sexta-feira, 21 de julho de 2017

VIRGEM (2)

ASTEROIDES

A constelação de Virgem teve as suas relações com Deméter ampliadas significativamente quando, a partir do início do séc. XVIII, descobriram-se pequenos planetas, chamados de asteroides, entre Marte e Júpiter. Um deles, o maior, descoberto em 1.802, recebeu o nome de Ceres, uma das “deusas trabalhadoras” da mitologia, da romana, no caso. O outro asteroide recebeu o nome de Vesta (Héstia dos gregos), também, como o primeiro, considerado pela Astrologia como corregente de signo de Virgem. A estes asteroides, juntaram-se outros dois, descobertos mais tarde, de nome Juno e Palas. Os quatro passaram a representar um sistema arquetípico que completava o mundo feminino da Astrologia, “defendido”, antes do séc. XVIII, só pela Lua e por Vênus. Esses asteroides devem ser considerados como aspectos da vida feminina, até então dispersos e fragmentados, que buscavam uma integração mais consequente e um melhor equilíbrio com a antiga preponderância dos planetas que formavam o mundo masculino da Astrologia. 

CERES
O asteroide Ceres tem a ver astrologicamente com a relação mãe-filho. Esse papel sempre foi assumido pela Lua, como regente do signo de Câncer, principalmente quanto aos seus aspectos biológico, emocional e psicológico, e, como tal, relacionados com o elemento água. Ceres se revelou como o arquétipo que tipifica a “mãe terra”, a biológica ou não, a que nutre, cuida, educa e que prepara para a caminhada futura (a passagem de Leão para Libra e assim por diante). As pessoas que têm Ceres em posição de destaque nos seus mapas se identificarão fortemente com um papel materno, protetor. Com Ceres há sempre uma forte ligação com nutrição e hábitos alimentares. No nosso mundo moderno altamente industrializado esse papel praticamente desapareceu. A agricultura, lembre-se, começou a ser envenenada pela química quando os agrotóxicos a invadiram pesadamente no período em que Plutão transitou por Virgo, a partir do final dos anos de 1.950.

DEMÉTER   E   PERSÉFONE
Outro fator importante a ressaltar quanto a Ceres, nome latino da Deméter grega, é o fato de que ela apresenta o seu melhor aspecto quando em companhia de Koré-Perséfone, nos seis meses que duram a primavera e o verão. A deusa se "deprime" quando a filha desce às profundezas da Terra para passar os outros seis meses em companhia de Hades-Plutão. Esse período em que Deméter e Koré-Perséfone passam juntas, quando tudo floresce, poderá ser considerado talvez como aquele em que consigamos integrar melhor as nossas tarefas diárias com as nossas necessidades emocionais.


O símbolo de Ceres lembra o de Saturno invertido. Ceres (Deméter) era uma das crônidas e foi, com seus irmãos, à exceção de Zeus, devorada pelo pai. Sua filha, Koré, também foi raptada, engolida, só que pelo mundo subterrâneo. Uma associação possível poderá ser estabelecida, acredito, entre  Plutão e Ceres sob o ponto de vista astrológico, na medida em que, por exemplo, num trânsito do primeiro, possamos ter que enfrentar simbolicamente uma perda equivalente ao rapto da jovem. Além do mais, a relação de Ceres (Deméter) com as lamentações e estados depressivos (perda da filha) poderá ser muito notável também, na medida em que o asteroide estiver em debilidade ou mal aspectado, principalmente nas suas relações com o signo de Escorpião e com os seus regentes. 


HÉSTIA
Outra divindade que "vive" no signo de Virgem é Héstia, na Astrologia com o nome latino de Vesta, também corregente do signo de Virgem. Héstia é a mais velha das crônidas. Ao repelir as insistentes investidas eróticas de Zeus, mantendo-se intocada, acabou ganhando do senhor do Olimpo o status da virgindade, ou seja, a capacidade de se autodeterminar sem levar em consideração as pressões externas. Sempre recebeu, por isso, homenagens excepcionais, em todos os lares, praças esportivas, casas de arte, templos e repartições públicas. É uma deusa sem histórias. Confunde-se com o centro das casas, a lareira, lugar privilegiado em torno do qual a família deve se constituir. Ao simbolizar a pureza, é honrada quando do início de qualquer atividade. 

