quarta-feira, 23 de agosto de 2017

LIBRA (1)

                                              

LIBRA
Uma das mais antigas referências que temos sobre o signo de Libra (23 de setembro a 22 de outubro) nós a encontramos no antigo Egito, na balança como símbolo do julgamento. A balança era o centro de uma cerimônia religiosa muito importante. Esta cerimônia consistia na pesagem das almas quando, desprendendo-se do corpo, elas iniciavam a sua viagem para o Outro Lado (Duat). Esta pesagem se realizava na sala da deusa Maat, deusa da justiça e da verdade, por meio de uma balança na qual se depositava, no prato da esquerda, o coração (Ib) do morto e no outro prato, o da direita, uma pena branca de avestruz, símbolo da deusa. 


MAAT

Aparecendo sempre em oposição ao carneiro, símbolo do aspecto criador, animal portador da vida, da saúde e da força, a balança é um símbolo do poente, da morte, e abre caminho de para a ressurreição. Enquanto o carneiro transmuta o declínio solar em esplendor, em impulso luminoso, a balança marca os momentos inicias da sua extinção. A balança mantém as forças da luz e das trevas momentaneamente em equilíbrio. Logo, porém, a espada da justiça cortará sem qualquer outra influência o fio deste equilíbrio (equinócio). Este corte introduz os homens “naquilo que deve ser” queiram eles ou não. A matéria, a vida mundana, os corpos, tudo o que tomou forma, enfim, começa a caminhar para o seu fim. O sentido do “que deve ser” é inversamente proporcional ao “que quer (ou acredita) ser”. Pesa-se aqui, rigorosamente, um “tanto” de
AVESTRUZ
construção e um “tanto” de destruição, de modo que os pesos se anulem. Pesava-se, assim, no Egito, o hieróglifo da verdade, a pena que simbolizava a deusa, sendo o contrapeso o coração do morto. As penas do avestruz, porque exatamente iguais, eram símbolos da equidade, e, como tal, da deusa Maat, que personificava a verdade, a justiça e a norma.Ela representava o equilíbrio e a harmonia da criação com relação ao incriado, ao caótico.    

Ao lado dos cultos e de seus objetos, a religião egípcia sempre teve um caráter moral, a que era dado o nome de “maat”. É quase impossível traduzir com exatidão o significado desta palavra, nela se combinando conceitos de ordem, justiça, dever, retidão, responsabilidade, algo muito parecido com a palavra sânscrita dharma. Maat, como conceito, não tinha origem humana. Fora criado pelos deuses e desde o aparecimento do cosmos passou a fazer parte da criação. Antes de qualquer coisa, maat representava a lei divina, imutável e imprescritível, na qual deviam se inspirar as leis humanas, chamem-se elas ética, moral ou princípios de direito. Todos deveriam, desde o faraó ao camponês, se esforçar para viver de acordo com ela, cada um no seu nível social.

Concebida dessa maneira, como obra dos deuses, e não da consciência dos homens, maat sempre se revestiu para os egípcios de imutável perfeição. Isto excluía qualquer possibilidade de crítica ou de mudança da estrutura social. O mundo e o que havia nele tinha sido criado pelos deuses exatamente da forma como queriam. Tudo era, portanto, como deveria ser, fixo, eterno. As guerras, as pestes, as secas significavam simples perturbações temporárias da ordem cósmica estabelecida. Uma vez que o mundo tinha sido criado como deveria ser desde o momento da criação, não era possível por definição ter havido uma época anterior melhor. Na
VALE   DO   NILO
religião egípcia não havia ideias como Jardim do Éden, Idade de Ouro ou Apocalipse. A mesma atitude determinava a concepção que os egípcios tinham da morte e a importância que lhe atribuíam. As suas crenças sobre a vida do além-túmulo, como as que diziam respeito aos deuses, tinham velhas raízes no vale do rio Nilo. Sepulturas da era neolítica revelavam a existência, ao lado dos mortos, de instrumentos, de objetos e de víveres que só podiam mostrar a intenção de serem usados pelo falecido no além. 

