terça-feira, 21 de abril de 2015

MITOLOGIAS DO CÉU - JÚPITER (3)

                                  
Se na mitologia os conceitos solar e jupiteriano se aproximam muitas vezes, na astrologia as diferenças são grandes. Apesar do heliocentrismo da ciência moderna, o Sol, para a astrologia, continua sendo um “planeta”, válidas portanto para os astrólogos as teses ptolomaicas. Isto se deve evidentemente à sua revolução aparente em torno do Terra, determinante do ciclo anual. Há também a considerar que o Sol é  o mais “pessoal” de todos os chamados “planetas” pessoais (Lua, Mercúrio, Vênus e Marte), já que simbolicamente tem a ver com a força vital do homem, com a sua posição no mundo, com a sua vontade e individualidade mais interiorizada.




Desde tempos imemoriais, o Sol sempre foi considerado por todas as civilizações como uma divindade suprema ou como um aspecto visível da  manifestação dessa divindade, fazendo-se do  luminoso astro um símbolo do poder criador. É nesse sentido, como poder criador, que ao Sol foi atribuída a regência do signo de Leão, auge do verão, período em que no hemisfério norte o nosso planeta recebe a maior quantidade de luz solar.

O Sol  será então a força vital presente em cada um dos seres humanos, que precisam controlá-la  e lhe dar um direcionamento segundo vários objetivos. É aqui que entra Júpiter para nos propor perguntas como a de que maneira isso poderá ser feito, como nossa energia funcionará na escala social. Caberá ao Júpiter de cada um de nós, na nossa carta astral, responder a essas questões.

Como manifestação dinâmica Júpiter marca a inserção do ser humano no mundo externo através de uma ação ativa e direta. Lembra ele sempre que a afirmação individual terá que levar em consideração os aspectos éticos e morais dessa inserção. É Júpiter quem vai colocar as virtudes marcianas (atividade física, decisão, pioneirismo, sexualidade) e solares (conquista de um ego autônomo, soberania, independência) numa perspectiva social correta. As primeiras, se desviadas, podem levar à agressividade, à cólera, à violência, a guerra. As outras, sem a consideração do outro, podem levar à tirania, à egolatria, ao narcisismo, ao autoritarismo. É Júpiter, como regente do signo de Sagitário, que poderá transformar o leonino de tipo hercúleo, horizontal, realista, eficaz, num leonino verticalizado, de tipo apolíneo, idealista, espiritualmente orientado em direção do grande todo, isto é, da humanidade, da coletividade.


SAGITÁRIO

Como “rei” dos planetas, Júpiter é uma espécie de administrador do cosmos. Pessoas com um Júpiter dignificado, bem aspectado ou elevado, têm um “mental superior” que as orienta. Se o Sol é a energia do nosso eu profundo voltada para este ou aquele objetivo, conforme a casa que ocupar, devidamente assessorado pelos demais planetas pessoais, Júpiter é aquele que vai dar um sentido correto à exteriorização solar. Um Júpiter bem aspectado num tema astrológico nos diz que essa exteriorização poderá se dar de forma generosa, benevolente, amigável.

É a partir destas considerações que devemos pensar também em Saturno, outro planeta relacionado com o social, quando pensamos em Júpiter. Ambos têm uma polaridade natural. Se Júpiter significa a possibilidade (habilidade) que temos de desenvolver a nossa personalidade em direção do social, do coletivo, através de linhas espirituais, aumentando bastante o nosso campo de ação, de modo a visualizar o mundo de modo mais abrangente, Saturno é o princípio da limitação e da ordem.

Saturno representa as regras de qualquer atividade em que nos empenhemos, o jogo da vida como um todo, se quisermos, definindo o que pode e o que não pode ser feito. Se Saturno nos faz ver o mundo em termos de separação, de fronteira, de barreira, Júpiter aponta para relações onde entrem aspectos de interdependência e conexão.

Assim, se um é expansão, dilatação, crescimento, desenvolvimento, oportunidade, o outro é obstáculo, limitação, restrição, o que deve ser observado e respeitado. Quando ambos os planetas estão equilibrados no nosso mapa, quando têm um certo balanceamento, podemos planejar melhor a nossa caminhada, o nosso desenvolvimento social em direção do coletivo.


