terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O ZODÍACO (1)

                  
ZODÍACO  -  VENEZA

No ocidente, a origem do Zodíaco é atribuída a três povos: os babilônicos, os egípcios e os gregos. O nome vem do grego, da raiz grega zo, zoo, animal. Zoion é o ser vivente, o animal. O diminutivo, zoidion, pequeno animal, imagem de animal, foi de onde saiu zoidiakos, nome dado a uma zona celeste percorrida em um ano pelo Sol, fornada por doze agrupamentos de astros, interpretados como imagens de animais, de seres e de objetos.


TAPEÇARIA   MEDIEVAL

De um modo geral, a observação do céu e especialmente a da faixa zodiacal era feita na antiguidade por sacerdotes a serviço dos reis. Essa observação dava origem a presságios, relacionados principalmente com eclipses soli-lunares ou com aspectos que os planetas formavam entre si e com estrelas. Estas últimas, ao contrário dos astros que caminhavam pelo Zodíaco, chamados planetas (do grego, planes, planetos, errante, vagabundo), moviam-se tão lentamente que a elas se deu o nome de fixas, estrelas fixas. 

GILGAMÉS
Desde tempos muitos remotos, os astros que assim se movimentavam foram vistos também como representações ou imagens de divindades. Alguns estudiosos, admitem que a epopeia de Gilgamés, rei mítico de Uruk, na Mesopotâmia, cerca de 2.650 aC, com os seus doze cantos, já era uma representação do Zodíaco. Com efeito, os cantos VIII e IX desse poema, por exemplo, evocam a figura de um Homem Escorpião e uma ilustração do Dilúvio, esta associada a uma região do céu denominada  A Água, que ocupava boa parte do quarto quadrante zodiacal. Antigas tabuletas, encontradas por arqueólogos na biblioteca do rei Assurbanípal, entre 1.000 e 700 aC, nos fornecem relações de estrelas fixas. 


BIBLIOTECA  ASSURBANÍPAL
Por volta do séc. VI aC, os babilônicos já nos ofereciam uma imagem bastante correta da faixa zodiacal, dividida em doze partes de 30º cada uma. Entre os sumérios e os acadianos, temos nomes como caranguejo, espiga, arqueiro, cabra pisciforme e mercenário para designar, respectivamente, as constelações de Câncer, Virgem, Sagitário, Capricórnio, Áries etc. Cada uma destas partes se ligava a uma divindade ou a um animal. 

NUT  -  DECANATOS

Os egípcios, por seu lado, ao que parece, conforme a tradição greco-latina nos aponta, já haviam instituído, antes de 2.500 aC, o sistema de decanatos como divisão do círculo zodiacal. Isto é, dividiram-no em 36 partes, cada uma delas compreendendo 10º. Cada um dos 36 decanatos governava dez dias do ano egípcio, sendo estes pedaços do Zodíaco tutelados por gênios protetores.
FANES   E   ZODÍACO
Mais tarde, na astrologia helenística, o sistema de decanatos terá um papel muito importante, como se sabe. Na Mesopotâmia, a existência desta divisão do céu em 36 setores já estava bem atestada por volta de 1.500 aC. Os gregos, que receberam a Astrologia do mundo mesopotâmico, já haviam feito a ligação entre os astros (planetas) e os deuses da sua mitologia. Num diálogo de autoria de Felipe Oponte, discípulo de Platão, sob o nome de Epinomis, que apareceu no ano de 340 aC, dava-se o nome de Cronos a Saturno, de Zeus a Júpiter, de Ares a Marte, de Afrodite a Vênus e de Hermes a Mercúrio.


Historicamente, o primeiro horóscopo conhecido é mesopotâmico; foi levantado no ano de 410 aC para o filho de um rei babilônico. Foi esse mapa que abriu as portas para que a Astrologia genetlíaca fizesse a sua aparição no Mediterrâneo oriental e viesse a conhecer desde então grande sucesso. No ano de 280 aC, Berose, um dos muitos magos persas helenizados, instalou-se como astrólogo na ilha de Cós. 




