terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

ÁRIES (2)



AMON-RA
Os egípcios, durante seu período histórico chamado de Novo Império, farão de Amon-Ra seu deus supremo. Este é o período da 18ª dinastia que se caracterizou sobretudo pela organização de um poderoso exército, por inúmeras guerras de conquista e pela extensão das fronteiras egípcias. Foi durante essa dinastia que Amon-Ra (Deus Escondido) assumiu a condição de divindade única, representado por uma figura humana teriomorfa, com cabeça de carneiro, às vezes com disco solar enquadrando-a.
GANSOS EGÍPCIOS
Seu culto se alastrou por todo o Egito, enriquecido por contribuições que vieram do culto de outras divindades. Às vezes Amon-Ra era representado por gansos selvagens. Os romanos, aliás, consagravam o ganso a Marte, a Vênus, a Cupido e ao deus fálico Príapo. A carne de ganso gozava da fama de aumentar o desejo, possuindo virtudes afrodisíacas. 

KNUM
Os egípcios associam também o signo de Áries a um deus poteiro, modelador, Knum, na forma de um carneiro de chifres ondulados, que teria elaborado a criação. Ligado à fecundidade, era representado também por uma figura humana criocéfala e adorado como um carneiro ou bode. Nesta qualidade, ele governava a criação, no ventre de todas as mães, dos nascituros, desde o embrião.

Não podemos esquecer que foi pelo tempo em que  Áries tomou o lugar de primeiro signo zodiacal que Amenóphis IV, sob o nome de Akhnetaon, realizou no Egito uma reforma religiosa tipicamente ariana, instituindo o monoteísmo. Por essa reforma político-religiosa, além do rebaixamento de todo o panteão egípcio e da limitação dos poderes da classe sacerdotal, a única divindade a ser adorada na nova ordem imposta era Aton, simbolizado pelo disco solar. O modelo monoteísta egípcio, bem mais tarde, inspirará  primeiro, o monoteísmo judaico e, depois, as suas dissidências, a cristã e a islâmica. Todas, como se sabe,gregos religiões centradas numa figura divina patriarcal, guerreiras, colonialistas e escravocratas, que ignoram e satanizam o papel da mulher.   

Os hindus, na língua sânscrita, dão o nome de Mesha à constelação de Áries. Aja foi outro nome que lhe deram os antigos védicos, palavra que quer dizer "não nascido". Uma referência ao fato de prevalecer no ariano a vida instintiva. O carneiro, para os hindus, é uma representação cósmica do poder animal e criador do fogo, ao mesmo tempo criador e destruidor, cego e rebelde, caótico e descontrolado, generoso e sublime. Por isso, os hindus chamam o signo de Mesha de Aja, isto é, não nascido. Os tipos arianos, fortemente afetados pela vida instintiva, ausente neles totalmente ou quase a vida racional, são sempre, nesta perspectiva, “um a ser”. 


SURYA
Nos antigos Vedas, o carneiro tem ligação com deus Agni, divindade que, com Surya e Indra (Vayu), forma a trindade de deuses ligados ao fogo. Surya é o Sol, fonte de luz e calor que, na astrologia, toma o nome de Ravi. Indra é o deus do firmamento; suas formas não têm fim; vem num carro dourado puxado por cavalos. Governa a atmosfera, o tempo, manifestando-se através do raio e das chuvas. É uma espécie de operador da energia proporcionada por Surya. 

TANTRISMO
Agni é regente do fogo sacrificial, o elemento ígneo na sua forma mais sagrada. É o fogo terrestre, igual em dignidade aos demais. Está em todas as casas, é protetor dos homens e testemunha das suas ações, sendo invocado em todas as ocasiões. No Yoga tântrico é o manipura chakra (cidade da joia), que corresponde ao elemento fogo, tendo por emblema o carneiro. Foi na forma de um carneiro que o sábio Indra ensinou aos homens a unicidade do Princípio Supremo


KUBERA
O carneiro é também a montaria do deus Kubera, guardião do norte e dos tesouros, uma espécie de Plutão na religião védica. Como tal, é o deus das riquezas subterrâneas, comandando os pequenos seres, os Yakshas e os Guhyakas, demônios que o auxiliam na produção e controle dessas riquezas. Não recebe nenhuma reverência ou adoração.

Entre os gregos, vários mitos convergem para o signo de Áries,   em grego, Kriós (carneiro). Antes, porém, há que se colocar uma questão interessante: em antigos textos, como o poema Sphaira (o mais antigo texto grego que discorre sobre nomes zodiacais), encontramos outra etimologia para Kriós. Esta palavra viria do verbo krino, separar, discriminar, justificado este entendimento pelo fato do signo de Áries marcar com exatidão o limite entre o inverno e a primavera.