FOGO   DOMÉSTICO
( VÁCLAV HOLLAR , 1607 - 1677 )
Héstia era venerada também no centro das cidades como o fogo da pátria, o omphalos (umbigo), um lugar que reproduzia civicamente o que ela representava no gineceu. Héstia não é simbolizada por imagens, recusando-se o arquétipo a qualquer semelhança com a figura humana. Ela é o fogo doméstico, um aspecto específico do mundo que não  é ”ninguém”, que é incorpóreo, mas que a todos congrega. Os romanos conservam o fogo sagrado que a deusa (Vesta) representava também na dependência pela qual se tinha acesso às casas, a entrada, o vestíbulo, um pátio ou pórtico exterior à entrada principal de um edifício. 

A dificuldade que em tempos muito recuados na história da humanidade os homens tinham para conservar o fogo explica a solicitude  e a veneração que cercava este elemento. Hefesto é também uma divindade ligada ao fogo, como Héstia. O fogo de Hefesto,porém, se liga à produção de bens materiais enquanto o de Héstia tem um caráter doméstico, social. A deusa compartilha com Ártemis e Palas Atena o estatuto da virgindade, da castidade, o que as coloca em oposição a Afrodite. 

Héstia encarna o princípio do sacrifício permanente. Controle, reflexão. serviço e sobretudo dedicação são características da atuação do asteroide, tudo ligado à capacidade de se manter fiel a uma escolha ou a uma convicção. Para Héstia não há modismos.
VESTAL (R. MONTI, 1850) 
Evidentemente, a deusa pode levar a um idealismo abstrato ou a uma obsessão alienante. O sentido de respeito e da palavra dada, da observância intransigente de uma tradição, pode tomar um sentido muito negativo, levando alguém, nas suas expressões negativas, a se retirar do mundo, a se isolar socialmente. Num sentido superior, Héstia torna-se, porém, o princípio da purificação da alma através de experiências vividas. As lições de Héstia são sempre as mais austeras enquanto disserem respeito ao auto-domínio. Por isso, quando este asteroide ocupa uma posição de relevo no mapa de uma mulher e há também uma dominante em fogo poderosa através dos planetas pessoais podemos esperar conflitos mais ou menos graves, sérios. 


HÉSTIA
Uma das únicas representações que se conhece de Héstia, entre os gregos, nos mostra uma figura "sem rosto", sem persona. O arquétipo atinge a sua plenitude quando não há (mais) necessidade de um relacionamento em particular, da convivência com outras pessoas, de vida social, para que a pessoa seja o que quiser ser. A Héstia superior é aquela que não se ilude com a necessidade de algo exterior para completá-la. Ao contrário, ela escolhe livremente a direção a ser dada à sua vida, sempre um calor generoso e isento de qualquer possessividade, sendo doação absoluta, portanto. Sempre a rondar o arquétipo, porém, nos tipos astrológicos inconscientes do seu poder, a esquizofrenia e o vampirismo, por ação reflexa do signo oposto a Virgem. 


ASTREIA  DEIXA  A  TERRA ( SALVADOR ROSA , 1615 - 1673 )

Entre os gregos muitos são os mitos relacionados com o signo de Virgem. Um deles é o de Astreia (nome que lembra estrela cadente). Filha de Zeus e de Têmis, titânida, a grande divindade das

leis imprescritíveis, Astreia, segundo o mito, teria vivido entre os humanos na Idade de Ouro e sua missão teria sido a de assegurar ideais de justiça, paz e benevolência entre os mortais. Mas, devido à degeneração do mundo dos humanos (da Idade de Ouro à da Prata, desta à do Bronze e desta à do Ferro), principalmente nos grandes centros urbanos, nas cidades, Astreia retirou-se para viver entre os que pareciam ainda não haver se corrompido tanto, os habitantes dos campos, tudo conforme nos conta o poeta Virgílio (Geórgicas). 