Os astrólogos do Oriente próximo (Berose, Ostanes e outros), então chamados de chaldai, a partir do século III AC, repensaram a arte das predições dos babilônicos com base na leitura do céu, nela integrando contribuições egípcias e aquelas que viriam do mundo helenístico através do Hermetismo. No período romano da história grega, a Astrologia que então se praticava já se havia enriquecido
MANILIUS
do sistema dos termos e dos decanatos egípcios. Manilius (séc. I dC), com o seu Astronomica, e depois Firmicus Maternus (séc. IV dC, autor de Os Oito Livros da Astronomia) completarão o quadro, recebendo o Zodíaco, a esse tempo, o nome de sphaera barbarica. As palavras astronomus e astrologus eram praticamente equivalentes, reservando-se o nome de chaldai, depois magus, com conotação pejorativa (Cícero), para os astrólogos de origem oriental ou para aqueles que se entregavam às ciências ocultas.

Entre os séculos VI e V aC, matemáticos e astrônomos gregos delimitaram as constelações dos hemisférios boreal e austral e definiram  aquelas que formavam o Zodíaco. Plínio, o Velho, será,

entre os romanos, um entusiasta da ciência grega do céu, deste período. Diz ele: Consta que foi Anaximandro de Mileto quem, pela primeira vez, compreendeu a inclinação do Zodíaco, abrindo assim o caminho para as grandes descobertas, na 58ª Olimpíada (548-545 aC) e que Cleostratros descobriu em seguida os signos que o compõem, a partir de Áries (Carneiro). Prosseguindo: Anaximandro, filho de Praxiades de Mileto, filósofo, parente, aluno e sucessor de Thales, foi quem descobriu os solstícios, os equinóxios e o relógio, e que a Terra está colocada no centro do universo.

ARATOS   DE   SOLES
A obra mais famosa sobre constelações e estrelas fixas publicada antes das de Claudio Ptolomeu foi a de um poeta, Aratos de Soles (315-239 ac), que viveu na Sicília. Ele não era astrônomo ou matemático, mas, sem dúvida, um bom poeta didático. Phaenomena (Os Fenômenos) chamava-se o seu texto, um comentário na forma de um poema mitológico, através do qual era registrada a história das estrelas transformadas em divindades

celestes.  Para compor o seu texto, Aratos valeu-se da obra do astrônomo Eudóxio de Cnido (406-355 aC), intitulada, ao que parece, Phaenomena, hoje perdida. Eudóxio de Cnido foi o astrônomo que calculou o ano solar em 365 dias e 1/4, número que foi preservado por Júlio César, quando da instituição de seu calendário, chamado juliano, só alterado em 1582, pelo calendário gregoriano (papa Gregório XIII), adotado por todos os países desde então. 

O poema de Aratos definiu as doze constelações zodiacais na forma como as temos hoje. Nessa obra também se discutia qual, dentre as

doze constelações, deveria “abrir a marcha dos animais” e inaugurar o ano solar. É de se lembrar, entretanto, quando pensamos em prioridades, que os astrólogos caldeus, já haviam definido que o ano solar deveria começar pelo Carneiro. Para os egípcios, acrescente-se, o ano começava diferentemente, quando do início das cheias do rio Nilo (Osíris-Orion), período em que despontava a estrela Sírius, a estrela da canícula.

HOMERO
O poema de Aratos tem 1.154 versos e nele se expõe, na primeira parte as ideias de Cnido sobre a posição das constelações. Depois de A Ilíada e de A Odisseia, de Homero, o poema de Aratos foi a obra mais lida na antiguidade greco-romana, tendo sido traduzida e utilizada por vários escritores. Os nomes das estrelas que temos hoje proveem em grande parte dessa obra, tendo sido conservados inclusive por Ptolomeu.