JÚPITER , SATURNO E  NETUNO  EM  ASPECTO

Exemplificando: se Júpiter e Saturno estiverem totalmente desconectados num mapa, podemos pensar em sérias dificuldades para uma pessoa se desenvolver, crescer ou se expandir de modo harmonioso, equilibrado. Se temos um Júpiter muito ativado e um Saturno fraco sob o ponto de vista astrológico, podemos pensar em indisciplina, imoderação, presunção. A arrogância é uma das características de um Júpiter muito forte (em fogo, mesmo em Sagitário, com aspectos dissonantes de Marte, Urano ou Sol, ou angular, por exemplo).

Um Saturno muito forte e um Júpiter enfraquecido poderão fazer alguém se sentir muito cobrado quanto às responsabilidades e deveres, especialmente quando criança ou jovem. Evidentemente, quando temos um Saturno muito forte em qualquer mapa temos que levar em consideração, obrigatoriamente, como a influência paterna aparece nesse contexto.

Os gregos davam o nome de Zen, Zes ou Zeus ao maior dos seus deuses. Os poetas romanos o chamaram de Jove, jovem, por ter nascido na terceira dinastia divina e ser o último dos olímpicos a nascer. Por trás de Zeus está o radical indo-europeu div, com o significado de luz, luminosidade celeste. Desse radical saíram Dyaus, Delos (brilhante), deus, Dyaus Pitar, Júpiter.

Desde sempre Zeus se ligou, não ao céu, à abóbada ou ao espaço celeste, mas, sim, às manifestações atmosféricas que atingiam a Terra a partir do céu. É neste sentido que seus apelidos vão aparecendo, Chuvoso (Ombrios), O Que Envia Ventos Favoráveis (Urios), O Trovejante (Brontaios), O Relampejante (Astrapaios) etc.


ZEUS

Zeus era filho de Cronos e de Reia, divindades titulares da segunda dinastia divina (Esquizogenia), sendo o mais novo dos seis filhos, antecedendo-o Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon. Para se
REIA, A PEDRA E CRONOS
transformar em Senhor do Universo, sua primeira batalha foi travada contra o pai, que engolia todos os filhos que Reia, a mãe, gerava. O único filho que Cronos não engoliu foi justamente Zeus. Grávida dele, Reia refugiou-se em Creta. Nascendo o filho, ela o escondeu numa gruta da ilha e levou para o marido, no lugar da criança, uma enorme pedra envolvida em panos para que ele, como havia acontecido com os demais filhos, o devorasse.

Quem fixou o lugar de nascimento de Zeus para nós foi Hesíodo,
MONTE  IDA
em Creta, como se disse, no monte Lictos. Outros autores apontam, porém, para o monte Dicteu ou para o monte Ida. Os beócios, por seu turno, afirmam que o Senhor dos Deuses nasceu em Tebas, os aqueus nos dizem que tal ocorreu numa de suas cidades, perto de Corinto; os Messênios, em Messena, perto de Pilos; os arcádios, no Monte Lico. Enfim, cada povo procura fazer de Zeus seu compatriota.Isto nada terá de estranho se tivermos  alguma familiaridade com o mito e soubermos que há mais de trezentos Zeus espalhados pelo mundo Mediterrâneo e Ásia Menor, o que o torna a divindade com o maior número de apelidos e, portanto, a mais cultuada. Se lembrarmos que Apolo, o grande operador do sistema religioso olímpico tinha cerca de duzentos apelidos, ficará fácil entender como Zeus era o “maior de todos”.



ZEUS  E  EUROPA
Dentre os mais notáveis Zeus, fora da Grécia, temos, por exemplo o de Amon, na Líbia, talvez um dos mais antigos; os egípcios têm o de Serapis; os persas têm um Zeus Urânio; há um, de nome Asterio, em Creta, que raptou a princesa fenícia Europa. Diodoro Sículo faz de Zeus o rei dos Atlantes. Se trouxermos os romanos para estas considerações, veremos que Cícero admite dois Zeus: um filho do Éter, nascido na Arcádia, que gerou Baco e Proserpina, e outro, também arcádio, filho de Urano e pai de Minerva. Em Creta foi encontrado um túmulo muito antigo com a inscrição: Ci git Zan.