Quanto aos mitos gregos, um dos que melhor se relaciona com o signo de Áries, ilustrando-o, é o do velocino de ouro. A história começa com uma catástrofe que se abate sobre a cidade de Orcômeno, na Beócia, na qual está envolvida Ino, a segunda mulher do rei Átamas. Os grãos de trigo, constatou-se, haviam se tornado impróprios para a sementeira. Uma consulta é feita então ao oráculo de Delfos. Os enviados pelo rei, para esse fim, são, na volta, subornados pela rainha; deviam declarar mentirosamente que a catástrofe só seria aliviada com o sacrifício de Frixo (agitação, tremor) e de Hele (nevoeiro matinal), filhos do rei e de sua primeira esposa (Nefele, a nuvem), por ele repudiada.


Zeus, que do alto tudo via, interveio. Enviou um carneiro maravilhoso, voador, de velo de ouro, criado por seu irmão Poseidon, para salvar as crianças.  Quem traz o animal divino até Orcômeno é o deus Hermes, que o orienta no sentido de levar os irmãos à Cólquida (Ásia Menor). No meio da viagem, Hele, tomada por vertigens, cai no mar, morrendo. O local onde caiu Hele, um estreito entre Europa e Ásia, tomou, desde então, o nome de Helesponto (Mar de Hele). 

Chegando à Cólquida, Frixo foi recebido pelo rei Eetes, passando a viver na corte. Eetes era filho do deus Hélio, deus-sol, irmão de Circe e de Pasífae (rainha de Creta), e pai de Medeia, uma família de magos e feiticeiros. O animal divino é sacrificado e o seu velo de ouro, consagrado ao deus Ares, levado para um bosque, é fixado num carvalho. O corpo do animal sacrificado, porém, foi colocado nos céus, entre as constelações , para marcar o início do Zodíaco. 


ARGONAUTAS
(MUSEU THYSSEN-BORNEMISZA
Ligada a esta história de Frixo e de Hele, temos a dos argonautas: 55 heróis gregos que, sob o comando de Jasão, foram à Cólquida se apoderar do velocino de ouro, a pele do maravilhoso animal que fora transformado em constelação. Grandemente auxiliado pela princesa Medeia, que por ele se apaixonou, Jasão, com os seus companheiros, se apoderou do tesouro, matando o dragão que o guardava, trazendo-o para a Grécia.

 Neste mito estão condensadas muitas das principais características do signo de Áries, mais negativa que positivamente. Uma delas é a da “conquista do impossível”, de algo que a razão desaconselha, traço marcadamente ariano. A conquista do velocino de ouro era,
MEDEIA ,  A  FEITICEIRA
PINTURA VITORIANA
com efeito, um empreendimento totalmente desaconselhado pela razão. Pelas dificuldades e obstáculos que cercavam essa conquista, as possibilidades de sucesso eram mínimas. Mesmo assim, com enorme propaganda por todas as cidades gregas, a expedição foi montada. Certamente, se não fosse o auxílio de Medeia, só os elementos psicológicos arianos que desempenhavam um papel tão importante no caráter desses heróis, iniciativa, arrojo, entusiasmo, ardor, impulsividade etc., não bastariam para a garantia da vitória.

O tema se explicita: na expedição comandada por Jasão temos a conquista de um tesouro, guardado por um dragão, ingredientes
JASÃO
típicos do esforço heroico. Mas o que Jasão apenas buscava, como ficou claro quando de seu retorno à Grécia, era apenas uma vitória sob o ponto de vista material que lhe possibilitasse socialmente o acesso a níveis superiores de vida.  A glória que obteve decorreu, é certo, de sua vitória, uma vitória que, afinal, não foi sua, mas de Medeia. Todas as lições que poderia ter aprendido ele não as aproveitou. Com isso, esvaziou de sentido realmente heroico a sua busca.

Jasão acabou por representar um certo tipo de falso idealismo. Ele não entendeu, conforme sua história deixa claro, que não podemos usar quaisquer meios para obter a vitória. Embora a nau Argo pudesse ser vista como um símbolo de aspirações juvenis, de impulsos heroicos, nela, na realidade, no seu sentido mais evidente, não havia nenhuma substância heroica verdadeira, real. No lugar da glória, o que tínhamos era  a vanglória, o convencimento não fundamentado na realidade dos próprios méritos, qualidades ou talentos. No lugar, só bazófia, jactância e vaidade. A nau Argo (branco, cintilante, em grego), símbolo das esperanças dos primeiro
MEDEIA
(A.MUCHA)
anos de vida de jovens guerreiros, torna-se-á ao final um símbolo da ruína da própria vida de Jasão. A história nos fala do entusiasmo da expedição, de uma certa primariedade instintiva, do pioneirismo que Jasão parecia encarnar, da ideia de desbravamento, um projeto rico de promessas. Um elã que, por parte de Jasão, se perverteu. Ele não enfrentou realmente o dragão; foi um filtro mágico  de Medeia que adormeceu o monstro. 

