sábado, 14 de janeiro de 2017

ORION, PISCIS AUSTRALIS





ORION – Desde a mais remota antiguidade, os povos do oriente e da bacia do Mediterrâneo sempre atribuíram muita importância às estrelas que apareciam ou que se punham com o Sol. Elas davam o
HÉLIO
nome de helíaco (de Hélio, deus solar entre os gregos) ao nascimento ou ao poente de um astro quando esse acontecimento sucedia ao mesmo tempo que o nascimento ou o poente do Sol. Se esse acontecimento se verificasse quando do nascimento do Sol, o astro que o acompanhava era considerado como uma espécie de arauto do astro-rei, um emissário dele.

CHEIA   DO   NILO
Os astros que tinham seu nascimento heliacal antes do nascer do Sol foram usados em várias civilizações para marcar pontos equinociais ou solsticiais, relacionados com os ciclos da vida vegetal e com a agricultura. Bem antes do sexto milênio aC, no antigo Egito, o equinócio da primavera dava início aos trabalhos agrícolas, período do ano que coincidia com as cheias do Nilo e com aparecimento de Orion, a constelação mais brilhante dos céus. 


HERÓDOTO
Segundo Heródoto, o Egito era uma dádiva do Nilo. Realmente, no Egito tudo dependia do rio, condicionando ele a economia do país, determinando a sua estrutura política, definindo seu calendário e criando valores. Somente quando os egípcios aprenderam a controlar as cheias anuais do rio, muito antes de 5.000 aC, é que  Egito começou a tomar forma como nação. As estações do ano eram três: Inundação (junho a setembro, período da cheia), Emersão dos Campos (outubro a fevereiro, período em que o solo ficava úmido) e Estiagem (fevereiro a junho, período da seca). Dessas definições, surgiu o primeiro calendário prático do país, do qual se originaram todos os demais calendários dos países ocidentais. A esse calendário estava ligada a organização social, pois o rio e o seu comportamento determinavam a distribuição do trabalho.

NILO
Os egípcios associavam nesse tempo as cheias do Nilo à constelação de Orion (há dados astronômicos que parecem confirmar que o último aparecimento de Orion como constelação equinocial se deu por volta de 6.700 aC. A precessão dos equinócios fez contudo com que aos poucos a constelação de Orion mergulhasse no fundo céu, descendo cada vez mais. Assim, sua visibilidade diminui bastante. Somente uma pequena parte sua , muito pequena, aliás, aflorava, mostrando-se acima do horizonte oriental, antes do aparecimento do Sol, perdido todo o seu antigo esplendor. 

OSÍRIS

O mito de Osíris se fechava então provisoriamente, firmando-se para os egípcios a crença de que  sua grande divindade, mergulhando nas águas oceânicas, iria empreender uma longa viagem em direção do mundo subterrâneo. A “morte” de Osíris ocorreu provavelmente no sexto milênio aC, período em que a posição equinocial da constelação de Orion foi alterada. O desaparecimento de Osíris, como o mito nos conta, fez com que seu “trono” fosse transferido para Hórus, seu filho. 




A antiga posição de Orion foi então “herdada” por Taurus, que assumiu o papel de arauto do amanhecer solar. “Morto” Osíris, Taurus herdou o trono solar, passando assim esta constelação a ser "ocupada", desde então, por Hórus, a divindade da nova ordem, pois o pai se retirara,  indo “viver” no mundo subterrâneo, como deus dos mortos. É interessante lembrar que os cristão tentariam mais tarde se aproveitar deste acontecimento ao "cristianizar" o mito Osíris-Hórus, "lendo-o" como uma prefiguração da vinda de Cristo. Os antigos egípcios, contudo, ao se referirem a Orion-Osíris deixaram nas pedras das suas pirâmides uma outra leitura, a de que os deuses também fazem parte da alternância da própria existência: Para acordar é preciso morrer; para viver é preciso morrer.

Horus foi uma divindade representada sob a forma de um falcão ou
HÓRUS
antropomorfizada com a cabeça da ave, representando os seus olhos os dois luminares, o Sol e a Lua. Em períodos muito remotos, chegou Hórus a ser visto como o próprio Sol, como na cidade de Edfu, no alto Egito, a ele consagrada. Logo Hórus se tornou uma divindade real, com a qual o próprio faraó (etimologicamente, casa grande, no antigo egípcio) passou a se identificar. Hórus foi introduzido no ciclo osiriano, cujo culto se havia estendido a todo o país, por volta de 2.400 aC, na quinta dinastia. O faraó defunto passou a ser considerado como imagem de Osíris (o Sol na sua viagem noturna), enquanto Hórus assumia a imagem do faraó vivo. Filho de Osíris e de Isis, Hórus, como infante, era chamado pelos gregos de Harpócrates.