No eixo da balança usada na psicostasia ficava sentado o deus Toth, o escriba divino, na sua forma cinocéfala ou com a cabeça de íbis. Ao fundo, sob a presidência do deus supremo, Osíris, quarenta e duas divindades, correspondentes aos quarenta e dois nomos, ou divisões administrativas do país, acompanhavam a cerimônia. Dela participava também o deus-chacal Anúbis, como senhor do mundo dos mortos. Aos pés de Osíris ficava o monstro Ammit, uma figura híbrida, meio crocodilo, meio hipopótamo, peitoral de leão, chamado de O Devorador; aguardava o resultado da pesagem. Este monstro era uma imagem das águas primordiais, lembrando o caos. Se o coração do morto fosse mais pesado que a pena da deusa Maat, ele era entregue ao monstro, que logo o devorava. Com isto, ele voltava à indeterminação para, um dia, quem sabe, passar pela metempsicose (passagem da alma de um corpo a outro). Se o coração fosse mais leve que a pena da deusa, a alma se encaminharia para o Outro Lado, reconstituindo-se o corpo, que então gozaria da imortalidade de Osíris. 


   LIVRO   DOS   MORTOS -  

A alma era pesada em função da sua maior ou menor proximidade com o divino. Quanto mais próxima dele, mais se elevava. Por isso, se ela tivesse se afastado do divino na sua caminhada terrena, perderia as suas asas, a sua leveza. Lembremos que a alma (ba), no Egito, era representada por um pássaro androcéfalo. Na psicostasia, a pena, por isso, simbolizava a elevação da alma. Segundo o prato da balança judicial que se eleve, ela será reconhecida como pura ou corrompida.


MORTE  DE  HÉRCULES , 1634  ( FRANCIS  ZURBARÁN )

A psicostasia é uma cerimônia que lembra elevação, e, portanto, o elemento ar. É, no fundo, um processo pelo qual uma substância
ELIAS  ( ÍCONE RUSSO )
inferior se traduz numa forma superior por um movimento ascendente. Um dos aspectos do simbolismo da ascensão é, como se sabe, o da translação para a eternidade. Exemplos deste aspecto estão no suicídio apoteótico de Hércules, suicídio que o levou para o Olimpo, e o da subida aos céus do profeta Elias, que a ele ascendeu vivo, num remoinho, transportado num carro puxado por cavalos de fogo. 

A origem do simbolismo da translação para os céus, isto é, para a eternidade, encontra, ao que parece, a sua primeira expressão na antiga religião egípcia. Esta forma de translação é chamada, alquimicamente, de sublimatio superior, descrita por várias religiões. Na sua existência temporal, contudo, o ser humano só pode experimentar a chamada sublimação inferior, aquela em que os anseios de altura, de voo ou de ascensão exigem sempre uma volta à terra porque ele não pode, enquanto coagulatio, abrir mão da alternância entre a elevação e a queda, isto é, da circulatio. A sublimatio superior propõe a eternidade, a inferior, traz de volta à terra, tendo um caráter ascendente num primeiro momento e descendente numa segunda fase.

ZIBANITU

Os antigos povos da Babilônia davam ao signo de Libra o nome de Zibanitu, a Balança, e nela viam duas estrelas importantes: Zuben do Sul e Zuben do Norte, os dois extremos polarizados que lembravam a pesagem das almas no julgamento depois da morte (a psicostasia para os egípcios e a querostasia para os gregos). 


HERMES   PSICOPOMPO

A balança, entre os persas, foi colocada nos céus sob a tutela do anjo Rashu, postado junto de Mitra, também com a finalidade da pesagem das almas sobre a ponte do destino. Lembremos que a mesma ideia aparece na Grécia. Num famoso vaso grego, Hermes, na função de deus psicopompo, procede à pesagem das almas de Aquiles e de Pátroclo. Entre os muçulmanos, a balança do julgamento é mencionada no Corão. Num sentido figurado, no Islã, a balança é um grande livro aberto sobre o qual se inscrevem diretamente as boas e as más ações do crente. Na vida cotidiana, ela simboliza o bom julgamento, a apreciação justa, o sentido da discriminação. Há entre os árabes do Magrebe (ocidente, lugar onde o Sol se põe) a expressão que revela a sua importância: Teu olho é a tua balança.