Para o povo grego, a recuperação de tão precioso tesouro, em poder de um povo bárbaro, como foi divulgado pelos governos das cidades envolvidas no projeto, era uma questão de "honra nacional". Nada disto, porém, era  verdadeiro. A motivação para a conquista do velocino de ouro era outra na realidade, ocultava
DELFOS
intenções bem concretas, materiais. Pelo lado de Jasão, se constituía num ato totalmente esvaziado de sentido transcendente. A expedição não passou de uma aventura colonialista. Quem, no mundo grego, orientava e patrocinava politicamente aventuras como esta era o Oráculo de Delfos, o maior centro político-religioso da antiga Grécia, que funcionava também como uma espécie de banco da aristocracia proprietária de terras e rebanhos.      

Do grupo comandado por Jasão faziam parte 55 heróis, todos jovens, a maior parte constituída de renomados e destemidos guerreiros,  destacando-se dentre eles inclusive muitos filhos de deuses como Hércules (acompanhado de seu amante, o belíssimo Hilas) , Castor, Polideuces, Orfeu, Etálides e outros. Não será preciso fazer muito esforço para se notar o quanto a história da conquista do velocino de ouro é semelhante às que as potências ocidentais nos tempos modernos inventaram e continuam a inventar até hoje, quando invadem um país, para ocultar a sua real motivação colonialista e espoliadora. 

Além disso, é preciso salientar que Jasão, a rigor, não pode ser considerado  um verdadeiro herói, pois não enfrentou o dragão para se apoderar do tesouro. Foi só com o imprescindível auxílio de Medeia que ele conseguiu superar vários obstáculos e matar o monstro, apoderando-se do tesouro. Se quisermos interpretar o que aqui se diz, deslocando o foco para a nossa interioridade,   Jasão não enfrentou o “seu” dragão interior, a maior façanha de um verdadeiro herói.

Monstros, nos mitos, simbolicamente, são agentes provocadores do esforço heroico; exigem, quando enfrentados, habilidade, controle do medo, preparação adequada, maestria no domínio da ação. A Psicologia, buscando-os nos mitos, fez dos monstros símbolos da predominância no ser humano das forças instintivas ou irracionais que têm de ser sacrificadas em nome de uma vida superior, racional ou espiritual. Nesse sentido, são os monstros aspectos doentios do psiquismo humano, resistentes, quando não se opondo abertamente, às nossas tentativas de transformação de caráter evolutivo.  Aquele que no mito subjuga estas forças instintivas, irracionais, orientado-as superiormente, é, como se disse, o herói, o fundador, o cavaleiro, o santo, o peregrino, o viajante, o navegante. As forças liberadas por ele poderão assim ser colocadas a serviço de uma elevação, de uma transcendência, ou, na pior das hipóteses, de uma sublimação.


JASÃO  ENVENENA  O  DRAGÃO ( SALVADOR  ROSA ) 

Os monstros, trazendo a questão bem mais para perto de nós, como criaturas produzidas por nossa imaginação, são imortais; morrem e renascem sempre, pois vivem como símbolos e são encontrados em todas as civilizações e culturas. A presença dos monstros na imaginação humana é sempre enigmática, tem um forte caráter  de imprevisibilidade, como a literatura e a arte nos demonstram ao longo dos milênios, em antigos textos, esculturas, tapeçarias, gravuras, na heráldica e, mais modernamente, nas várias expressões da comunicação de massas. Adormecidos ou ignorados às vezes por muito tempo, acomodados na escuridão do nosso psiquismo, podem os monstros nos atacar sem nenhum aviso, causando-nos muito sofrimento, fabricando as nossas doenças, quando não, mais drasticamente, acelerando a nossa passagem para o Outro Lado. 



MORTE   DE   GLAUCE

Depois de algum tempo de vida em comum com Medeia, com ela tendo filhos, Jasão, então famoso e vaidoso, a abandonou para se casar com Creusa ou Glauce, filha do rei. Medeia simulou conformar-se. Entretanto, tomada pelo ódio, agiu, disparando seus malefícios. Enviou como presentes de noivado a Glauce um manto, um diadema e um colar. Ao usá-los, lindíssimos que eram, a princesa virou uma tocha humana. O pai morreu carbonizado ao socorrê-la. O palácio onde viviam a princesa e o pai virou cinzas rapidamente. E como se tudo isto não lhe bastasse, Medeia matou os dois filhos que tivera com Jasão. Por fim, gloriosamente, subiu num veículo alado, presente do deus Hélio, seu grande ancestral, e desapareceu nos ares.