O falcão, segundo os egípcios, voava tão alto que podia se aproximar do Sol. Daí, uns dos apelidos do deus, o Longínquo. É de se lembrar que o falcão também emprestava sua forma a uma outra divindade, Montu, deus guerreiro. Mais ainda: Ísis e Nephtys, quando reanimaram o cadáver de Osíris, e o protegeram com as suas asas, desempenharam essa função sob a forma falconídea.

HARSIESIS
Os gregos e os romanos adotaram a imagem de Harpócrates, transformando Horus, mais tarde no deus do silêncio, honrado sobretudo pelos filósofos místicos greco-alexandrinos. Horus era também chamado de Harsiesis (o filho de Ísis, o vingador do pai). Nos textos das pirâmides, Hórus figura como Re ou Ra,  uma representação solar, em oposição a Seth, a própria imagem da escuridão,  configurando tudo isto a eterna luta entre a luz e as trevas.  Na sua caminhada diurna, de um horizonte a outro,do nascente ao poente, Hórus era chamado pelos gregos de Harakhtes (Hórus horizontino).

Harpócrates era representado como uma criança nua ou, às vezes,
HARPÓCRATES
com algumas poucas joias; na cabeça raspada, apenas uma pequena trança que lhe caía sobre a fronte. Em algumas imagens, Ísis lhe oferecia o seio; noutras, ele aparecia sugando seu próprio polegar, gesto falsamente interpretado pelos gregos, que nele viram um convite à discrição, o que valeu ao deus infante um culto como deus do silêncio pelos greco-egípcios. Adulto, Hórus (identificado também pelos gregos como Apolo) travou incessante luta contra Seth, irmão gêmeo de Osíris, seu tio, portanto, símbolo do mal, das forças opostas à vida. Desde então, a trindade Osíris, Ísis e Hórus formou a base de um sistema patrilinear que tem por finalidade a legitimação da monarquia egípcia e que se articula com o mito da ressurreição do primeiro.

Já Osíris (aquele que está no trono, na língua egípcia) apareceu geralmente antropomorfizado como uma múmia, os braços cruzados sobre o peito, tendo numa das mãos o cetro e na outra um
OSÍRIS
chicote. No rosto, a barba trançada, à maneira dos faraós e dos deuses. Na cabeça, a coroa atef, do alto Egito, uma mitra branca com duas penas de avestruz. Inicialmente adorada como uma divindade das forças vegetais, sua personalidade foi se enriquecendo enquanto seu culto se espalhava. Osíris e Ísis eram tanto, o primeiro, a imagem do Sol fecundando o grão que iria renascer como, a segunda, a cheia do rio Nilo que anualmente transbordava, preparando as terras para as futuras colheitas, trazendo a vida de volta, expulsando o deserto, simbolizado por Seth. Neste sentido, torna-se Osíris  tanto o deus dos mortos como dos renascimentos, do eterno retorno. Como o Sol era o deus que sempre reaparecia a cada manhã depois de ter atravessado as trevas noturnas. Torna-se, por isso, o deus dos mortos, aquele que garantia a sobrevivência humana a partir do mundo subterrâneo e, como tal, prometendo um renascimento espiritual depois da morte.




Invejoso de seu irmão, o “perpetuamente bom”, Seth, “ o perpetuamente mau”, o matou, despedaçando seu corpo, encerrando-o assim num cofre, jogado no rio. Ísis, Hórus e o deus Toth acabarão, depois de muitas peripécias, por encontrar o cofre e trarão Osíris de volta à vida. Ressuscitado pelas artes de Anúbis, deus do inferno,  e de Ísis, Osíris vai reinar desde então entre os mortos, tornando-se o deus da psicostasia e da ressurreição. Aos poucos, seu culto se universalizou no Egito, expandindo-se para fora do país, alcançando a Grécia e o império romano. 


OSÍRIS   RESSUSCITADO


SETH   E   APÓFIS
Seth, no mito osiriano, o eterno adversário do irmão, personifica o deserto, a seca, o vento siroco as trevas, por oposição à terra fértil, a água fecunda, a luz. Tudo o que é benéfico na criação vem de Osíris, tudo que é perversidade e destruição vem de Seth. Os asnos, os antílopes e outros animais do deserto eram sethianos, inclusive o hipopótamo, o varrasco, o crocodilo e o escorpião, no corpo dos quais o deus do mal e seus asseclas procuravam refúgio para escapar dos golpes de Hórus vingador. Foi como um porco negro que Seth, segundo o mito, feriu um dos olhos de Hórus e que a cada mês ele atacava e devorava a Lua, lugar onde se refugiava também a alma de Osíris. Seth era representado normalmente sob os traços de um animal fantástico, focinho fino e recurvado, orelhas retas, cauda fendida.  