A ILÍADA
Entre os gregos, já em Homero (A Ilíada) a balança era usada para simbolizar o destino como se mostra no episódio em que se narra o combate entre Aquiles e Heitor: Quando, porém, chegaram pela quarta vez, às fontes,  o Pai dos deuses ergueu então a balança de ouro e nela colocou as duas sortes da morte, em um dos pratos a morte de Aquiles e em outro a de Heitor, o domador de cavalos; depois elevou-a, segurando-a pelo meio. O dia fatal de Heitor havia chegado e ele desceu ao Hades. Apolo Febo o havia abandonado.


 MIGUEL  E  JACÓ ( EUGÈNE  DELACROIX , 1798 - 1863 )

No cristianismo, o signo de Libra costuma aparecer associado a São Miguel, o arcanjo do julgamento. Este arcanjo, entre os judeus, é o de mais alta hierarquia, sendo conhecido como o Príncipe da Água e o Anjo de Prata. No período bíblico, Miguel anunciou a Sara que ela daria à luz Isaac; foi ele mesmo que no teste da akedá interveio para que o mesmo Isaac não fosse sacrificado, Miguel lutou com Jacó, ferindo-o; foi Miguel quem disse que ele, Jacó, receberia um novo nome, Israel. Como advogado do povo judaico, Miguel senta-se à direita do Trono da Glória. É Miguel que acompanha os devotos ao céu após a morte e faz a oferenda das suas almas no altar celestial. Assinalemos que no pensamento judaico, os demônios são privados de seu poder diante de tudo o que é equilibrado. 

Na Idade Média, havia a chamada prova da balança ou bibliomancia, que servia para condenar os feiticeiros. Colocava-se o acusado sobre um dos pratos de uma balança e no outro se depositava uma Bíblia. Se o acusado pesasse mais, seria condenado. Consta que muitas feiticeiras, bem mais leves que seus comparsas masculinos, conseguiram escapar da condenação. De um modo geral, porém, a bibliomancia consistia na adivinhação do futuro através da interpretação de uma passagem de um livro aberto ao acaso.


HOKSENWAAG
A cidade holandesa de Oudewater é famosa porque desde o final da alta Idade Média gozava de um privilégio incomum, não possuído por nenhuma outra na Europa. Milhares de pessoas acusadas de feitiçaria a procuravam na esperança de obter um livramento de tal acusação ou suspeita. É que nessa cidade havia um edifício público, conhecido como Hoksenwaag (Casa de Pesagem de Feiticeiros) que expedia certificados para esse fim. Um magistrado verificava primeiramente se o interessado não escondia nada sob suas vestes. Com vestes sumárias, quase nu, descalço, na presença de um conselho da cidade, a pesagem era realizada em público. O certificado expedido, no caso inocência, era muito detalhado, selado, com diversas assinaturas das autoridades, libertando o acusado de qualquer suspeita. Lembremos que na Bíblia (Provérbios) encontramos: A balança enganosa é abominação diante do Senhor; o peso justo é a sua vontade. O objetivo maior da pesagem realizada em Oudewater era o de se constatar se o incriminado havia sido colocado ou não em estado de levitação pelo Diabo. 

JABIR  IBN  HAYYAN
A simbologia da balança foi muito utilizada pela Alquimia. É do mundo árabe que nos vem o Livro das Balanças, de autoria de Jabir Ibn Hayyan (sécs. VIII-IX), chamado de Geber pelos latinos, que viveu perto de Bagdá. Para ele, por exemplo, o ouro representava o equilíbrio perfeito entre os dois princípios opostos e complementares, o enxofre e o mercúrio. Os outros metais seriam manifestações destes mesmos dois princípios, mas através de uniões imperfeitas. 

Os gregos, antes de definir melhor a área zodiacal de Libra, entendiam que ela pertencia às pinças da constelação de Escorpião, as Chelae Arum, segundo os romanos. Os sumérios já conheciam a região como separada de Escorpião, chamando-a de Zibba Anna, a Balança do Céu. Os árabes, apoiando-se nos babilônicos, davam o nome de Zuben el Genubi e Zuben Eschamali às duas principais estrelas de Libra, e também uma tradução dos nomes gregos dados por Ptolomeu. Para o ocidente, a “independência” de Libra só ocorreu por volta de 1.100 aC, quando a constelação começou a marcar o equinócio do outono. Sosígenes, um astrólogo alexandrino, provavelmente ciente das elaborações sumérias e egípcias, deu subsídios para que no calendário Juliano a constelação de Libra ficasse posicionada entre Virgem e Escorpião. Tudo isto explica porque o signo de Libra foi o último a ser introduzido e fixado no Zodíaco. Em sânscrito, Libra é Thula e em grego Zygos.