HIPARCO
Hiparco, astrônomo e matemático grego (séc. II aC), foi, dentre todos até o seu tempo, o observador mais atento do céu. Ele introduziu na Grécia a divisão babilônica do círculo em 360º, de cada grau em 60 minutos e de cada minuto em 60 segundos. Levantou o primeiro catálogo das estrelas, determinando a posição de cerca de 800 delas e atribuindo-lhes uma grandeza (magnitude), determinada segundo a sua luminosidade. Deixou-nos várias explicações sobre o movimento dos planetas e sobre a desigualdade das estações. Descobriu também a precessão dos equinóxios. Em geografia, pela via matemática aberta por

Eratóstenes, introduziu um emprego sistemático das coordenadas (paralelos e meridianos), além de ter inventado um dioptro (instrumento para medir o diâmetro aparente do Sol e da Lua e para calcular o tamanho de objetos distantes) e um astrolábio (instrumento náutico para observar e determinar a altura do Sol e das estrelas e medir a longitude e a latitude do lugar onde se encontra o observador).


Eratóstenes (276-194 aC) era astrônomo, matemático e geógrafo. Viveu em Alexandria. Deixou obras literárias, filosóficas; foi gramático de renome, interessou-se por cronologia, além de diretor da famosa biblioteca da cidade. Realizou a primeira medida (aproximada) da circunferência da Terra. Mediu os ângulos entre os raios do Sol e a vertical do dia do solstício de verão em Alexandria e em Syena (Assuã). 

Por volta de 150 dC, outra figura importantíssima, digno sucessor de Hiparco e de Eratóstenes, Claudio Ptolomeu de Alexandria, não só confirmou as  descobertas do primeiro, como está em seu Syntaxis, catálogo de estrelas, renomeado Almagesto pelos árabes, como lançou as bases de toda a astronomia e astrologia medievais e islâmicas. 



É de Ptolomeu, grande compilador, geógrafo, linguista e astrônomo a seguinte classificação dos signos zodiacais: Áries governa os pastos, lugar das bestas; Touro, as terras férteis; Gêmeos, as terras estéreis e incultas; Câncer, os lugares úmidos e sombrios; Leão, os desertos e o covil das feras; Virgem, os campos de cereais; Libra, as terras sem lavrar; Escorpião, os vinhedos e campos de amora; Sagitário, os cedros e ciprestes; Capricórnio, os jardins elevados e as montanhas; Aquário, os rios e os lagos; Peixes, os oceanos. 

No ano de 379, em Roma, apareceu, sem o nome do autor, um tratado muito importante sobre as estrelas fixas. Além de mencionar muitos de seus predecessores, babilônicos, caldeus, gregos e romanos, o autor, chamado desde então, por causa de seu anonimato, pelo nome de Anonymous 379, declarava que grande

parte de seu trabalho tinha por base o que Ptolomeu deixara. O trabalho de Anonymous 379 é, a rigor, o primeiro a nos dizer como as estrelas deveriam ser interpretadas num tema natal. O original de Anonymous foi traduzido em 1904 por Fraz Cumont. Somente no final do século XX a obra foi traduzida para o inglês e para o italiano, merecendo destaque esta última, do grande pesquisador e astrólogo Giuseppe Bezza (1946-2014), com o título Stelle lucide, passionali, nocive, soccomirrici.


ZODÍACO   DA   IDADE   MÉDIA
Em todos os países e em todas as épocas, encontramos, mais ou menos idêntico, o Zodíaco na forma circular ou quadrada, com as suas doze subdivisões, com os seus sete planetas da tradição. A figura zodiacal sempre apareceu associada aos monumentos mais importantes construídos pelo ser humano, sejam megálitos, templos, lugares de celebração, pirâmides, zigurates, centros iniciáticos, catedrais etc.