Ao projetar nos céus as suas concepções religiosas, os egípcios forneceram modelos dos princípios masculino e feminino que vamos encontrar em várias tradições religiosas posteriormente. Deixando de lado a questão da prioridade (foram os egípcios os primeiros a formulá-los?), o que se constata é que eles construíram,
CRIAÇÃO   DE   EVA
provavelmente entre 10.000 e 8.000 aC, através de Orion, o arquétipo de uma divindade masculina que morria. Deixaram claro que o princípio masculino, como emissor do poder vital,  estava sujeito à morte. O princípio feminino, ao contrário, estava além da morte, representado por Ísis, era portador da vida. Um fecundava, o outro gerava. As religiões patriarcais tentaram subverter esta ordem. No Antigo Testamento, por exemplo, faz-se o princípio feminino proceder do masculino (Adão dando origem a Eva), com a finalidade de não só identificar o masculino com o espiritual mas fazer com que o feminino dele dependesse. 



ZOHAR
Ora, em todas as antigas tradições anteriores ao aparecimento das religiões patriarcais, sempre ficou claro, de modo mais ou menos explícito, que o princípio gerador, feminino, é anterior ao espiritual. Neste sentido, por exemplo, é que o Zohar, a principal obra da Cabala, nos apresenta a imagem da vela, constituída por um elemento feminino e por um elemento masculino, o primeiro dando origem ao segundo, a chama. Aliás, a mesma ideia vamos encontrar na mitologia grega (Hesíodo) que, na sua cosmogonia, nos fala que Geia, o princípio feminino, primeira entidade a sair do Caos, é que deu origem a Urano, o céu, princípio
HESÍODO   E   A   MUSA
( GUSTAVE  MOREAU )
fecundador, masculino-espiritual. Esta mesma verdade está na estrutura do nosso psiquismo, no diálogo subconsciente (inconsciente)-consciente (este procedendo daquele), e por extensão no nosso processo de individuação. É neste sentido também que cosmogonias e processos de individuação são equivalentes. Ambos se opõem ao caos, à indeterminação, ambos nos falam de uma ideia de determinação, de  ordem (cosmos vem de um verbo grego que significa princípio de ordem, organizar). Tomar consciência é separar-se, o princípio consciente (masculino) surgindo do subconsciente (feminino). Conforme o caso, este princípio consciente, masculino, poderá se espiritualizar ou não.


Desde tempos pré-históricos tudo isto já estava claro para os nossos antepassados. Não foi por outra razão que, desde esses tempos, tal estendimento foi levado para os céus.  Refiro-me à leitura que todas
as tradições fizeram das Ursas Maior e Menor, constelações circumpolares que nunca se põem. As deusas podem “empalidecer”, ser maltratadas, espezinhadas, rebaixadas (o tratamento que o patriarcado deu às Grandes-Mães), mas são imortais. Já os deuses que “vivem” na região equatorial (caso de Orion, 24º N-13ºS) ou na eclíptica ficam sujeitos ao vir-a-ser, “morrem”. Nenhuma constelação do céu é tão importante para a história da humanidade quanto a da Ursa Maior como matriz universal.



Além do que já se falou das Ursas, a Maior e a Menor, acrescente-se, principalmente com relação à primeira (muito mais importante que a outra), que ela, dentre todas as constelações, foi a que forneceu à humanidade o maior número de mitos, lendas e crenças. Todos os povos da Terra, em todos os continentes, desde sempre, a conheceram e honraram, o mesmo acontecendo com cada uma das suas sete estrelas.  Os hindus, por exemplo, a vêem como o centro onde se conserva a tradição primordial. Nela está o começo, o ponto de partida, o lugar da suprema substância, o princípio maior indemonstrável, o omphalos universal, o mundo das archai. É da Ursa Maior, desde tempos pré-históricos, que nos vem a ideia de centro, de polo, definindo ela o polo norte celeste, o centro universal em torno do qual tudo gira e se organiza, o centro da suástica, o al  Qutb (polo) da tradição muçulmana, centro e pico da hierarquia espiritual. A estrela Poláris (Ursa Menor) é uma espécie de motor imóvel e centro do universo, em relação ao qual se definem as posições de todas as demais estrelas e daqueles que se lançam nos caminhos da vida já que as agulhas magnéticas de todas as bússolas para ela apontam sempre.  

ORION   E   ÁRTEMIS  ( NICOLAS  POUSSIN )

Quatro mil anos depois dos egípcios, os gregos “leram” a constelação de Orion de outro modo, montando um mito diferente, mas que, no fundo, tem muito a ver com aquilo que os egípcios haviam fixado. Orion, para os gregos, era um gigante da Beócia, famoso por sua beleza, proporcional à sua vaidade, que se entregava aos prazeres da caça e a todos os tipos de excesso, sobretudo sexuais. Era filho de Geia, segundo uns (versão a), de Poseidon e de Euríale (versão b),  e para outros (versão c) de Hirieu, rei da Hiria. O nome Orion em grego vem do verbo orinein, que significa tanto tanger, conduzir, como caçar. O nome se justificava porque Orion, nos céus, parece empurrar as estrelas que tem diante si, estrelas designadas com nomes de animais. Na versão em que tem Poseidon, deus dos oceanos e mares, como pai, há registros de que dele recebeu o dom de andar sobre as ondas.   

