebelou porque Adão e Deus não lhe deram a condição de igualdade (Gênesis, cap. I). Ele tem pele escura, chifres, patas de bode. É identificado como Satã, a personificação da inclinação para o Mal. Quem se opõe a ele, no judaísmo, é Miguel, o anjo guardião de Israel. Foi Samael que enviou a serpente para seduzir Eva no Jardim do Éden. Ativo dia e noite, ele é o grande tentador. Sempre que alguém peca, o poder de Samael aumenta. Isto permite que ele assuma temporariamente o controle da Sechiná, a luz através da qual Deus entra em contacto com o homem. 



EXPULSÃO DO PARAÍSO  ( MICHELANGELO BUONARROTTI )

A rebelião de Lúcifer, segundo os judeus, começou quando ele, o maior dos anjos, com o dobro de asas de todos os demais, se recusou a prestar homenagens a Adão, que não passava de uma criatura feita de pó, enquanto ele, Lúcifer ou Satã, era feito de luz. Além do mais, ficou ele com ciúmes de Adão por Deus lhe ter dado uma companheira. Lúcifer ficou por trás do pecado de Adão no Éden e, por meio da serpente, manteve contacto com Eva, nascendo dessa união Caim. Foi também Lúcifer que ajudou Noé a se embriagar, além de ter tentado Abraão a não dar ouvidos a Deus quando este lhe pediu o sacrifício de Isaac. Foi também Lúcifer quem induziu os judeus a acreditar que Moisés havia morrido e os levou a adorar o Bezerro de Ouro. Da mesma forma foi Lúcifer, como está no Talmud, que, na forma de uma lindíssima mulher nua, tentou o sábio Akiva, quando este se desnudara para subir numa árvore. 


DIANTE  DA  BOLSA  DE  NOVA


Satã (precipitado do céu, em grego) ou Lúcifer é a própria personificação do Mal, sendo conhecido por muitos nomes, Diabo, Samael, Belzebu etc. Segundo a tradição, Ele casou com
VAIDADE  ( HANS MEMLING )
a Impiedade e dela teve sete filhas. A primeira chama-se Orgulho e foi dada em casamento aos poderosos da Terra; a segunda, Avareza, foi dada em casamento aos comerciantes de toda a espécie; a terceira, Hipocrisia, foi  dada em casamento aos velhacos; a quarta, a Inveja, aos artistas; a quinta, Vaidade, aos efeminados; a sexta, Avidez, aos mercenários; a sétima, Impureza, ele a conservou para dar àqueles que fossem procurá-lo. 




Já Vênus, como a Estrela do Pastor, aparece desde a pré-história,     como  um  símbolo  do  conhecimento  daqueles  que   conduzem, 
cuidam, guiam e protegem. Este conhecimento compreende principalmente a vigilância, dela fazendo parte uma sabedoria intuitiva que ajuda na previsão do tempo e permite o discernimento de todos os ruídos, principalmente os da noite. O ouvido do pastor é agudo, nada lhe escapa; ele pode ouvir os lobos quando se aproximam ou o balido de algum animal perdido. Ele conhece naturalmente o alimento que mais convém aos animais e o lugar onde eles podem beber livres de ameaças. Acima de tudo, porém, o pastor é um observador atento dos céus, do Sol, da Lua e das estrelas. A primeira que ele vê, antes do Sol aparecer, é a “sua” estrela, a Estrela do Pastor. Ela marca os limites do seu dia, recolhendo-se e se levantando com ela. 

DAVID (N. CORDIER, STA.MARIA,MAGGIORE
As estrelas, é bom lembrar, sempre foram muito importantes para os povos nômades. É por esta razão, por exemplo, que a Estrela do Pastor tinha tanta importância para os judeus. Os nômades, os pastores, de um modo geral, na cultura judaica, sempre foram muito mais honrados que os de vida sedentária, haja vista que o preferido de Deus era Abel, nômade, pastor e guerreiro, enquanto Caim era um agricultor, um sedentário, um homem  da técnica, construtor de cidades.   Lembre-se ainda que o jovem David, antes de assumir o reino de Israel, foi um dedicado pastor que protegia o seu rebanho. O desvelo com que David cuidou desse rebanho mostrou a Deus que ele era o homem certo para ser o futuro rei de Israel. 