 LIBRA   E   ESCORPIÃO   

A balança, em todas as tradições, sempre apareceu associada à espada (Áries), unindo os dois símbolos a função administrativa e a função militar. É por essa razão que os celtas viam a espada tanto como um emblema da bravura e do poder guerreiro, sinônimo de
KSHATRIA , RAJPUT
destruição, como símbolo da justiça e da paz, na medida em que a destruição deve ser aplicada à injustiça, à ignorância, àquilo que é malefício, tornando-se por esse fato positiva. É por isso que a espada evoca também a guerra santa. Na Índia, é a casta dos Kshatrias, a segunda, a do poder político e a dos guerreiros, que une os dois símbolos, a balança e a espada, deixando-nos claro esta associação que a espada deve se colocar a serviço da justiça, o que nem sempre, porém, acontece. 

Entre os gregos, a primeira divindade associada ao signo de Libra foi Têmis. Filha de Urano e de Geia, Têmis (etimologicamente, estabelecer como norma) é a deusa das leis imprescritíveis, irrevogáveis e universais de origem divina. Estas leis opõem-se àquelas estabelecidas pelos homens (nomos) e às regras morais, o chamado direito consuetudinário. A ideia de uma lei divina já tinha sido aventada por Heráclito, na filosofia pré-socrática na medida em que o filósofo  vinculou as leis humanas à lei cósmica. 


TÊMIS , ZEUS  E  PALAS
A titânida Têmis foi a segunda esposa de Zeus Todo-Poderoso. Unindo-se a ele, tornou-se mãe das Horas  e das ninfas do rio Erídano (o rio Pó, da Itália), as mesmas que ensinaram a Hércules o caminho que levava ao Jardim das Hespérides (3º trabalho, referente ao signo de Gêmeos). Devido à sua união com Têmis, Zeus assumiu a condição de divindade máxima da qual derivam todas as leis, os ordenamentos e o direito em geral. Em nome de Zeus, os reis da terra deviam exercitar o seu poder, fazendo justiça e defendendo a ordem. É por essa razão que, já em Homero, Têmis é sempre invocada com Zeus para estender a sua proteção ao justo.

A Têmis cabia também o poder sobre os oráculos e os ritos em geral, além de supervisionar as assembleias. Os oráculos são locais onde a divindade pode falar diretamente por meio de um médium que caia em estado de entusiasmos. Os gregos chamavam tal local, onde se buscava um bom conselho (chresmos) de chresterion ou manteion. Os romanos o chamavam de oraculum, de onde veio a palavra para a nossa língua. O mundo oracular é, por excelência, feminino. Mesmo depois que o oráculo de Delfos, de Geia e de Têmis, passou para o mundo patriarcal (conquistado por Apolo), a transmissão das sentenças oraculares não pode deixar de prescindir do feminino, reveladas que eram por mulheres, as pitonisas ou sibilas. Foi Têmis quem passou a Apolo o domínio da mântica usada no referido oráculo. A mântica de Geia e de Têmis era a chamada mântica por incubação, transformada pelo deus em profética.   


GIGANTOMAQUIA  -  PARTENON

Como grande divindade das leis eternas, era Têmis também a dona do bom conselho sob o nome de Euphrone, atributo que dividia com Nix, a deusa da Noite. Têmis aconselhou a Zeus, na Gigantomaquia, a cobrir o seu escudo, que por isso recebeu o nome de égide. Esta palavra vem do grego aigis, cabra, pois foi com a pele da cabra Amalteia que tal escudo foi coberto e depois passado
JARDIM   DAS   HESPÉRIDES
( E. BURNE - JONES , 1833 - 1898 )
para as mãos de Palas Atena. Consta que foi também por conselho de Têmis que a guerra de Troia foi deflagradas como uma forma de equilibrar melhor, ao tempo, o excesso de população da terra. Deve-se também a Têmis, como antiga titular do oráculo délfico, o conselho dado a Zeus e a Poseidon para que não se unissem à nereida Tétis, pois, se o fizessem, ela daria à luz um filho mais poderoso que o pai. Previu ainda Têmis que um dia um filho de Zeus (Hércules) retiraria do Jardim das Hespérides os pomos de ouro, guardados no referido jardim, pelo gigante Atlas.