OS   CURETES
Na gruta de Creta, Zeus, recém-nascido, foi entregue aos cuidados dos Curetes (de kouros, jovens, jovens guerreiros, no caso), seres divinos, que, armados, o protegiam e executavam continuamente em torno do seu berço   uma dança guerreira a fim de encobrir o seu choro. Os Curetes faziam parte do séquito de Zeus-menino; suas armas de bronze, escudos, lanças e espadas, produziam um ruído ensurdecedor, que, entretanto, o nunca impediu, entretanto, o sono da criança divina.


AMAMENTAÇÃO  DE  ZEUS  ( POUSSIN )

A alimentação de Zeus, além dos cuidados corporais, ficou sob a incumbência das ninfas Melissai (abelhas, em grego). O seu regime alimentar era completado pela solicitude da maravilhosa cabra Amalteia (generosa, doce; malthakos, em grego, é suave), que lhe fornecia enormes quantidades de leite. Consta do mito que Zeus, ainda criança, mas já crescido, um dia, brincando com a sua ama-de-leite na gruta, acidentalmente quebrou um de seus chifres. Prometeu a ela, e assim foi feito, que o chifre seria transformado na cornucópia, o corno da abundância.


CORNUCÓPIA

Símbolo de riquezas inesgotáveis oferecidas ao ser humano sem que ele faça qualquer esforço para merecê-las (profusão gratuita dos dons divinos), a cornucópia é um chifre do qual  saem frutos e outras delícias ininterruptamente. Uma outra versão grega, porém, nos narra que a origem da cornucópia é outra. Seria ela um chifre do rio Aqueloo, filho de Oceano e de Tétis, que Hércules dele arrancou, quando havia tomado uma forma taurina, numa disputa pela bela Djanira (etimologicamente, a matadora de homens). Para recuperar o chifre arrancado pelo herói, Aqueloo lhe propôs dar em troca o chifre de Amalteia, então sua prisioneira. A proposta foi aceita e Hércules recebeu assim o maravilhoso presente.

É de se registrar que a cornucópia foi parar na mitologia romana como atributo das deusas Flora e Fortuna. A primeira, como se sabe, representa o eterno renascer da vegetação na primavera e, neste sentido, presidia tanto a floração dos vegetais em geral (da videira, em especial), de árvores frutíferas e plantas ornamentais, protegendo-as de qualquer moléstia. Como deusa, Fortuna é a favorável, a propícia e também a adversa, ou seja, a boa ou a má fortuna. Aos poucos, no mundo romano, passou a significar só os dons da fortuna, da riqueza. De certa maneira, opõe-se ao Fado, Destino, e aproxima-se da deusa  grega Tykhe, o Acaso, passando a significar aquilo que o homem alcança  ou realiza por decisão dos deuses sem que estejam evidentes para os humanos as razões para isso. Fortuna é representada com a cornucópia (prosperidade) e empunha um remo (símbolo da reta direção que deve tomar a busca da riqueza). Aparece sentada, às vezes em pé, sempre cega em qualquer representação. Da pele da cabra Amalteia, invulnerável, Zeus fez uma égide (aigós), arma tanto ofensiva quanto defensiva, depois entregue a Palas Athena, nela se fixando a cabeça da Medusa, morta pelo herói Perseu.

HÉSTIA
Chegando à idade adulta, Zeus, sentindo-se apto, resolveu enfrentar o pai. Aconselhado pela deusa Metis, o Juízo Avisado, e por ela apoiado, dela recebeu uma droga maravilhosa, um vomitório, conseguindo fazer com que o pai inadvertidamente o engolisse. Com isto, Zeus trouxe seus irmãos de volta à vida. Embora primogênita, lembremos, Héstia, com o seu grande espírito de sacrifício, foi, sponte sua, a última sair das entranhas do pai.


Auxiliado pelos irmãos, Poseidon e Hades, Zeus iniciou então uma longa luta contra Cronos e os membros da segunda dinastia, seus tios. Este episódio será conhecido pelo nome de Titanomaquia, ou seja, a luta dos futuros olímpicos, terceira dinastia (Autogenia), contra os titãs, os filhos de Urano e Geia (1ª dinastia, Cosmogenia).