AIDÓS
Astreia, contudo, logo constatou que a corrupção também lá já grassava. Diante disto, a deusa, muito desgostosa, retirou-se, indo para os céus, tomando a forma da constelação de Virgem. Sua irmã, Aidós, o Pudor, também chamada de Vergonha, fez o mesmo, indo para o Olimpo. Os gregos antigos nos dizem que, com Aidós, também subiu aos céus a deusa Nêmesis, a que repunha os limites e curvava os orgulhosos, ambas inteiramente decepcionadas e desesperançadas com relação à miserável raça humana, como nos diz Hesíodo.

Os gregos associavam Deméter, como se disse, ao signo de Virgem. Filha de Cronos e de Reia, irmã de Zeus, uma crônida, portanto, Deméter, deusa do trigo e dos grão em geral, tem a ver com a vida
VIRGEM
das estações, com o crescimento das sementes, a vegetação dos campos trabalhados pelo homem. O longo processo iniciado em Áries, o aparecimento do vegetal, encontra o seu final em Virgem. Os vegetais estão no ponto para serem colhidos. A espiga está pronta para a debulha, momento de separação, o corte do que é impróprio para consumo ou uso. É neste momento também que deve ser levado para os celeiros o que se colheu tendo em vista a sua utilização e o seu aproveitamento futuro ao longo do ano. 

PREPARO   DO   PÃO
Já se disse que a grande força do signo de Virgem está na colheita e na destinação do que foi colhido, na sua utilização, no seu emprego. Em Virgo se “prepara o pão”, em função do que foi cultivado e colhido. Todas as atividades do signo estão representadas de alguma maneira no mito de Deméter. É com base nestas considerações que o melhor exemplo da relação Deméter-Virgo está nos Mistérios de Elêusis. 


Dentre todos os cultos das religiões de mistério do mundo grego, o de Elêusis foi, sem dúvida, a mais importante. Historicamente, lembremos que, por razões políticas e sociais, a aristocracia que, a partir da polis, se instalou no poder ao fim do período arcaico procurava separar por todos os meios os cultos entre as suas divindades, isolando-os para evitar certas “contaminações.” Dioniso e Deméter eram divindades do campo. São divindades ligadas ao mundo vegetal, que falam de morte e de renascimento. Chocam-se, neste sentido, principalmente Dioniso, às vezes violentamente, com as divindades oficiais e aristocráticas da cidade, Apolo e Palas Atena, de modo especial.


MISTÉRIOS   DE   ELÊUSIS

Dioniso e Deméter pontificavam em Elêusis, um lugar de culto distante da cidade, no campo. Os templos de Apolo e de Palas Atenas ficavam na polis, pois eram divindades políticas. Um conflito cidade-campo, pois, e, também, duas propostas de imortalidade que se chocavam. A proposta eleusina punha, de certo modo, em perigo todo um estilo de vida e um universo de valores. Não foi por outra razão que Atenas tentou de várias maneiras interferir em Elêusis. Acabou conseguindo através de famílias sacerdotais importantes (Eumólpidas, Querices e Filidas), assinando-se um acordo pelo qual as cerimônias de Elêusis se tornaram uma festa religiosa oficial do estado ateniense, ficando tudo sob o controle de funcionários indicados pela polis, que entrava com financiamentos, força policial etc.


CERES

O culto de Deméter, como celebrado em Elêusis, falava, como se disse, de morte e de renascimento, a morte da semente no interior da terra, lembrando como tal sua descida para uma permanência no mundo subterrâneo e a sua volta numa outra forma, consequente daquela, representada por um acesso à luz, isto é, do não manifesto ao manifesto. Toda esta simbologia está evidentemente ligada ao trigo, que desempenha um papel fundamental na alimentação europeia desde a mais remota antiguidade. Sempre considerado um dom divino, o trigo, que não nasce espontaneamente, que depende muito do trabalho humano, sempre foi visto como o alimento da imortalidade.