DIONISO  E  AS  HORAS

Assim como Têmis tem a ver com a constelação de Libra, as suas filhas as Horas também a ele se ligam, integrando-se ao séquito da deusa Afrodite, que assumiria a tutela da referida área zodiacal como o planeta Vênus. As Horas eram filhas de Têmis e de Zeus e eram consideradas as divindades das estações do ano. Eram três, correspondendo à primavera, ao verão e ao outono, pois o inverno não era considerado como uma estação, já que era um período em que a natureza morria. Por isso, o número das Horas se fixou em três, cada uma delas com um atributo: flores (primavera), grãos (verão) e uvas e frutos (outono). Havia uma quarta Hora, a do inverno, representada com despojos de caçadas, mas que nunca teve o realce das irmãs. 

Como divindades das estações, promoviam as Horas o desenvolvimento da natureza, colocando-se porém sob a tutela de divindades maiores. Ligadas à vida da natureza, exerciam elas o controle sobre as mudanças do tempo, abrindo ou fechando os portões do céu, provocando a alternância entre os períodos chuvosos e os ensolarados, tudo para o melhor crescimento da vida vegetal. Gentis e simpáticas, movendo através da dança, usando coroas de ouro enfeitadas com flores, eram sempre benevolentes e protetoras da humanidade. Apesar de às vezes provocarem a impaciência em principalmente em razão de atrasos, sempre acabavam por aparecer, trazendo doçura e beleza, jamais decepcionando.


IRENE ,  EUNOMIA  ,  DIKE 

De divindades do mundo vegetal passaram depois a representar as horas do dia. Seus nomes: Eunômia (disciplina), Dike (justiça) e Irene (paz). Eram chamadas pelos atenienses por outros nomes, respectivamente: Talo (a que faz brotar), Auxo (a que provoca o crescimento) e Carpo (a que prodigaliza os frutos). Aos poucos, a ação das Horas se estendeu ao mundo dos humanos, como divindades que asseguravam o equilíbrio e o ajuste da vida social. Participavam elas também de modo especial da paideia, na medida em que cuidavam da educação das crianças, “umedecendo-as” (no mundo natural, eram as Horas encarregadas de distribuir a umidade) corretamente para que brotassem no tempo certo, crescessem adequadamente e florescem no tempo devido. 

Assim como tinham a ver com a ordem das estações, as Horas participavam da moralidade da vida social, nos seus aspectos quanto à virtude, à honestidade, ao bem, à manutenção da palavra dada etc., o que se tornava ainda mais evidente por serem filhas de Têmis. Assim, neste domínio, Eunômia personificava a legislação de um modo geral; Dike, a justiça; e Irene a paz. Os serviços da primeira voltavam-se sobretudo para a vida política, sendo o resultado de suas intervenções muito celebrados por poetas e pelo Estado de um modo geral. Dike atuava mais na área do chamado Direito Civil, na esfera das relações individuais, passando informações ao Pai de todas as injustiças cometidas. 

IRENE   E   PLUTO
Irene, a mais álacre das irmãs, era muito reverenciada em festivais em que se celebravam a convivência humana. Irene tornou-se mais tarde, segundo algumas versões, mãe de Pluto, a personificação da riqueza, um robusto menino que passou a acompanhar Dioniso e Perséfone, carregando uma cornucópia. As imagens de Pluto o descrevem como cego porque favorecia tanto os justos quanto os injustos. Segundo consta, foi o próprio Zeus quem o cegou, para impedir que socorresse só os bons. Irene era reverenciada também sob o nome de Chloris (em Roma, a deusa Flora), como divindade dos brotos, dos botões e das flores, muito cortejada por Bóreas, o vento do norte, e por Zéfiro, o vendo do oeste. Como dissemos, uniu-se a este último, tornando-se sua fiel esposa. 


ZÉFIRO   E   FLORA
( W. A. BOUGUEREAU , 1825 - 1905 )