A estrela de David, estrela do pastor, também chamada de maguen
David (escudo de David) foi adotada como o emblema judaico. É uma estrela de seis pontas, hexagrama, feita de dois triângulos entrelaçados. Essa estrela pode ser vista em padrões decorativos judaicos e em lápides tumulares ou pingentes em cordões. Embora seja hoje a estrela do pastor o símbolo judaico por excelência ela não o era na antiguidade. A Estrela do Pastor começou a ser usada em desenhos mágicos judaicos só na Idade Média como amuleto.  

O emblema foi introduzido ostensivamente na Europa, pela Igreja católica pelo concílio de Latrão em 1215, para evitar sobretudo o contacto sexual entre cristãos e judeus. Todo judeu apanhado sem esse emblema, costurado obrigatoriamente na sua roupa, em lugar bem visível, seria multado. No séc. XX, quando os nazistas invadiram a Polônia, onde viviam muitos judeus, eles foram obrigados a usar uma Estrela de David amarela, costurada na roupa, como emblema distintivo. A Estrela de David, desde a fundação do moderno estado de Israel (13 de maio de 1948), figura na sua bandeira. 


PASTOR  DA SERRA DA ESTRELA, 1911

Já mais perto de nós, em Portugal, a Estrela do Pastor aparece associada a uma das mais belas histórias da tradição popular, a Lenda do Pastor da Serra da Estrela. Esta serra, como se sabe, fica no centro de Portugal, perto de Coimbra, atingindo os seus picos, sempre nublados, alturas que oscilam entre 1800 e 2000 m. Nela vivem muitos pastores, criando ovelhas principalmente. 

A lenda nos conta que um desses pastores, muito pobre, que vivia numa pequena aldeia, tinha por única companhia um cão. Ele sonhava: um dia viajaria, indo muito além das montanhas que envolviam a sua aldeia. Numa noite gelada, de um luar puríssimo, o pastor olhou o céu estrelado. Ficou assim por muito tempo até que, num determinado momento, uma pequena estrela desceu do céu e dele se aproximou. Disse-lhe ela que, sabedora do seu desejo de viajar, estava ali para ajudá-lo. Durante muitas e muitas noites, o pastor ficou ali, no alto da montanha, a observar a estrela sem nada dizer. 

Certa noite, porém, ele tomou a decisão de partir em busca do seu destino e pediu à estrela para lhe fazer companhia. O pastor na terra e a estrela no céu caminharam muito. Chegando à mais alta montanha que já vira, o pastor resolveu parar, pois, segundo pensou, não só encontrara ali o seu destino como poderia também ficar o mais perto possível da sua estrela. Na Serra da Estrela, em Portugal, quem passar por essa montanha poderá ver, nas noites de inverno, do alto dos picos, uma estrela que brilha mais que todas. O povo das montanhas diz que ela brilha assim, de amor, de saudade, porque o pastor já não está mais lá, morreu há muito tempo...


Um dos maiores poetas da língua portuguesa, Eugênio de Castro, deixou-nos este soneto sobre ouvir e falar com estrelas:



Antes de me deitar, fecho a janela, 

Habituado a dormir sempre às escuras.
Mas ao fechá-la, diz-me das alturas
Uma doirada e pequena estrela

Vais dormir com uma noite assim tão bela?
Pois não vês como nós brilhamos puras?
Terás na morte a treva que procuras
E tanta que hás de aborrecer-te dela.

Se é de lágrimas só o teu fadário
Dorme para esquecer... Mas do contrário
Vela e mira-nos bem com os olhos ternos.

Dormir o que é senão morrer um pouco?
Vive! Aproveita ainda pobre louco!
Olha que em breve deixarás de ver-nos.


Entre nós, no Brasil, Olavo Bilac  nos deixou o Ouvir Estrelas:

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido 
tem o que dizes, quando não estão contigo?

E eu vos direi: amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.