Da versão c, consta que um dia, em visita à Terra, Zeus, Hermes e Poseidon foram recebidos hospitaleiramente por Hirieu, que desejava um filho. Em agradecimento à acolhida, os deuses resolveram satisfazer-lhe o desejo. Os deuses enterraram no solo a pele de um bezerro sacrificado e sobre ela urinaram. Nove meses depois, nascia Orion. Esta versão procura estabelecer certamente uma relação homofônica do nome Orion com a palavra grega para urina, oyron


NINFAS  ( WILLIAM - ADOLPHE  BOUGUEREAU , 1825 - 1905 )
Gigantesco, Orion podia caminhar nos mares sem que a sua cabeça ficasse submersa. Dotado de uma força prodigiosa, suas paixões eram a caça, à qual se entregava em companhia de seu cão Sírius, e a perseguição de mulheres, ninfas etc.  Tomou por esposa Side (casca de romã), linda e orgulhosa, que ousou competir em beleza com a deusa Hera. Castigada, foi lançada para todo o sempre, pela Senhora do Olimpo, no tenebroso Tártaro. 

Chamado Chios por seu rei, Enópion, dele recebeu Orion a incumbência de livrar a ilha de vários animais ferozes que a devastavam. Apaixonou-se Orion por Mérope, princesa real. O pai se opôs. Orion começou então a persegui-la. Enópion pediu o auxílio do deus Dioniso, que, atendendo-o, mergulhou o gigante em profundo sono. Cravando duas estacas nos olhos de Orion, Enópion o cegou. Apesar de desorientado, nosso herói soube por um oráculo que poderia recuperar a visão se caminhasse na direção do Sol. Foi então à ilha vulcânica de Lemnos. É recebido pelo deus Hefesto, que lhe deu por guia seu filho Cedalion, grande ferreiro, que o conduziu na direção do oriente. Mal iniciada a caminhada, Orion milagrosamente logo recuperou a visão.



Dirigindo-se à ilha de Creta, Orion entregou-se novamente às suas paixões. Lá, foi notado por Eos, a deusa da aurora, que, impressionada pela sua beleza, o raptou, levando-o para a ilha de Delos. Mas como os seus amores são efêmeros, Eos o encaminhou a Ártemis, para que a deusa lunar o instruísse corretamente na arte venatória e que, com ela, uma deusa virgem, ele aprendesse a controlar a sua hybris com relação às mulheres. Acolhido pela deusa, logo, porém, tentou violentá-la. Para puni-lo, a deusa retirou do interior da terra um ser até então desconhecido, o escorpião, que o picou mortalmente no calcanhar. Desde então, o escorpião é considerado como um instrumento da justiça vindicativa e, como tal, foi colocado entre as constelações para a perpétua lembrança dos seres humanos. 

O mito grego nos informa que tendo descido ao Hades, o eidolon do gigante continuará a caçar as bestas selvagens com uma clava de
ESCORPIÃO
bronze até o final dos tempos. Segundo outras versões, o gigante foi para os céus, onde, coberto com um peitoral de ouro à guisa de armadura e com um gládio nas mãos, brilha esplendidamente como constelação nas noites de inverno. Seu imenso brilho, entretanto, empalidece cada vez mais quando, à medida que a noite avança, as garras da constelação do Escorpião começam a atacá-lo. Orion “foge” na direção oeste enquanto Escorpião se levanta no leste.

Afora estas duas grandes interpretações de Orion, a egípcia e a grega, há também indícios de que o nome Orion teria vindo da região mesopotâmica, mais exatamente da Acádia, que ficava na
ORION  CARREGA  ÁRTEMIS
região superior da baixa Mesopotâmia. Uruanna seria, entre os acádios, uma divindade solar, como nome de Luz do Céu. Transformado depois em Urion, o nome chegou ao Mediterrâneo. Ovídio, poeta latino, chamava Orion de Comesque Bootes. Outros nomes pelos quais a constelação de Orion era designada entre os latinos: Venator, Dianae Comes e Amasius, isto é, Caçador, Companheiro e Amante de Diana. 

Uma das características mais marcantes da constelação de Orion na antiguidade tinha relação com seu aspecto tempestuoso, notado pelos hindus e pelos povos mesopotâmicos. Os escritores latinos

(Virgílio, Horácio e outros) usaram para designá-la adjetivos como aquosus, nimbosus, saevus, tristis, nautis infestu etc. Hesíodo, em Os Trabalhos e os Dias,  uma das obras máximas da chamada literatura sapiencial, se refere bastante a Orion, nos trechos referentes ao calendário dos trabalhos e à navegação. Homero fala do gigante como o ilustre Orion, o mais alto e belo dos humanos, mais mesmo que os Alóadas. 