Saliente-se que entre os egípcios o trigo era um dos símbolos de Osíris, o deus das forças vegetais e da ressurreição, que o fez nascer no delta do Nilo. No mito, a Ceres dos romanos, deusa da terra cultivada, significava abundância e, associando-se ao ciclo das estações, renovado anualmente, à esperança de uma vida eterna. Atribui-se igualmente a Ceres (fazer crescer, etimologicamente) a dádiva do trigo aos povos do Lácio e o ensino de técnicas adequadas para arar a terra e cultivar o grão. 

SIBILA   DE   CUMAS
Conta-se que quando os etruscos, povo que já vivia na Itália bem antes da fundação de Roma, invadiu a cidade, ainda recém-fundada, e a fome, pela falta de alimentos, ameaçou dizimar a população, a Sibila de Cumas, consultada, recomendou que fossem introduzidos em Roma os cultos de Deméter, Perséfone e Dioniso. Assim foi feito, ganhando estas divindades, respectivamente, os nomes de Ceres, Líbera  e Líber ou Baco. Em honra de Ceres celebravam-se em Roma os Ludi Cereales ou Cerealia, festividades que se estendiam por uma semana entre 12 e 19 de abril, anualmente.


CEREALIA

Um dos mitos gregos cuja existência é explicada pelo signo de Virgem e pelo signo oposto e complementar, Peixes, é o de Arion (areion, em grego), famoso cavalo mítico de crinas azuis,
ARION
velocíssimo. Arion, o melhor, o mais corajoso, é um superlativo da palavra grega agathos, bom. Etimologicamente, podemos levar estas reflexões para a palavra grega areion, que tem relação muito próxima com Areios, isto é, com Ares (Marte), deus sempre envolvido com cavalos. Lembremos a propósito que o primeiro trabalho de Hércules tem ligação direta com esse animal: a captura dos cavalos antropófagos de Diomedes, filho de Ares. Cavalos, como sabemos, são símbolos do psiquismo inconsciente. Na mitologia grega, são criaturas de Poseidon, que, sob o nome de Hippios, os “inventou”. Arion, no mito, é justamente filho do grande deus do elemento líquido e da deusa Deméter, gerado pela união de Poseidon, na forma de um garanhão, com a deusa. Esse acontecimento se verificou quando Deméter, em visita à terra, na desesperada procura de Koré, a filha raptada por Hades, tomou a forma de uma égua. 



CAVALOS   DE   POSEIDON  ( 1892 , WALTER  CRANE )

Esse encontro de Deméter com Poseidon é a união de dois temas: o começo da utilização do cavalo na agricultura, um importante momento na história da humanidade que dessa maneira foi ilustrado. Descreve-se miticamente a domesticação do cavalo selvagem (psiquismo inconsciente) e sua utilização nos trabalhos agrícolas, ou, de outro, uma associação alquímica entre os elementos fogo e terra. A Astrologia nos deixa claro que o cavalo selvagem (psiquismo inconsciente) emerge do signo anterior,
DEMÉTER
Peixes, governado por Netuno (Poseidon). É em Virgem (Deméter) que se dá a passagem da natureza bruta, da selvageria, à civilização, do sub-humano ao humano. Lembremos que as crinas do cavalo Arion são azuis, cor que, dentre todas, sempre apareceu muito ligado ao domínio espiritual. O azul é ambíguo e em Arion é a “presença” netuniana (Áries é, assim, uma “consequência de Peixes). Pode indicar evolução ou regressão. O azul em muitas línguas traduz uma ideia de embriaguez, afastamento da realidade, altura, perda de consciência. Lembremos que o céu e o mar são sempre representados pela cor azul. 



ERÍGONE  ( FRANÇOIS  BOUCHER , 1703 - 1770 )

Os antigos gregos costumavam também associar a constelação de Virgem ao mito de Erígone, filha de Icário, herói epônimo da região. Conta-se que quando o deus Dioniso resolveu ensinar aos humanos o cultivo da vinha e a produção do vinho, Icário foi o primeiro a hospedar o deus, que logo se apaixonou por Erígone. Amaram-se e da união nasceu um filho, Estáfilo (cacho de uva). Ao partir, Dioniso deu a Icário um odre de vinho com a recomendação de que ele o compartilhasse para que seu culto se propagasse. 
       