CÍCLOPES

Consta que a luta entre Zeus, um crônida (filho de Cronos), contra o pai e seus irmãos durou dez anos. Vitoriosos, Zeus e seus irmãos os expulsaram dos céus e os lançaram no Tártaro. Não se pode esquecer que a vitória dos futuros olímpicos se deve em grande parte ao poderoso auxílio que receberam dos Cíclopes e dos Hecatônquiros, filhos de Urano e Geia. Foi Geia quem sugeriu a Zeus que libertasse os seus monstruosos filhos do Tártaro, nele encerrados por Urano, que os detestava. Agradecidos, os Cíclopes cederam a Zeus o trovão, o relâmpago e o raio, atributos de cada um deles, respectivamente de Brontes, Estérope e Arges. A Hades, os Cíclopes deram o elmo da invisibilidade e a Poseidon o tridente, que abala as terras e o mar. Terminada a grande batalha contra os titãs (os que levantaram as mãos contra o pai e os do cálcio: duas etimologias admitidas para a palavra titã), num sorteio manipulado por Zeus, o grande artífice da vitória olímpica, sem dúvida, o mundo líquido (oceano, mares, lagos e rios) coube a Poseidon; o mundo ctônico coube a Hades, que desde então passou a ser chamado também de Plutão; a Zeus coube não só os céus, ou melhor, o controle e a distribuição de todos os fenômenos celestes, como a supremacia do Universo.


TEMPLO  DE  ZEUS
Por seu nome, Zeus evoca, além de uma ideia de céu luminoso, os seus fenômenos atmosféricos. Além do trovão, do relâmpago e do raio, é o senhor dos ventos, das nuvens e das chuvas, fecundantes ou destrutivas. Vive acima das nuvens, residindo  como todos os demais deuses no Éter, acima do Ar. Por essa razão, na Terra, sempre foi honrado em lugares elevados, como no Liceu, na Arcádia, no monte Apesas, na Argólida, no monte Hymeto, na Ática, no monte Helicon, na Beócia, no monte Ida em Creta etc.

GIGANTE

A Grande-Mãe Geia ficou profundamente irritada com Zeus e seus irmãos por terem lançados os titãs, seus filhos, no Tártaro. Incitou contra eles os Gigantes, seus filhos, nascidos do sangue derramado de Urano sobre ela, quando de sua castração. Este episódio é conhecido pelo nome de Gigantomaquia e nele se descreve a luta e a vitória dos olímpicos sobre os monstruosos filhos de Geia.

Os Gigantes só poderiam ser feridos mortalmente se a agressão fosse praticada por um deus e por um mortal, atuando solidariamente. Havia ainda uma famosa planta, uma erva mágica, produzida por Geia, que, se aplicada sobre o ferimento, poderia torná-los imortais. E como se tudo isto não bastasse eles haviam sido criados por Geia de modo que, se golpeados, desde que tocassem a superfície terrestre, poderiam recompor-se, recuperando as suas forças. Como se pode ver, eram praticamente invencíveis. A única forma de abatê-los era a mencionada no início deste parágrafo e, mesmo assim, sempre, com ingentíssimos esforços.

Dois dos gigantes, Alcioneu e Porfirion, eram exceções: escapavam da condição retro mencionada, tornando-se imortais, desde que nunca deixassem de manter contacto com a sua mãe através da planta dos pés. Os Gigantes (literalmente, os gerados por Geia, pela Terra) desde que nasceram sempre se insurgiram contra as divindades, em especial contra os olímpicos. Fortíssimos, enormes, barba hirsuta, cabeleira desgrenhada, viviam  afastados, isoladamente ou em pequenos grupos.


GIGANTOMAQUIA
Na Gigantomaquia, lançavam petardos contra o Olimpo, grandes blocos de pedra, troncos de árvores inflamados, lavas vulcânicas, sempre ameaçando as estruturas do palácio dos deuses. Quando apareceram nos campos Flegreos, o campo de batalha, os deuses se assustaram com a aparência deles. Horrendos, alguns tinham a forma dracôntica, algo nunca visto pela maioria dos deuses, acostumados a uma convivência harmoniosa com seres luminosos, de esplêndida beleza.