Os antigos hindus sempre consideraram astrologia e astronomia como sinônimos. Para a astrologia hindu dos tempos védicos (Jyotish), o Zodíaco é um círculo de constelações de 18º de largura, dividido exatamente em duas partes de 9º cada pela eclíptica ou via solis. Esse círculo de constelações foi sempre conhecido pelo nome de Bhavachakra ou Círculo da Luz, não tendo começo ou fim. Quando os hindus falam de Rasichakra, estão se referindo ao Zodíaco das constelações (rasi é signo). Quando se referem Bhavachakra, estão se referindo às doze casas zodiacais (bhava é casa). Para que as medidas pudessem ser feitas, um ponto inicial foi arbitrariamente estabelecido. Atualmente esse ponto, como para os ocidentais, está fixado pelos hindus na constelação de Áries (Mesha), fazendo o Zodíaco, como um todo, um movimento no sentido leste-oeste.


NAKSHATRAS
A eclíptica é marcada por 27 constelações ou nakshatras, também chamadas de mansões lunares porque a Lua as atravessa, dando-se a esse círculo completo o nome de mês lunar. Cada constelação contém quatro padas ou quartos, tendo cada um destes 3º e 1/3 do arco celestial (rekha). O Zodíaco como um todo tem 108 padas, medindo assim cada constelação 13º 20´ de arco. Os signos zodiacais (rasis) e as mansões lunares (nakshatras) partem do mesmo ponto, do grau zero de longitude de Áries (Mesha) ou de Aswini, a primeira mansão lunar “dentro” de  Mesha.  

Na Índia, religião, astrologia e karma sempre estiveram interligados. Astrologia e Filosofia são solidárias.  A astrologia revela, para os hindus, os efeitos de ações passadas, ações não lembradas, ou das quais, raríssimas pessoas têm uma vaga noção. Tais ações serão vividas numa vida atual como “destino” (adrishtra), no fundo uma relação causa-efeito que o mapa astral representa. Para os astrólogos hindus a teoria do karma não está baseada, como se poderia supor, em fatalismo ou predestinação, o que poderia ser entendido como uma negação a qualquer possibilidade de desenvolvimento. Todo mapa astral segundo esse entendimento é sempre de natureza kármica, um resultado de ações anteriores, considerado sempre como uma compensação.  

É preciso ressaltar que a civilização hinduísta é muitíssimo mais velha que a nossa; suas tradições nos remetem a alguns milhares de anos aC. Sua antiga astrologia (Jyotish) é muito mais rica que a nossa, identificando-se ela com o próprio Hinduísmo, nos seus aspectos religiosos, míticos, filosóficos e científicos. 

ZODÍACO  -  SÉCULO XII
O Zodíaco celeste pode ser considerado como a fonte de onde, desde a pré-história, fluiu tudo o que ao correr de milênios a humanidade foi transformando em mitos, religiões, conhecimento, sabedoria e ciência, a consciência coletiva, enfim. Pela influência que exerce, pelos astros que por ele transitam, o Zodíaco está intimamente ligado com a própria sobrevivência da humanidade enquanto tem influência direta sobre o clima da Terra, decorrente do ciclo das estações, afeta as migrações do mundo animal e determina a alternância da vida e da morte do mundo vegetal.



Os antigos gregos herdaram dos povos do oriente e do Egito aquilo que conhecemos do céu, nele projetando os seus mitos. Os romanos, por sua vez, tributários dos gregos, pouco acrescentaram ao que deles receberam. Os modelos cosmológicos e os mitos praticamente se mantiveram os mesmos. Foi através dos árabes que boa parte do conhecimento grego do céu passou para a Europa ocidental medieval. 

Mais perto de nós, em termos cronológicos, há que se destacar as
HORUS
alterações pelas quais passou o Zodíaco com relação ao seu ponto de partida. Desde a antiguidade, esta posição era conferida à constelação que se situava atrás (antes) do Sol no primeiro dia da primavera. Quando os cânones da astrologia foram estabelecidos, há cerca de 4.000 anos, esta constelação era a de Áries. Antes de Áries, a constelação que marcava o equinócio da primavera (ponto vernal) era a de Touro, que os egípcios identificavam com o seu deus Horus, filho de Osíris e de Ísis.