MEDEIA  ( CARLE  VAN  LOO )

Numa das versões do mito, consta que Jasão, depois da morte de Glauce, do seu pai e dos filhos, teria permanecido em Corinto, levando uma vida de vagabundo de praia, desmoralizado, sem nenhuma força e determinação. Acabou morrendo  quando descansava sob os restos da nau Argo que tanta renome e poder lhe trouxera. Uma prancha, desprendendo-se de um mastro da nau, que apodrecia na praia, encalhada na areia, atingiu-o na cabeça, matando-o.

APOLÔNIO  DE  RODES
A história dos argonautas é muito antiga, provavelmente anterior à de Ulisses e à da guerra de Troia e foi preservada devido a Apolônio de Rodes. Historicamente, sua origem se liga certamente às expedições que os gregos aqueus montaram para estabelecer colônias na Ásia Menor, nos territórios da Cólquida. Nesse lugar, foram descobertas, à época, minas de ouro, simbolizadas, aqui na história de Jasão, pelo Velocino de Ouro. A aventura, no seu todo, tem semelhanças com as de Hércules e alguns episódios são comuns à Odisseia (Circe, as Sereias). O drama de Jasão-Medeia lembra um pouco ou muito o de Teseu-Ariadne. O título do poema de Apolônio de Rodes, Argonáuticas, nos remete a uma ideia coletiva e não à vida de um personagem. 

O nome Argo, numa outra etimologia admitida, vem da palavra grega ágil. Barco mais rápido que ele nunca mais poderia ser construído. A deusa Palas Athena teria assumido pessoalmente a orientação da sua construção, chegando até a indicar de onde deveria ser retirada  a madeira para a sua proa, proveniente de um bosque de um santuário de Zeus. Esta madeira era falante e anunciava ao piloto do barco o que estava à frente. Mencione-se também a tripulação do barco. Nunca mais se reuniriam tantos e tão importantes personagens: Argos, Orfeu, os Dióscuros, Peleu, o pai de Aquiles, Meléagro, Laerte, o pai de Ulisses, Hércules, Ergino, filho de Poseidon, Etálides, filho do deus Hermes, Admeto, Acasto, etc. 

O tema dos argonautas se opõe num certo sentido ao da Odisseia. Nesta, temos um herói centralizando tudo, Ulisses. No outro poema, o tema do coletivo acaba se imponto e, mais ainda (para os tipicamente arianos), a ideia de que, apesar de tudo, vale a pena tentar realizar sonhos que a razão muitas vezes julga impossíveis, válidos todos os recursos para tanto, segundo a velha máxima do signo de Áries, a de que todos os meios são bons, desde que eficazes. A história do velocino de ouro caracteriza arquetipicamente a perversão dos impulsos heroicos. Magia e encantamento no lugar de uma vitória real. Os mitos arianos, lembremos, aparecem em várias outras civilizações da era de Áries, entre astecas, gauleses, védicos, romanos etc. Num plano histórico,  fica confirmada por ele a vocação imperialista grega pela expansão da civilização aqueia pelo Mediterrâneo, principalmente pelas suas maiores aventuras guerreiras, a destruição de duas grandes civilizações, a cretense e a troiana.


FULCANELLI
Lembremos que a Alquimia, numa brilhante análise de Fulcanelli (O Mistério das Catedrais), se apoderou simbolicamente deste tema do Velocino de Ouro como uma ilustração do início da Grande Obra, a saída da vida inconsciente, do domínio da vida instintiva (nigredo). para níveis superiores da existência. Algo semelhante à expedição de Jasão, quanto à sua motivação, com características arianas muito parecidas, reaparece, por exemplo, na Idade Média, quando o duque de Borgonha criou uma ordem da cavalaria, a serviço do mercado religioso católico, sob o nome de Velocino de Ouro, com o objetivo de libertar Jerusalém em poder dos infiéis muçulmanos.

Dentre todos os heróis gregos, fortemente impregnados de características arianas, não podemos deixar de lembrar do mais
AQUILES
famoso deles, Aquiles. Sua história é exemplar quando a associamos ao signo de Áries. Alongarmo-nos um pouco mais nela, acredito, será útil para um maior entendimento dos elementos do signo. O nome Aquiles em grego lembra dor, aflição (ákhos). A esse nome também podemos associar o que antigos chamavam de menis, o ódio, a raiva, a ira, principalmente o ódio que acumulado pode tomar uma forma furiosa. Dentre todos os personagens da Mitologia grega o mais famoso dos "enraivecidos" é, sem dúvida, Aquiles, o maior dos guerreiros. Homero, aliás, fala numa certa passagem de A Íliada desse menis, chamando-o de funesto, pois acabará provocando a perdição do famoso herói.