DIONISO, ICÁRIO E MERA
Dividido o vinho recebido de Dioniso com alguns pastores da região, todos se embriagaram. Julgando-se possuídos por alguma entidade ou envenenados, os convivas de Icário o mataram. Mera, o cão de Icário, com seus insistentes latidos, revelou a Erígone, que não participara da festa, o lugar em que o corpo do infeliz camponês fora jogado. A jovem, tomada de imenso desespero ao ver o pai assassinado, enforcou-se. Dioniso, em represália, fez com que uma verdadeira epidemia de loucura (mania) atingisse os jovens da região. Consultado, o oráculo de Delfos sentenciou que o castigo se prolongaria até que determinados ritos purificadores fossem instituídos em homenagem ao pastor e à sua desditosa filha. Os assassinos foram severamente punidos e, desde então, para que o fato fosse lembrado para sempre, foi celebrada uma cerimônia, a ser repetida anualmente, em que imagens de uma jovem (Erígone) fossem penduradas nas árvores da região. Esta cerimônia deu origem a uma famosa festa, a das Oscilla (figurinhas), em homenagem ao deus, Liber Pater, chamada na Itália de Liberalia


LIBERALIA  ( ANNIBALE  CARRACCI , 1560 - 1609 )

Na realidade, Líber Pater é um antigo deus itálico, uma divindade rústica da vegetação, identificado como Dioniso. Essa divindade favorecia a procriação e a fecundidade universais, sendo ela considerada como a liberadora do sêmen em toda relação sexual. Na agricultura, ela atuaria na semente depositada no interior da terra. As festas em sua honra eram celebradas a l7 de março e tinham caráter fortemente licencioso. 

Estas cerimônias envolvendo os personagens acima fazem parte da introdução dos cultos dionisíacos em várias regiões da Grécia e, depois, na Itália, onde o deus passou a ser chamado de Baco. Fazia parte também das cerimônias a morte ritual de um cão por ocasião da plantação de vinhas. Há aqui um catasterismo que pertence a um antigo substrato mítico, projetado nos céus, sendo Erígone a constelação da Virgem, Icário o Pastor, a constelação de Bootes, e Mera a constelação do Cão Menor, aparecendo Dioniso como Eleutherios, o Libertador, um de seus nomes. 

O ciclo das estações sempre foi simbolizado de várias maneiras. A forma mais comum de se ver esse drama cósmico no mito foi a de representá-lo através da relação terra-mãe com seu filho. Em várias tradições esse filho é do sexo masculino, sendo ele, além de filho, também amante de sua mãe. São divindades que morrem e ressuscitam anualmente, como temos nos exemplos de Dammuzi e Adônis, respectivamente deuses sumério e fenício da vegetação. Esses deuses morrem no fim do verão e renascem anualmente no início da primavera. Os cristãos medievais viram nessas histórias uma ilustração antecipada do drama da paixão de Cristo, a Virgem Maria (Grande-Mãe) com o seu filho moribundo. 

No mito de Deméter, o filho-amante da deusa é substituído pela figura de Koré-Perséfone, isto é, pela semente, que morre e se multiplica como símbolo das vicissitudes da vida vegetal. Ligada ao simbolismo do ciclo das estações,  a semente é também reveladora da alternância entre a vida e a morte, da vida no interior da terra e da vida na luz, do imanifesto ao manifesto. Daí, a iniciação nos Mistérios de Elêusis procurarem livrar os inciados desta alternância para que eles pudessem se fixar só na luz. 

SÃO   JOÃO   PREGANDO
( RAPHAEL  MENGS , 1728 - 1779 )
A segunda fase dos Grandes Mistérios, em Elêusis, lembrava a morte e o renascimento do grão aos epoptes. É nesta mesma perspectiva simbólica que a parábola de são João pode ser compreendida: Eis que a hora é chegada na qual o Filho do homem deve ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo não cai sobre a terra e não morre, ele permanece só; se ele morre, ele dará muitos frutos. Quem ama sua vida a perde; e que a odeia neste mundo a conservará na vida eterna. É nestes termos que são João anuncia a glorificação de Jesus por sua morte.