Uma observação: a estrela Capella, alfa Auriga, a 21º 15´ de Gêmeos, a estrela mais brilhante dessa constelação, a sexta mais brilhante do céu noturno, é conhecida também como a estrela do Pastor. Esta estrela foi adorada pelos egípcios e pelos gregos, tendo servido de base, entre estes últimos, para a sinalização do local onde foi construído o templo de Elêusis onde se celebravam os famosos mistérios da deusa Deméter.

No que nos toca mais de perto, lembramos que na mitologia grega a estrela da manhã era conhecida pelos nomes de Eosphoros (Eos é a
SÃO JERÔNIMO
deusa da aurora; ou seja, Eosphoros é o astro que a transporta), de Phosphoros, literalmente, o portador da luz, conhecidos pelos latinos pelo nome de Lúcifer, nomes todos relacionados com o planeta Vênus. Na Vulgata, São Jerônimo usou o nome Lúcifer para traduzir a palavra hebraica Helel  (Vênus como a brilhante estrela da manhã), filha de Shachar, a Aurora, conforme está em Isaías (14:12): Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante? Como caíste por terra, tu, que ferias as nações? Os gregos acreditaram, inicialmente, que Eosphoros e Hesperos eram corpos celestes diferentes. Mais tarde,  passaram a adotar o ponto de vista dos babilônios, vende-os como o mesmo corpo celeste, sendo Eosphoros e Hesperos divindades que viviam no planeta Vênus.


Astraios, da geração dos titãs, filho de Crio e Eurybia, era o deus do poente, ou melhor, era o deus que quando a noite chegava fazia com que as estrelas aparecessem. Ele se uniu a Eos, deusa da
TORRE DOS VENTOS - ATENAS
Aurora, nascendo dessa união muitos filhos que se associam a tudo o que acontece no crepúsculo. Assim, são seus filhos os quatro anemoi (ventos), Zéfiro, Bóreas, Notus e Euros, e os cinco “Astra Planeta” (astros errantes), Phainon (Saturno), Phaeton (Júpiter), Pyroeis (Marte), Eosphorus/Hesperos (Vênus) e Stilbon (Mercúrio). Algumas versões desse mito mencionam que Astraios tem uma irmã, Astréia, a constelação da Virgem. 


Mudando o nosso enfoque, dirigindo-o para a pesquisa histórica, ou melhor para os períodos pelos quais passou a humanidade, sempre com o objetivo de levantar o que o planeta Vênus simbolizou nesses períodos, nosso interesse se fixa naquele momento em que o homem começou a se sedentarizar. Na passagem do período paleolítico para o neolítico, como se sabe, a agricultura começou a ter um significado muito importante para as populações que até então tinham vivido segundo uma economia predadora e coletora. 

A vida agrícola começou a fixar o homem à terra, fato que provocou uma crise com relação aos valores do período anterior.
Isto significou sobretudo que as relações religiosas com o mundo animal foram fortemente abaladas, surgindo uma solidariedade mística entre o homem e a vegetação. Com isto, a mulher e a sacralidade feminina passam ao primeiro plano. A fecundidade da mulher e a fertilidade da terra são solidárias. A fertilidade terra é, por excelência, um tema feminino. O solo fértil se assemelha à mulher. Penetração do arado na terra e ato sexual se equivalem. Criam-se novas instituições que vão refletir a nova situação, todas consagrando o poder feminino. 

Um simbolismo complexo  relaciona a mulher e a sua sexualidade aos ritmos lunares, à Terra como matriz, ao mundo vegetal. Todos os valores religiosos que surgiram mudaram conceitos, falando-nos, por exemplo,  do tempo ciclicamente, da vida, da morte e do renascimento. A renovação periódica do mundo era, como se constatou, um fenômeno tipicamente feminino.

Receptáculo da vida, matriz na qual se concebe o mundo animado, sempre associado às águas originais, a figura da Grande Mãe aparece em todas as tradições e sob uma grande multiplicidade de aspectos. Os mitos fixam como personagem desse período histórico as chamadas Grandes-Mães, de caráter universal, para conferir ao cosmos as propriedades femininas da presença primeira, nutricional e protetora.