 VARRO
Plauto e Varro, poetas latinos, deram a Orion o nome de Jugula, no sentido de união, isto é, A Unida, uma referência ao osso superior do braço (clavícula), às costas, região em que se encontram duas brilhantes estrelas, unidas por um colar (jugulum) de outras estrelas menores. Outros poetas latinos que se fixaram nessa designação, Jugula, preferem ver nela uma clara referência ao ato de cortar o pescoço, enforcar (jugulare, em latim), o que Orion fazia constantemente ao atacar as suas vítimas.



Os árabes deram a Orion o nome de Al Jabbar, O Gigante, seguindo a tradição ptolomaica. Popularmente, Orion entre os árabes era Al Babadur, O Forte. Antes, porém, de aceitar a tradição
MIKERINOS , KEFREN , KEOPS
ptolomaica, os árabes davam a Orion o nome de Jauzah, A Noz, destacando na sua forma uma figura que lembra um retângulo, dividido em duas partes, o  cinturão formado por três estrelas (Mintaka, Alnilan e Alnitak), de grande importância para os egípcios, usadas por eles para determinar a posição das pirâmides de Mikerinos, Kefren e Keops, perto da Grande Esfinge de Gizé, no Baixo Egito. 

No mundo judaico, nos chamados Livros de Job e de Amós, são encontradas referências a Orion, denominada Kislev, palavra que significa Louco, Ímpio, Inconstante, Orgulhoso. Segundo astrólogos judaicos, o nome Kislev tem a ver com o nono mês do calendário hebraico, novembro-dezembro, devido às tempestades que ocorrem neste período. Outro nome dado pelos judeus a Orion é Gibbor, O Gigante, considerado como Nimrod, expulso do céu por ter se rebelado contra Jeová.

Nimrod é um nome que aparece no Antigo Testamento (Gênesis, 10) para designar um caçador descendente de Noé. Foi o fundador mítico de Nínive (Assíria). É a personificação do império assírio. O
NIMROD
nome Nimrod parece ter sido dado a uma antiga divindade do país, deus da guerra e da caça. Nimrod soube por uma profecia que uma criança chamada Abraão, grande como deuses e reis, estava para nascer. Temendo perder seu reino, Nimrod mandou que seus soldados matassem todas as crianças que fossem nascendo. Deus, contudo, evitou a morte de Abraão.  

Nos textos hindus dos Brahmanes, Orion é personificado como Prajapati sob a forma de um cervo chamado Mriga. A história deste cervo é contada numa famosa peça Mriganka-Lekha, muito
PRAJAPATI
representada em Varanasi. Pelo texto teatral ficamos sabendo que Mriga procura a sua filha, a jovem e bela corça Rohini (estrela Aldebaran). Na busca da filha, Mriga é ferido por uma flecha tripla (o cinturão de Orion), disparada pelo vingativo caçador. Mriga é pai de vinte e sete filhas que dividem com o rei Soma,  o poder lunar sobre as nakshatras, as chamadas mansões lunares, da Astrologia hindu (Jyotish). Inicialmente vinte e sete, o número destas mansões foi elevado para vinte e oito posteriormente. Daksha é o poder espiritual na sua expressão masculina, criadora, geradora inclusive dos deuses. É identificado no mundo védico como Prajapati, o Senhor da Criação. 

No século XVII, Orion foi chamada de Regulon (Chefe), sendo-lhe dada como equivalente a palavra latina Vir (Força). Segundo essa denominação, Orion representaria, conforme a tradição judaica, Jacó, o último dos patriarcas, filho gêmeo e mais moço de Isaac e de Rebeca, em luta contra o anjo. Outra hipótese, ainda segundo a mesma tradição, Orion representaria Josué, guerreiro, sucessor de Moisés, que conduziu os judeus à terra prometida após as suas perambulações pelo deserto.  

Na Cabala, Orion aparece associada à letra Aleph, a primeira letra do alfabeto judaico e arábico. Indica início, começo, figuradamente. Etimologicamente, a raiz semítica aleph (hebraica) e alif (árabe) tem relação com a cabeça do boi que, inicialmente um ideograma, acabou como letra. O grego alpha é calcado na raiz semítica. Os judeus, como se sabe, desenvolveram um conhecimento de alto valor simbólico a partir do seu alfabeto. 

Assim, para a Cabala (tradição recebida) um nome não é senão a essência da coisa nomeada. Todos os nomes do mundo estão dentro do alfabeto, formado por letras, sendo o universo um produto da combinação delas, mas é no homem que esta combinação se manifesta. A Cabala, a partir da combinação de letras, formulou um grande número de especulações cosmogônicas e místicas. A letra aleph evocaria a coroa suprema, o que se dirige para as alturas, simbolizando assim a espiritualidade.

A constelação de Orion estende-se de 6º de Gêmeos a 2º de Câncer. Segundo Ptolomeu, as suas estrelas produziam influências semelhantes às de Marte e Mercúrio: natureza afirmativa mas inconsequente, arrogância, viagens, perigo, sobretudo para a navegação; criação de animais (gado). Quanto a fenômenos atmosféricos, produção de tempestades.