Lembre-se que numerosas antigas culturas consideravam os gigantes como símbolos da natureza primitiva e informe. Antes que os seres humanos pudessem gozar dos benefícios da civilização só os seres que possuíssem um grande vigor físico poderiam sobreviver num mundo sem lei e sem ordem, num mundo natural, de forças naturais descontroladas, povoado de monstros, cruel e impiedoso. Os gigantes e os chamados monstros pré-históricos, enormes, além de outros, eram os seres desse mundo, que “sobrevivem” em nós de algum modo como reminiscências desse tipo de vida.

Os gigantes, em todas as mitologias, como a celta, por exemplo,
O  GIGANTE  E  A  MULHER
sempre se caracterizaram por sua grande oposição ao ser humano (racional) e aos deuses (espiritual). Os gigantes desempenhavam na natureza primitiva, ainda mal separada do caos primordial, uma oposição aberta à constituição do que os gregos chamaram de cosmos, a natureza visível e a sua ordem. Na própria Bíblia, aliás, encontramos referência a gigantes, quando se diz que certas mulheres teriam se unido a eles; esta passagem é sem dúvida uma reminiscência de mitologias orientais anteriores e particularmente a mesopotâmica. Estas uniões denotam no texto bíblico a perversão (domínio da vida instintiva sobre a racional e a espiritual) crescente dos homens que irá dar causa ao dilúvio para a devida purificação do mundo criado.


Do ponto de vista das crenças populares, atribui-se aos gigantes, principalmente, a formação de montanhas, a autoria de construções megalíticas (dólmens e menhirs) e de grandes muralhas etc. Muitas
MONTE  ATHOS  ( MOSTEIRO  DE  SIMONOPETRA ) , HOJE
dessas montanhas, por exemplo, depois se tornaram sagradas, como é o caso do monte Athos, na Grécia, um antigo gigante, um dos mais ativos na Gigantomaquia. Hoje, o Monte Athos é a montanha sagrada da Igreja Ortodoxa grega. Totalmente interditado às mulheres e aos animais (fêmeas), dede o ano de 1060, o monte Athos também está fechado aos turistas. Só alguns privilegiados, que aleguem razões religiosas e culturais, muito bem fundamentadas, podem visitá-lo e, excepcionalmente, nele se hospedar.


Quanto ao mais, lembremos que o nome cíclope, que designa os
MURALHAS   CICLÓPICAS
gigantes de um só olho no meio da testa, filhos de Urano e Geia, foi parar na arquitetura. Chamam-se kyklopicas, ciclópicas, as construções, principalmente muralhas enormes, levantadas com grandes blocos de pedra, sem argamassa para fixá-las. Um dos melhores exemplos deste tipo de construção está em Micenas, onde encontramos enormes blocos de pedra superpostos, entre 3 e 8 metros de comprimento, que chegam, cada um deles, os maiores, a pesar 800 toneladas


Zeus, sem dúvida nenhuma, é o grande inimigo dos gigantes, símbolos criados pelos seres humanos para representar o seu descontrole, as suas tendências involutivas ou regressivas, a serem vencidas para que seja possível o predomínio do mental sobre o racional e ambos a serviço de uma progressiva espiritualização.

As vitórias de Zeus permitiram que ele tomasse a forma de uma divindade que atuava sobretudo nos planos moral e espiritual, reunindo para isso inúmeros atributos: era todo-poderoso, via tudo, ouvia tudo; estava presente em todos os oráculos onde se
ZEUS   GAMELIOS
procurasse obter as sentenças divinas (Dodona, Olímpia etc.), mesmo em Delfos, tutelado por seu filho Apolo. Soberano e sábio, organizava tudo, inclusive as leis do Destino (Moros) e das suas principais agentes, as Moiras, com os quais confundia a sua vontade. Bom e misericordioso, acessível à piedade, quando punia ou afastava o mal (Alexicacos) pode ser violento. Protegia os fracos, os indigentes, os que se perdiam na vida e, de um modo geral, todos os suplicantes, sendo então chamado de Meilichios. Sua solicitude se estendia também à família, como deus do interior da casa (Ephestios), do casamento (Gamelios), da amizade (Philios), da hospitalidade (Xenios), da ordem social como deus da polis (Polieus), deus das assembleias populares (Agoraios). Zeus era assim o deus protetor de toda a Grécia e de todos os territórios aos quais se estendesse o poder grego. Uma divindade pan-helênica, portanto.


