terça-feira, 20 de outubro de 2015

WEILL & BRECHT



BERTOLT   BRECHT  &  KURT   WEILL

Antes dos trinta anos, Kurt Weill (1900-1950) já era reconhecido como um dos mais importantes compositores alemães de sua geração. Produzira um concerto para violino, um quarteto de cordas e a primeira de duas sinfonias, entre outras obras significativas. Sua primeira colaboração com Bertolt Brecht (1898-1956), poeta, autor dramático e teórico do teatro alemão, aconteceu em 1927, iniciando-se uma parceria que só terminaria quando Weill deixou a Alemanha em 1933. Brecht também a deixaria pouco depois, indo ambos para os USA. Do primeiro encontro dos dois nasceu Mahagonny Songspiel, uma breve cantata que, desenvolvida posteriormente, se transformaria na ópera Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, apresentada em 1930. 


Antes disso, eles já tinham terminado uma das mais importantes peças musicais dos tempos modernos, a famosa Ópera dos Três Vinténs, baseada na Ópera dos Mendigos, de John Gay, apresentada em Londres duzentos anos antes. Esta obra era não só uma investida contra a estrutura da ópera tradicional como um protesto contra as condições sociais da Alemanha ao tempo. Quando os nazistas assumiram o poder em 1933, não só proibiram execuções de qualquer obra de Weill como solicitaram aos teatros de outros países que devolvessem todos os exemplares das partituras para que fossem destruídos. 



Alguns anos depois, a Ópera dos Três Vinténs foi apresentada nos USA com Lotte Lenya no papel que ela representou em Berlin. Uma das mais famosas canções dessa ópera é Moritat, que nos USA tinha como subtítulo A Balada de Mack the Knife. Foi da parceria de Weill-Brecht que nasceu uma concepção nova do teatro lírico, um teatro falado, quase declamado como no teatro épico, entremeado de canções populares berlinenses de forte inspiração jazzística, tudo em clima de café-concerto. 

Nos USA, Weill se ajustou aos modelos americanos de produção, principalmente o dos musicais da Broadway, tornando-se também músico de cinema, compondo grandes sucessos da música popular, dentre os quais citamos September Song, obra-prima. Como criador de musicais, destaque para as suas composições Lady in the Dark, One Touch of Venus, Love Life, Lost in the Stars e Street Scene, esta última o seu melhor trabalho, através do qual procurou dar uma nova forma à “ópera americana” autenticamente popular, mas profundamente infiltrada pelo que de melhor havia no teatro musical europeu.



Considerada por muitos como a melhor canção popular americana já escrita, September Song foi composta por Weill (música) e por Maxwell Anderson (letra), sempre muito gravada por grandes cantores, como o eterno Tony Bennett, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e muitos outros. Em que pese tudo isso, inclusive as versões orquestrais, a gravação de September Song realizada por Walter Huston, apresentada no filme September Affair (Paraíso Proibido, no Brasil), de 1950, dirigido por William Dieterle, com Joan Fontaine e Joseph Cotten, continua imbatível. Woody Allen, cujo bom gosto musical nenhum outro diretor de cinema americano iguala, colocou a canção no seu inesquecível Radio Days, também cantada por Walter Huston.


Walter Huston, de origem canadense, entre 1930-1940 trabalhou na Broadway (vaudeville), cantou e dançou, indo depois para o cinema. Em 1941 e 1948, trabalhou, dentre outros, nos filmes O Falcão Maltês e O Tesouro de Serra Madre, ambos dirigidos por seu filho, John Huston. Em 1998, apareceu nos USA um livro escrito pelo jornalista John Weld, amigo de Huston, que na juventude trabalhara em Hollywood como stunt man de Tom Mix e Buck Jones, ligando definitivamente o nome de Huston à canção de Weill-Anderson, September Song - an intimate biography of Walter Huston. Em 2012, Anjelica Huston homenageou o avô, cantando September Song, num seriado da NBC.  


JOHN   E   ANGELICA   HUSTON