Quanto às estrelas, começa-se por Betelgeuze, alfa, de 1ª magnitude, variável, hoje a 28º03´ de Gêmeos. O nome vem do árabe, Ibt al Jauzah, ou seja, A Axila do Gigante. Antes de prevalecer o nome de Betelgeuze, esta estrela recebeu nomes como Al Mankib (As Espáduas) e Al Dhira (O Braço), além de outros. Por muitos séculos, Orion foi apelidada de Mirzan (O Arauto), a que anuncia o Sol. Esta estrela é uma das maiores do céu, podendo trazer favorecimento, sucesso, embora algumas complicações possam ocorrer. Por suas poderosas vibrações, trata-se de uma estrela cuja influência é claramente notada. Em mapas astrais nos quais ela se posiciona na direção do nadir, sua influência só se tornará evidente mais para o fim da vida ou mesmo só depois da morte. Ascendendo, Betelgeuze costuma trazer muita energia, muitos impulsos, notados logo, projeção. O mapa de Marilyn Monroe é um
JEAN-BAPTISTE  COLBERT
( PHILIPPE  DE CHAMPAGNE ) 
exemplo. Culminando, Betelgeuze, costuma indicar sucesso profissional, mundano, como o apontado no mapa de Jean-Baptiste Colbert. O exemplo que escolhemos para ilustrar Betelgeuze descendendo (a energia da estrela se expressando tardiamente, na maturidade, ou proporcionando reconhecimento longe do lugar de nascimento), o tema de Pierre Auguste Renoir. Planetas que se relacionam com Betelgeuze costumam indicar, se em aspecto harmônico, contribuições positivas para os assuntos da casa onde a estrela se encontra. A estrela tem uma ligação natural com alguma forma de ambição, de busca ascensional, 

Rigel (em árabe, Rijl Jauzah al Yusra, A Perna Esquerda de Jauzah), a 16º08´ de Gêmeos atualmente, embora mais brilhante que Betelgeuze, é catalogada como estrela beta da constelação. No
KEPLER
antigo Egito, era a “ponta do pé” do faraó, o que significava “estar sob a proteção de Osíris”. Seu caráter é jupiteriano: educação, busca de conhecimentos, ensino, expansão em direção da luz, desejo de aprender. Pode ser estudada, por exemplo, em mapas como o de Johannes Kepler e o de Immanuel Kant, no primeiro ela culminava, no segundo ela estava no nadir.

Bellatrix, conhecida como “A Mulher Guerreira”, “A Amazona”. Está a 20º15´de Gêmeos, estrela gama. Tem natureza marciana e mercuriana. Está no ombro esquerdo de Orion. Conhecida também como O Conquistador ou O Leão Rugidor. Há promessa de sucesso, mas o preço costuma ser muito alto. A ascensão não pode deixar de lado o questionamento interior. Marilyn Monroe e Vincent van Gogh  são exemplos. No mapa da primeira, a estrela se punha. Van Gogh é um tipo Bellatrix bem definido. 

As estrelas do cinturão são delta, epsilon e dzeta, Mintaka, Alnilan e Alnitak, a 21º 41´, 22º 46´ e   23º de 12´de Gêmeos, respectivamente, todas de caráter saturnino. A posição destas três estrelas, como se disse, foi usada para a determinação do local em que foram erguidas as pirâmides de Mikerinos, Keops e Kefren, no baixo Egito. A não ser a observação de Ptolomeu (as estrelas que
que não estão no ombro de Orion têm características de Júpiter e de Saturno), nenhum outro registro, ao que me conste, sobre as estrelas do cinturão. Joseph Rigor e Vivian Robson seguem Ptolomeu, isto é, as estrelas do cinturão proporcionam honras passageiras. A título de curiosidade, registre-se que no início do século XIX (1.807) a Universidade de Leipzig, por causa das espetaculares vitórias de Napoleão Bonaparte em várias batalhas, deu o nome de “Napoléon” ao cinturão de Orion. Uma represália aos ingleses, que haviam dado o nome de Nelson (almirante Horatio Nelson), pelas mesmas razões, ao referido cinturão. Felizmente, nenhum dos nomes “pegou”.





PISCIS AUSTRALIS – Esta constelação aparece nos céus intimamente ligada à constelação de Aquário, representada tradicionalmente por um aguadeiro. O líquido que escapa de sua jarra ocupa uma extensa região do céu que os antigos chamavam simplesmente de A Água. O Peixe Austral bebe dessa água através de sua boca, isto é, da sua principal estrela, Fomalhaut (boca de peixe, em árabe). Desde tempos pré-históricos, o peixe está nos céus como um dos grandes arquétipos que a humanidade usa e compartilha pelo seu conteúdo imagístico e simbólico, evidenciável nos mitos, nas religiões, nas histórias e nas lendas. O fluxo no qual o Peixe Austral mergulha a sua boca é, por sua vez, uma representação do próprio fluxo existencial no que ele tem de fertilidade.