ZEUS   MEILICHIOS
Alguns dos seus atributos foram conquistados, como é o caso, por exemplo, de Meilichios. Este nome designava em antiquíssimos rituais um demônio de natureza ctônica, infernal, de forma dracôntica. Impondo-se, o culto de Zeus incorporou esse lado infernal de Meilichios sob uma forma benéfica, uma espécie de protetor das almas que desciam ao mundo ctônico. Meilichios, como Plutão, era um eufemismo, e tinha o significado de furioso, sedento de sangue (o nome vem de maimakies, furioso).


SANTUÁRIO  DE  DODONA
O mais famoso e antigo santuário de Zeus era o de Dodona, no Épiro, centro religioso antiquíssimo, desde o tempo dos pelasgos, um povo pré-helênico que habitou o que seria mais tarde a Grécia e a Itália. A Dodona acorriam peregrinos de todo o mundo grego e da Ásia Menor para consultar o oráculo, representado por um carvalho sagrado, cujos ruídos e murmúrios de sua  ramagem eram  considerados como palavras do próprio Zeus.

Heródoto nos relata a história da origem deste famoso santuário. Conta ele, segundo ouviu dos seus sacerdotes, que duas pombas negras, partiram de Tebas, no Egito, indo uma em direção da Líbia e outra em direção de Dodona. Esta pousou num majestoso carvalho e se pôs a falar com voz humana, declarando que, ali, naquele local, por desígnio divino, deveria ser ser fundado um oráculo de Zeus. Assim foi feito, ficando a cargo de um colégio sacerdotal, os Sellos (nome dos antigos habitantes de Dodona), então constituído, a interpretação das manifestações do carvalho sagrado.

Os sacerdotes de Dodona praticavam o ascetismo, deitavam-se diretamente sobre o solo, jamais deixando de tocá-lo. Mais tarde, o colégio sacerdotal dos Sellos admitiu a participação feminina, três sacerdotisas que receberam o nome de Peleiades, a serviço da deusa Dione, uma divindade dos pelasgos, segundo Hesíodo uma filha de Oceano e de Tétis, e que junto de Zeus, em Dodona, assumia o papel de sua esposa, no que foi substituída mais tarde por Hera.

CARVALHO  ( ROBUR )
O carvalho, pela sua altura, copa majestosa, protetora, pelo seu destaque dentre todas as demais árvores, sempre foi considerado um símbolo de sabedoria por sua excepcional longevidade (mais de 2.000 anos, segundo a tradição local). As bolotas do carvalho sempre foram utilizadas, desde a mais remota antiguidade, como alimento. Sinônimo de força, o carvalho tinha para o homem da pré-história o mesmo valor que um templo. Os latinos darão a ele, pelo seu aspecto físico, o nome de robur, palavra que lembra dureza, firmeza, usada depois analogicamente para representar a vida moral.

Solidez, potência, longevidade e altura são características que fizeram do carvalho, para os povos mediterrâneos, um símbolo axial, isto é, um centro em torno do qual a vida social se organiza, e que servia, ao mesmo tempo, de comunicação entre a Terra e o Céu. As árvores, inclusive as florestas como um todo, lembremos, foram, além das grutas, os primeiros templos do homem pré-histórico, que atribuía a elas um valor sagrado. É por isso que encontramos, entre os gregos e os celtas, um respeito tão grande pelo carvalho. Esse respeito alcançava outros vegetais (árvores), como, por exemplo, a tília de Afrodite (Tília era o nome da mãe do centauro Kiron e símbolo de terna fidelidade), o loureiro de Apolo, a vinha de Dioniso, a oliveira de Palas Athena etc.

