segunda-feira, 19 de outubro de 2015

CLAUDE DEBUSSY II


CLAUDE   DEBUSSY   -   1900

Claude Debussy (1862-1918),   nascido Achille-Claude, é  uma das maiores figuras da música ocidental. Muito do  que ele compôs entre o final do século XIX e começo do século XX influenciou a

música popular que viria a se fazer no Brasil. Dois nomes, dentre outros, lhe são, de algum modo, tributários, Radamés Gnatali e Antônio Carlos Jobim. Boa parte do que Debussy nos deixou se deve à sua ligação com poetas. Sua formação cultural foi muito enriquecida pelo que ouviu quando frequentou Stéphane Mallarmé e Pierre Louÿs, impregnando-se das estéticas
BAUDELAIRE
simbolista e impressionista, que tanto vão se refletir nas suas audácias rítmicas. Suas obras camerísticas vocais e instrumentais têm, por exemplo, como autores das letras, poetas como Baudelaire (Cinq Poèmes) e Paul Verlaine (Fêtes Galantes). Seu Prélude  à l'Après-midi d'un faune, feito sobre um poema de Mallarmé e Pelléas et Mélisande, ópera, tem texto de Maurice Maeterlink, poeta simbolista belga.

Grande parte da crítica especializada costuma se referir, sem maiores explicações, ao caráter e ornamentos felinos da obra musical de Debussy. Se se dignassem os nossos críticos oficiais a ir um pouco mais fundo nas suas apreciações, recorrendo a outros meios para a abordagem da personalidade e da obra de artistas, as conclusões que temos sobre elas poderiam ser muito diferentes, mais ricas, jogando-se muito mais luz sobre o que temos. 

Para começar, por exemplo, saberiam que nosso compositor foi um dos mais bem logrados tipos leoninos (Sol e Ascendente em Leão). Recorrendo a um levantamento astropsicológico de sua personalidade, muito se poderia dizer sobre sua obra e de como ela reflete a mencionada tipologia, sobretudo nos seus escritos teóricos e nas suas posturas críticas. Como um leão, o rei dos felinos, Debussy foi, sem dúvida, “dono” de um extenso território musical na segunda metade do século XIX.

A Astrologia permite que se investigue uma questão fundamental quando a levamos para a arte: a de que toda obra artística traz consigo as marcas de seu autor, sobretudo do seu temperamento, do seu modo de ser, de sua presença no mundo. Para a Astrologia, no caso, todo autor se projeta de uma maneira mais ou menos perceptível na sua obra, uma projeção que ela possibilita visualizar de um modo muito diferente daquele que a crítica ou a história da
JAPONAISERIE
arte apresentam. Permitir-nos-ia essa abordagem entender melhor, por exemplo, que as influências do oriente na obra de Debussy vão muito além da sua japonaiserie e do seu interesse pelas músicas anamita  e javanesa (gamelang), que ele descobriu na Exposição Internacional de 1889, realizada em Paris.

O que aqui aponto nada tem a ver, evidentemente, com as informações que circularam sobre a famigerada Sociedade de Sião, sociedade secreta da qual Debussy, segundo consta, teria sido um dos grão-mestres (nautonniers), numa linha sucessória que teria nomes como os de Nicolas Flanel, Leonardo da Vinci, Botticelli, Isaac Newton, Victor Hugo, Jean Cocteau e outros. Ao que parece, tudo não passou de uma piada surrealista, encampada tardiamente, como jogada de mercado ($$$), por bobagens editoriais de grande sucesso como O Código da Vinci.

As relações do autor de La Mer com esse “outro lado”que às vezes

é chamado de hermético, simbolista, esotérico ou ocultista, ainda não foram levantadas para se perceber de que modo ele está presente em sua obra. Em setembro de 1893, ainda muito jovem, Debussy, numa carta a Ernest Chausson, compositor como ele, deixou-nos estas observações: Verdadeiramente a música deveria ser uma ciência hermética, preservada por textos de uma interpretação tão longa e difícil que ela desencorajaria certamente o troupeau de gens que dela se serve com a mesma desenvoltura com que se serve de um lenço! Ou, e além disso, ao invés de procurar levar a arte ao público, eu proponho a fundação de uma Sociedade de Esoterismo Musical. 

Debussy, certamente consciente do progressivo rebaixamento dos padrões artísticos já notáveis ao seu tempo, usou a palavra esoterismo corretamente, segundo a sua etimologia: ensino ministrado em círculos fechados e restritos de ouvintes, discípulos interessados, particularmente qualificados. Estas ideias circulavam entre os poetas simbolistas da época. 


MALLARMÉ
Quem as encarnou de modo superlativo foi Mallarmé, vinte anos mais velho que Debussy, considerado como o maior representante da corrente hermetista na literatura francesa. A vocação poética, para Mallarmé, exigia uma espécie de ascese (no sentido que os filósofos gregos davam a esta palavra: conjunto de práticas e disciplinas caracterizadas pela austeridade e autocontrole do corpo e do espírito que fortaleciam a especulação em busca da verdade; exercício continuado, crescimento, prática diuturna), que implicava uma renúncia total dos prazeres comuns, um desdém pelo banal e pelo acessível. Mallarmé sempre exigiu dos que se aproximassem de sua obra uma preparação sólida para que entre leitor e poesia pudesse se estabelecer uma rara e exaltada comunhão.