Uma das mais antigas leituras desta constelação nós a encontramos entre os antigos persas. Fomalhaut (ligada a ideais e a sonhos), a estrela principal de Peixes Austral, ligava-se, para eles, a Aldebaran (de Touro, ligada ao que é íntegro e honesto), Antares (de Escorpião, ligada ao que é intenso e investigativo) e Regulus (de Leão, ligada ao sucesso sem desforra). Segundo os persas, estas quatro eram as estrelas mais peculiares do céu. Cada uma delas tinha uma forma de agir única numa trajetória de vida, proporcionando lições, podendo trazer sucesso se as pessoas soubessem lidar com os obstáculos que se apresentassem. Cada uma dessas estrelas significava um tipo específico de dilema ou de fraqueza. Havia, com elas, sempre algo enigmático a ser decifrado. Do contrário, trariam fraqueza, levariam à fuga, causando derrotas e fracassos. Segundo os persas, em tempos muito remotos, os quatro cantos do céu foram presididos pelas mencionadas estrelas: a primavera era de Aldebaran; Regulus se relacionava com o verão; Antares tinha a ver com o outono; e Fomalhaut era a guardiã do inverno. 

MAZDA
Antes que Mazda se impusesse como o deus dos deuses, senhor dos céus e criador de todos os seres, mestre e administrador de todos os povos, o panteão persa era muito complexo, nele se entrechocando muitas influências provenientes de seu fundo indo-ariano. Mazda, cujo nome lembra sabedoria, iluminação e embriaguez divina, era também o dispensador de poderes transcendentes, conhecido como Ahura Mazda (Decisão e Conhecimento). Com a reforma de Zaratustra (séc.VI aC), é realizada uma conciliação entre as velhas tradições, que a antiga corporação religiosa dos magos representava, e os novos cultos reais. 

Incorporando depois várias influências, inclusive budistas, e se diversificando (mitraísmo e maniqueísmo), o mundo religioso persa tem como duas figuras principais Ormazd e Ahriman, os dois polos da existência, a vida e a morte, a luz e as trevas, respectivamente. Dois exércitos, o do bem, o dos Amchaspends; o do mal, dos Daevas. Este pensamento vai se refletir na cosmogonia e no aparecimento da vida humana. As duas primeiras criaturas a surgir foram Gayomart, um homem, e Goch, um touro. Ambos morrerão por obra de Ahriman, o gênio do mal. Gayomart, contudo, havia enterrado sua semente, que, protegida por Ormazd, depois de quarenta anos sob a terra, deu origem ao primeiro casal, Machya e Machyoi. Inicialmente puros, foram depois aprisionados pelo mal, embora continuassem apoiados pelas entidades do bem. Aprenderam a dominar o fogo e a usá-lo para satisfazer as suas necessidades. 

Da longa cadeia de descendentes deste primeiro casal, chegamos ao rei Faridun, que, muito velho, dividiu seu imenso império entre seus três filhos. Brigaram eles entre si, matando-se. O poder acabou nas mãos de um neto de Faridun, a quem ele entregou a coroa real. Muito jovem, o novo soberano, Minutcher, teve inicialmente como conselheiro o nobre Sam, governador de uma província do império. Voltando ao seu lugar de origem, Sam tornou-se pai de uma criança como nunca se vira outra. Era bela como o Sol, mas seus cabelos eram brancos como os de um velho. Escandalizado com a presença deste filho, Sam mandou que seus auxiliares o expusessem, levando-o para o alto de distantes das montanhas. Tendo sua atenção despertada pelo choro da criança, Simurgh, o Abutre, o recolheu com as suas possantes garras, levando-o para o pico do monte Alborz. 

A criança cresceu rapidamente, tornando-se, como diz a história, um homem semelhante a um alto cipreste, seu peito era como uma colina de prata.  Cheio de remorsos, avisado por um sonho, o pai pôs-se a procurar o filho. Chegando por fim às montanhas, depois
NASCIMENTO   DE   RUSTEM
de muito procurar, descobriu o pico onde vivia Simurgh, que consentiu que o pai levasse o filho de volta. Dando bênçãos, Sam deu o nome de Zal ao filho. Zal tornou-se logo um herói sábio, vigilante, dando mostras de um grande desprendimento no seu trato com os outros a quem sempre procurava ajudar. Um dia, numa viagem, encontrou Rudabeh, jovem princesa, de um estado vassalo do pai. Depois de muitas peripécias, de muito esforço, casaram-se e, segundo previsões astrológicas, se tornaram pais de Rustem, que se tornaria glorioso e invencível, e de quem sairia a linhagem, desde então, de todos os imperadores persas.   