As florestas eram lugares privilegiados de culto, a elas se levando oferendas aos deuses, sendo de se notar que no interior de alguns países europeus e asiáticos, longe dos meios urbanos, ainda encontramos árvores ao pé das quais se depositam ex-votos, indicando-se assim a persistência dessas antigas tradições. Germanos e gauleses, por exemplo, prestavam cultos às árvores acendendo alguns lumes perto delas. O poeta Luciano, do primeiro século de nossa era, nos fala de uma floresta perto de Marselha, totalmente preservada pelos celtas franceses (gauleses), derrubada, em nome do “progresso”, pelos romanos, ainda que temerosos pelo sacrilégio que estavam cometendo.


ÁLAMO
É de se mencionar ainda que no período da revolução francesa de 1789, em memória da tradição gaulesa, o carvalho e o o álamo (peuplier, em francês, do latim populus, povo) foram escolhidos como símbolos da liberdade, da esperança e da continuidade, conquistadas pelo povo. Foram ambas as árvores consideradas como monumentos públicos, protegidos por leis. Os celtas franceses celebravam sob a sombra protetora dos carvalhos não só os seus mais importantes atos político-sociais como ali pronunciavam os seus sermões cívicos.

ARISTÓTELES
Dentre outros importantes santuários de Zeus é preciso destacar o do monte Lyceu, na Arcádia, no cume do qual havia um pequeno outeiro, precedido de duas colunas, nas quais duas águias estavam gravadas. Registre-se que o radical grego lyx (em latim, lux) está na origem da palavra Liceu, nome dado a um ginásio situado fora dos muros de Atenas, perto de um templo de Apolo Lykaios, deus da luz, solar, cuja mãe, Leto, se transformou em loba. Era no Liceu que Aristóteles ministrava os seus cursos.

Lykos, em grego, é tanto lobo quanto luz, sendo Apolo chamado de Lycogenes, o gerado pela loba. Animal que caça no escuro, antes do Sol nascer, o lobo sempre esteve presente em antigos cultos, sendo ao tempo conhecido pela sua voracidade e selvageria (o seu lado infernal) e pelo seu lado fecundo como vencedor as trevas (o seu lado solar). Uma das formas que Zeus tomou em tempos muitos remotos, tempos em que os homens do campo usavam a magia agrícola, foi exatamente a de Lykaios, a ele se fazendo sacrifícios humanos a fim de se pôr fim à seca e a outras catástrofes naturais. Honrado devidamente, Zeus enviava então dos céus as benfazejas chuvas.


ZEUS   E   ÁGUIA

Outro símbolo que tem relação direta com Zeus é a águia. Ave solar, de grande longevidade, voando mais alta que todas, ela simboliza naturalmente a luz (pode olhar o Sol sem baixar os olhos, uma das histórias que sempre se propagaram sobre ela), a conquista, a consciência e o instinto natural de poder. Por seu olhos que tudo percebem, a águia foi usada simbolizar a divindade vigilante, Zeus, o Olho que tudo vê, e a Providência. Com razão, é a ave solar por excelência em todas as civilizações.


ÁGUIA  -  ALQUIMIA
Não é por outra razão que o esoterismo alquímico vê a águia como um símbolo da desmaterialização, da sublimação, da vitória sobras as forças da gravidade. Na tradição ocidental, a águia é também um símbolo do rejuvenescimento, já que ela, segundo consta, costuma expor-se por longo tempo aos raios solares, no pico das montanhas, para depois mergulhar a sua brilhante plumagem, na água pura das nascentes intocadas pelo homem. Esse processo é visto pelos alquimistas como a imagem da iniciação, ao implicar a passagem pelo fogo e pela água. Lembremos, ainda, que pela seu tamanho e características a águia foi escolhida como emblema por poderosos impérios e nações que em  algum momento se acharam como centro da história do homem: Roma, França, Áustria, Alemanha, USA etc. A psicanálise entende que a águia nos sonhos pode simbolizar pensamentos elevados, mas também, segundo o contexto, a vontade de poder e o orgulho devorador, que podem fazer o homem se afastar das suas atividades cotidianas, destruir os seus reais valores e mesmo a sua personalidade. Os gregos, com base em antiga simbologia do mundo indo-ariano, confiaram à águia um outro atributo ígneo, o relâmpago, o que fez dela a ave das divindades supremas.