Para os persas, Zal simboliza o final do solstício de inverno, porta que se abre para a fase ascendente do ciclo anual. A última porta do solstício do verão se abre para a fase descendente deste ciclo. É de se lembrar aqui que as portas solsticiais eram representadas, entre
JANUS
os romanos, por Janus, deus bifronte. Lembro que uma das justificativas para se considerar o nascimento de Cristo no solstício de inverno é justamente esta, a de que ele viria para nos introduzir na fase luminosa do ciclo, ascendente. João Batista, nessa perspectiva, estaria relacionado com o solstício de verão. Seria, pois, a confirmação do texto bíblico: É preciso que ele cresça e que eu decresça (João, 3, 30). Por outro lado, fica a observação que o solstício de verão marca o apogeu do curso solar, seu zênite. Nesse período é que são celebradas as festas do Sol. Na medida em que Cristo é comparado com o Sol, seu signo de nascimento seria o de Câncer solsticial. 


OVÍDIO
A constelação do Peixe Austral era também conhecida na antiguidade pelo nome de Piscis Aquosus, como o poeta Ovídio a ela se refere nas suas Geórgicas. O poeta Virgílio, por sua vez, associa o Peixe Austral ao melhor período para a coleta de mel. Piscis Solitarius é outra designação que aparece. Entre os povos de Ásia Menor, os fenícios principalmente, esta constelação representava o deus marinho Dagon, híbrido, entre o humano e o peixe, simbolizando o princípio da umidade em tudo o que é animado.  

Entre os mesopotâmicos, a divindade marinha na forma de homem-peixe, Oannes, ou Anu, era considerado como O Revelador. Os sacerdotes de seu culto cobriam os ombros com uma capa pisciforme e uma mitra simulando a cabeça de um peixe. Oannes
MATSYA
exercia uma função parecida com a do avatar Matsya, do deus Vishnu, na forma de peixe, que salvou do dilúvio Manu, o primeiro homem mítico, o legislador do presente ciclo. É Matsya quem transmite a ele o conhecimento védico, revelando-lhe o conjunto da ciência secreta, os Vedas. O peixe simboliza aqui a água, isto é, a fecundidade e a sabedoria. Ele as detêm porque vive nas profundezas dos oceanos e, como tal, é penetrado pela força sagrada dos abismos. Os árabes, quando adotaram as constelações gregas, deram a este grupo de estrelas o nome de Al Hut al Janubiy (O Grande Peixe do Sul).


VÊNUS
Os romanos (Varrão, Cícero, Pacúvio) falarão que o peixe foi para os céus como uma homenagem à forma pisciana que Vênus tomava, quando era chamada de Salácia, nome que traduz uma ideia de salto, como o fazem as ondas e os peixes. Lembro que entre os romanos a deusa do amor, conforme a própria etimologia do nome Vênus sugere (amor físico, carnal, apetite sexual), passou a incorporar cada vez mais os traços da Afrodite grega, tornando-se mais úmida, o que se justifica tanto por razões míticas como astrológicas (Vênus, como planeta, se exalta no signo de Peixes).  

PEIXE   AUSTRAL
Peixe Austral estende-se de l5º de Aquário a 5º de Peixes, concentrando-se as interpretações de sua influência em Fomalhaut, estrela de 1ª magnitude, alfa, hoje a 3º 09´ de Peixes. Ptolomeu atribuiu a esta estrela influências semelhantes às de Vênus e de Mercúrio. A tradição fala de espiritualidade, idealismo, imaginação ativa. Por volta de 500 aC, é preciso lembrar, Fomalhaut era reverenciada nas cerimônias que se realizavam nos Mistérios de Elêusis. 


ELÊUSIS

Sempre considerada como uma das estrelas mais benéficas do céu, é preciso, contudo, observá-la com cuidado. Os benefícios proporcionados por ela, mesmo no caso de um boa posição, e aproveitando a deixa mitológica acima mencionada, não virão contudo facilmente, conforme constatei em alguns mapas. Há que se fazer um caminho para se ter acesso ao “tesouro” que ela representa, como no caso da história de Zal. A conquista de Rudabeh não foi fácil. Além do mais, a própria história de Zal, com as suas lutas, deixa claro que a estrela parece só “funcionar” quando o ideal buscado é de natureza humanitária, espiritual, tendo, pois, relação com os dois últimos signos do Zodíaco. Se interesses egoístas estiverem por trás da busca, o fracasso costuma ser total. Com Fomalhaut há sempre necessidade de muita clareza com relação aos objetivos. Esta estrela, se mal posicionada ou aspectada, também pode provocar uma certa alienação com relação à realidade, algo que se aproxima dos famosos complexos de fuga e de evasão dos piscianos. Fantasias, embalos, um estado deambulatório, que, num primeiro momento, aparentemente agradável, pode trazer, em casos extremos, dor, sofrimento e mesmo a morte.


FRÉDÉRIC   CHOPIN  ( EUGÈNE  DELACROIX )

O mapa astral de Frédéric Chopin é um bom exemplo para o estudo de Piscis Australis e de sua grande estrela, Fomalhaut. Chopin nasceu com o Sol no poente, em Peixes, em conjunção com Vênus. Segundo a melhor tradição helenística, a melhor expressão, para o bem ou para mal, de estrelas posicionadas no poente se manifesta na meia idade e/ou longe da pátria.